TORNA-SE CADA VEZ MAIS DIFÍCIL COMBATER A INTRIGA
Depois de severamente repreendido por pessoas que nos merecem respeito, apesar de algumas professarem ideias muito próximas do Grande Oriente Lusitano, descemos à baixa do Funchal na manhã desta quarta-feira disposto a encarar a realidade regional com bofes menos azedos e até com algum optimismo, se a evolução dos acontecimentos o permitisse.
Os propósitos não se aguentaram em ringue mais do que três assaltos, apesar da boa vontade. Na verdade, o veneno social propaga-se tão abundantemente pelos centros de cavaqueira pejados de gente anti-Região que, um quarto de hora depois da primeira bandarilhada, retirámos dissimuladamente a caminho do salvador aterro.
Tabaibos e jogo-do-bicho
Juntou-se uma cruel assembleia de maldizentes em que se destacavam designadamente o ex-bancário ressabiado; aquele intruso que vendia tabaibos à roda do mercado e agora funciona como assistente de segurança de um executivo regional; o contabilista sem trabalho; um empresário que começou a enriquecer com a sua banca de jogo-do-bicho e julga que já ninguém se lembra disso; o funcionário público mais assíduo no café; e mais uns tantos que o melhor é nem referir, para não espantar a caça, como diz o outro.
Em síntese, todos estavam de acordo na condenação da secretária do Turismo, por causa de uma simples viagem ao Reino Unido que, garantiu quem lançou o tema, se programou para 11 dias. A crítica recuou manhosamente ao passado dia 4, para reforçar a condenação então alinhavada por unanimidade no Funchal contra Conceição Estudante. Porque a mulher não compareceu à importante IV Conferência Anual do Turismo, da iniciativa da Ordem dos Economistas. O governo, em vez de obrigar a senhora governante a elaborar um programa que lhe permitisse ir à sala de congressos do Casino aprender turismo com quem sabe - acicatavam esta manhã no café - fez-se representar pelo director regional da Cultura, que tem mais que faça no seu trabalho do que estar a tapar buracos e a disfarçar derrapanços da agenda executiva.
A senhora teve receio de ser confrontada com perguntas sobre o estado do turismo regional que lhe escapassem, dizia um. Ora nenhum governante tem de ser enciclopédico - arriscámos nós, apanhando logo com o rótulo de acomodado e subserviente ao poder.
Cultura e agricultura
Quando houver uma conferência cultural, o governo se calhar manda lá o director regional da Agricultura, para falar da doença na semilha - carregou certo leva-e-traz da praça.
Quase conseguiam saber os endiabrados linguarudos quantas espetadas e copos de vinho haviam preenchido a mesa do banquete de Londres em honra da secretária, tudo pago com os nossos dinheiros, em cotejo com a miséria que obriga o povo madeirense a perigosos atropelos dentro das unidades Pingo Doce em dia de promoção a 50%.
"É gozar com o Zé, pegar em viagens e ajudas de custo para passear enquanto nós ficamos aqui a contar os cêntimos para o almoço", vomitou também um circunstante que batia palmas ao PPD e tocava bombo no Chão da Lagoa antes de o filho ter sido afastado do pelouro autárquico. Ao que outro acrescentou: os delegados das comunidades que recebem os governantes da Madeira nas comunidades, todos escolhidos pelo Jardim, têm direito a carro e chaufer do governo quando vêm cá! E nós a pagarmos!
Outro: será que, em meio desta crise, haverá secretários a viajar 'à balda' para o 1.º de Julho por esse mundo fora? Não me admiraria. O 'outro' deve andar em Bruxelas, por essa altura...
É gastar à vontade, que o povo paga! - dispara outro conviva.
Rali em perigo
Mas não há rali? - perguntam.
Resposta: Ouvi dizer que está em dúvida. Até pode haver só com automobilistas regionais, muito para o baratinho. E não será com arranque à quinta-feira, como de costume. Será na sexta, aquelas corridas na Avenida.
- E quando será isso?
- Fácil: num fim-de-semana que não bata com a festa do PSD na Herdade.
- É preciso fugir de outra data.
- ?
- O 30 de Junho... A festa de anos do João.
Maçonaria, golfe e golfaria
E o dinheiro que se gasta estes dias com o golfe? - lançam novo tema para a mesa - Só o 'prize-money', ou lá como se diz, é de 675 mil euros!
Alguém trata de arrefecer os ânimos, alegando a importância de a Madeira estar metida no circuito de golfe profissional na Europa. Mas não consegue. O que dizem - ouvimos a um eterno mal disposto - é que insistiram em organizar essa coisa, que só serve para gastar dinheiro, e aliás quando os empregados do Clube do Santo não são aumentados não sei há que anos, só para o filho de um figurão daqueles fazer pontos que lhe permitam entrar no tal circuito profissional!
Com esse dinheiro do 'prize' eu enchia as levadas durante um ano com turistas alemães e ingleses a dançar pelos roteiros da laurissilva! - brada um guia de montanha solenemente 'chateado' com o que ouvia.
- Mas como é isso? Gasta-se um balúrdio desses só para um...
- Homem, não sabes o que a 'maçonaria' nos anda a fazer? - pergunta um 'chato' que não arreda pé enquanto houver parceiro para trocar palpites - Pois agora vê se acreditas também na troca de influências à volta da 'golfaria'!
Evidentemente que fugimos discretamente daquele antro da má-língua. Durante uma hora, ficámos no aterro a ver pescar um sujeito ferrado no sono. Deu para refrescar ideias, mas não para recuperar totalmente do inglório esforço para deitar fora o azedume dos bofes.
A ver se amanhã acordamos com outra disposição e depois não nos envenenam outra vez.
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