domingo, 6 de maio de 2012

Delícias da Madeira Nova

'ESPELHOS SEM AÇO' IMPEDEM-NOS DE VER O FUNCHAL DE FORA PARA DENTRO


O nosso 'espelho sem aço' não é o incrível aterro que sua excelência teimou em deixar ali a conspurcar o calhau do Funchal só para não dar o braço a torcer a uns quantos bordas de água metidos a importantões. O nosso 'espelho sem aço' é uma vedação de arame aos quadradinhos bem feitos que nos aborrece a vista quando queremos ver-nos a nós próprios, isto é, quando precisamos de arejar e ver o Funchal de fora para dentro. Puseram essa vedação na Pontinha e, quando os americanos autorizam que entremos no molhe, sentimo-nos prisioneiros aguardando embarque para um exílio qualquer nas costas de África, como antigamente era costume.

(Imagem Google)

Não sei se os Amigos, pelos menos os da Madeira, se lembram de quando se pegava em 15 tostões para fazer a travessia Cais-Pontinha na 'Santa Lúcia' ou noutra lancha das que, além dessa ligação, transportavam gente dos paquetes para terra e vice-versa. Gastava esse dinheiro quem não queria dar a volta 'a butes' pela Estrada da Pontinha e palmilhar o molhe todo até ao fim. Uma vez à cabeça da muralha, como diziam estivadores e braçais, abria-se o ecran panorâmico para vermos a cidade onde passávamos a vida. Alguns até aproveitavam para deitar o anzol, a ver como estavam de sorte.

As leis internacionais mudaram por causa desses 11 de Setembro. Ir à muralha em dia de 'Aida' ou 'Independence of the Seas' é uma trabalheira. Mas, neste domingo à tarde, com a Pontinha 'limpa'... que tal desfrutar do panorama do Funchal de fora para dentro? E lá fomos nós.



Os tempos mudaram. A Pontinha parece um filme de terror. A tal vedação de arame, como se nota na imagem abaixo, a fazer lembrar um campo de concentração. A gente fica com saudades de casa e apetece fugir, antes que algum agente da CIA nos impeça de regressa à nossa cidade.






Eles explicam procedimentos, mas... quem será o pessoal autorizado a passar-nos 'revista' e a fazer um 'controlo pessoal'? Além da revista, um controlo pessoal?! Ei!...





Será que algum objecto equívoco nos bolsos dá direito a uns meses na penitenciária que percorre a Pontinha de extremo a extremo?






É aquilo a que pode estar sujeito alguém interessado em tirar o retrato à Quinta das Angústias, lá ao fundo, ao lado do Casino. Confundem-nos com um maçónico e lá vamos nós.







Ver a paisagem, nem pensar. Não há fuga possível. Os acessos estão todos tapados, seja para onde for, mesmo aqueles que outrora nos deixavam ver os tetrápodes de trás da muralha e apreciar o Funchal mais do alto, do mar para terra.






Para maior azar, o príncipe Renato arranjou para ali um mare-magnum, no Ilhéu onde está o Forte de São José, território independente, que o interessado em desopilar um pouco só encontra chapas e correntes a vedar as subidas e nem se consegue ir acima ver que diacho de boneco é aquele que puseram no miradouro do alto.





Poucas hipóteses nos restam para uma visão global da capital madeirense, numa perspectiva mar-terra. Viajar no 'Lobo Marinho' para o Porto Santo resolve, embora mal chege para fazer meia dúzia de fotografias. Ir de avião a Barcelona e regressar pela baía dentro a bordo de um recreio ainda deve ser a melhor saída.

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