'ESPELHOS SEM AÇO' IMPEDEM-NOS DE VER O FUNCHAL DE FORA PARA DENTRO
O nosso 'espelho sem aço' não é o incrível aterro que sua excelência teimou em deixar ali a conspurcar o calhau do Funchal só para não dar o braço a torcer a uns quantos bordas de água metidos a importantões. O nosso 'espelho sem aço' é uma vedação de arame aos quadradinhos bem feitos que nos aborrece a vista quando queremos ver-nos a nós próprios, isto é, quando precisamos de arejar e ver o Funchal de fora para dentro. Puseram essa vedação na Pontinha e, quando os americanos autorizam que entremos no molhe, sentimo-nos prisioneiros aguardando embarque para um exílio qualquer nas costas de África, como antigamente era costume.
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(Imagem Google) |
Não sei se os Amigos, pelos menos os da Madeira, se lembram de quando se pegava em 15 tostões para fazer a travessia Cais-Pontinha na 'Santa Lúcia' ou noutra lancha das que, além dessa ligação, transportavam gente dos paquetes para terra e vice-versa. Gastava esse dinheiro quem não queria dar a volta 'a butes' pela Estrada da Pontinha e palmilhar o molhe todo até ao fim. Uma vez à cabeça da muralha, como diziam estivadores e braçais, abria-se o ecran panorâmico para vermos a cidade onde passávamos a vida. Alguns até aproveitavam para deitar o anzol, a ver como estavam de sorte.
As leis internacionais mudaram por causa desses 11 de Setembro. Ir à muralha em dia de 'Aida' ou 'Independence of the Seas' é uma trabalheira. Mas, neste domingo à tarde, com a Pontinha 'limpa'... que tal desfrutar do panorama do Funchal de fora para dentro? E lá fomos nós.
Os tempos mudaram. A Pontinha parece um filme de terror. A tal vedação de arame, como se nota na imagem abaixo, a fazer lembrar um campo de concentração. A gente fica com saudades de casa e apetece fugir, antes que algum agente da CIA nos impeça de regressa à nossa cidade.
Eles explicam procedimentos, mas... quem será o pessoal autorizado a passar-nos 'revista' e a fazer um 'controlo pessoal'? Além da revista, um controlo pessoal?! Ei!...
Será que algum objecto equívoco nos bolsos dá direito a uns meses na penitenciária que percorre a Pontinha de extremo a extremo?
É aquilo a que pode estar sujeito alguém interessado em tirar o retrato à Quinta das Angústias, lá ao fundo, ao lado do Casino. Confundem-nos com um maçónico e lá vamos nós.
Ver a paisagem, nem pensar. Não há fuga possível. Os acessos estão todos tapados, seja para onde for, mesmo aqueles que outrora nos deixavam ver os tetrápodes de trás da muralha e apreciar o Funchal mais do alto, do mar para terra.
Para maior azar, o príncipe Renato arranjou para ali um mare-magnum, no Ilhéu onde está o Forte de São José, território independente, que o interessado em desopilar um pouco só encontra chapas e correntes a vedar as subidas e nem se consegue ir acima ver que diacho de boneco é aquele que puseram no miradouro do alto.
Poucas hipóteses nos restam para uma visão global da capital madeirense, numa perspectiva mar-terra. Viajar no 'Lobo Marinho' para o Porto Santo resolve, embora mal chege para fazer meia dúzia de fotografias. Ir de avião a Barcelona e regressar pela baía dentro a bordo de um recreio ainda deve ser a melhor saída.
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