A Gaiola das Malucas

Gil Canha

As afirmações do novo secretário regional do Mar, Teófilo Cunha, a propósito da aquacultura em gaiolas, fizeram-me lembrar um filme cómico, produzido em 1978 pelo realizador Edouard Molinaro, intitulado “A Gaiola das Malucas” (La Cage aux foles).

O filme conta a história burlesca dum casal Homossexual que é dono de um cabaré de travestis, em Saint-Tropez. Um dia, um filho dum deles anuncia que vai casar com uma jovem cujo pai é um importante político ultraconservador que faz questão de conhecer os pais do noivo. Para não estragar a felicidade do rapaz, os donos aceitam transformar o cabaré e residência anexa numa austera casa de família puritana, onde perdura a virtude e a castidade. E claro, para manter o embuste até ao fim, inventam a mais inverosímil argumentação.

Quando o senhor Secretário diz que a Noruega e a Grécia têm grandes infraestruturas de aquacultura no mar e que a Madeira também pode ter, esconde um facto muito importante: é que a Grécia e a Noruega têm milhares e milhares de quilómetros de costa, e não lhes faz falta alguma sacrificar algumas baías ou fiordes para encaixar as ditas gaiolas de piscicultura. No caso da Madeira, a nossa orla costeira é tão pequena, tão exígua, que só nos resta um pequeno segmento costeiro para instalarmos esses “galinheiros” de peixe, pois têm que ser locais minimamente abrigados e com boas acessibilidades. Ora, os locais mais calmos da nossa ilha, são precisamente as zonas onde existem mais estabelecimentos hoteleiros, mais atividades marítimo-turísticas e onde melhor se usufrui a paisagem oceânica.

Se os principais recursos naturais da nossa ilha são o turismo, a natureza e as nossas belas paisagens, não percebo nesta simples equação onde é que o senhor secretário quer meter as “suas” gaiolas e a “sua” poderosa indústria de peixe. Se o senhor acha que a fruição de vistas é uma coisa de somenos importância, e que até joga bem com as suas “jaulas”, então pergunte se algum turista gosta de apreciar o pôr-do-sol e ver o astro-rei a desaparecer por detrás dos “seus galinheiros” de peixe. Se na Côte d'Azur, na costa Amalfitana, em Corfu, nas Bahamas, ou em frente à ilha de Nikonos, na Grécia, os governos autorizam os empresários a instalar aquacultura. Pergunte!

Mas atenção, não o quero ofender quando digo que existem semelhanças entre a sua argumentação piscícola e o embuste criado pelo casal de travestis para enganar os pais da noiva, no referido filme, não estou de maneira nenhuma a insinuar nada de grave. Estou somente a dizer que há gente que inventa os argumentos mais engenhosos e estapafúrdios para vender o seu “peixe” e camuflar as suas intenções, como é este o caso. 

Mesmo que alguma mente malévola ache que estou a meter o CDS/Madeira nisto, desengane-se. Aliás, como expus no início, o casal de travestis do filme transformou o bordel homossexual numa respeitável casa de família, com oratório e tudo. Ora, com o CDS é precisamente ao contrário. Transformaram um partido recatado, ligado à democracia cristã e aos princípios sagrados da família, da moral e dos bons costumes, num verdadeiro bordel espanhol, onde vale tudo: desde a chantagem, promiscuidade com cão e gato, decadência cívica e moral, até à corrupção de princípios e prostituição com os poderosos.  

 Nestas coisas convém esclarecer bem as coisas para não haver dúvidas nem más interpretações.