Bagunça Rumo a 2019

VINTE E CINCO

Começo a estranhar a fixação por parte de alguns interventores da praça na pessoa de Emanuel Câmara. Digo fixação para não dizer perseguição. Parece moda: já com Paulo Cafôfo andam a pegar todos os dias, chegando ao exagero de dizer que o Xerife dos Mossos percebe de árvores.

Mas o que é que motiva os assanhados detractores a morder a canela aos dois regedores?

Nem mais: o facto de haver movimentação contra Carlos Pereira nas internas do PS-M. Tão simples quanto isso.

Não sendo advogado de defesa de ninguém, entendo que seria conveniente a massa crítica socialista despir o conservadorismo de 40 anos e enquadrar-se no novo cenário, aliás originalíssimo. O próprio Carlos Pereira, pese o capital de experiência somado em Lisboa, insiste em desafiar ambas as personagens para um debate no qual sejam discutidos publicamente os projectos para o partido. Pergunto: no fundo, que tem Cafôfo a ver com as eleições no PS, uma vez que nem militante é? E que tem Emanuel Câmara a ver com as eleições no PS-M, quando se limitou a dar o nome e a emprestar o seu cartão de militante para viabilizar um candidato PS às regionais de 2019?

Ainda ontem, mais uma vez apertado pelos pressurosos jornalistas, Emanuel fez uma arengada para justificar a sua nega aos debates, chegando ao ponto de invocar o seu passado de árbitro para ameaçar com cartões vermelhos. Ninguém percebeu nada do que ele arengou sobre os debates, mas com um pouco de boa vontade pode fazer-se a interpretação habitual da arengada: "Que tenho eu a ver com as eleições internas do PS?"

Posição aceitável. Só porque promete um candidato para 2019, o ex-homem de preto precisa de debates? "O tempo não é para um frente-a-frente entre candidatos, mas para ouvir militantes e simpatizantes", tem dito Emanuel. E bem dito. Então o candidato - já que insistem no termo - é que vai apresentar ideias para o partido e debatê-las na televisão?! Nos tempos de hoje?! Homessa! Os militantes e os simpatizantes é que têm de se preparar e pronunciar diante do candidato ouvidor. Trabalhem, malandros!

Está certo que a situação é tão exótica, bizarra e curiosa que em nenhuma parte do mundo alguém a compreenderia. Como se tem visto nas televisões, dos USA à Catalunha, passando pelo Laranjal da Espanha Ocidental. Mas estamos a falar de uma terra que se acostumou durante 40 anos "a virar frangos" em circunstâncias as mais estapafúrdias. Tratando-se agora e aqui de mais um episódio mexicano, acham bonito chamar candidato a um candidato só porque ele é, quando muito, meio candidato? Mais depressa se admitiria chamar candidato ao outro, Cafôfo, já que, na boca dos más-línguas, ele é candidato e meio: 'meio' no dia 19 e 'um' em 2019.

Lembrei-me desta achega favorável à Bagunça num dia em que, no plano panfletário regional, se respiram tréguas no chorrilho das habituais manchetes a branquear a arguição de Cafôfo no caso das 13 mortes do Monte e um cessar-fogo também na campanha ILB - Imposto Lava Branco -, sem os habituais suplementos pagos 'Pelas Pessoas'.

É também um dia em que a decadente vaga Cafôfo sobe às parangonas no outro lado da Fernão de Ornelas, no garrafal e arrepiante anúncio de que o futuro PS reeditará os 'estados gerais' que António Guterres, nos seus bons tempos de 1995 cheios de 'razão e coração', lançou com um sucesso tão grande que o levaram a governar até deixar o País de tanga. 

Cafôfo e Emanuel também apostam nos seus 'estados gerais', presumo que a decorrer nas instalações do laboratório de ideias de Victor Freitas, para se catapultarem às alturas das Angústias. 

Vemos naquela notícia uma resposta de Emanuel aos que andam sempre a puxá-lo para o baralho, com a história dos debates. Ele pretende mostrar que tem mais que fazer do que essas baboseiras na TV. Se bem conhecemos o perfeccionismo do edil nortenho, ele andará ocupando o tempo nos bucólicos batatais e couvedos das Achadas a ensaiar Vangelis, música escolhida para os 'estados gerais' domésticos por dois motivos: para estribar o projecto no sucesso 'Guterres e sua tanga' e porque Paulo Cafôfo desafina menos a cantar de boca fechada. 

Deixem os homens trabalhar. Deixem seguir a Bagunça Rumo a 2019, na companhia de Vangelis, 'À Conquista do Paraíso'. 

PS - Se a reacção impuser as suas ideias, obrigando mesmo à realização de um debate, propomos uma primeira eliminatória entre Emanuel e Cafôfo. Aquele que perder vai à final apanhar a sova do Carlos.