Golden vedação

Dia da Região sem foguetório nem fanfarra,

mas com os mesmos regedores 

e cabos da freguesia

Dirigi-me hoje à baixa do Funchal, para sentir e ajuizar a comemoração do Dia da Região na era Blue Establishment. 

Como no ano passado, nada digno de registo, à imagem da pegajosa sensaboria da Madeira pós-Nova, nem carne nem peixe. O cenário das forças em parada, em cima do aterro/Cais 8, mau grado a presença bem civil de chefe Albuquerque, não atraiu povo à praça. 

Então, em busca de motivo digno de fio condutor a um apanhado de circunstância, depara-se-me José Manuel Coelho a montar o seu número da prisioneira por delito de opinião, em cena vai para algum tempo, conforme reparavam os pingados mirones frente à Assembleia Legislativa. 

Na zona do costume, o cenário habitual.

Mais abaixo, Mário Gouveia, o nosso Màrinho da TVI, preparava um directo com Miguel de Sousa, aposto que para falar da Autonomia perdida e da Lei Miguel de Sousa que chegou a pairar sobre o CINM. Como a Tabanca, causas que já morreram, embora continuem mal enterradas, como dizia o outro.

Tudo sob o olhar bem disposto de Fafá, a mocinha brasileira que vem ao Chão da Herdade irradiar frescura, com o seu reconhecido prestígio que vai ao ponto de mandar o mítico Galáxia para baixo do cartaz.

No lugar do costume, a autoridade do Turismo embandeirada simbolizava os cuidados com todas as actividades que de algum modo possam implicar com o melindre do sector. Como veremos já, pois...

...Pois então, lá estão eles a ultimar as coisas para a sonhada reabertura do Golden Gate.

À falta de melhor programa na cidade em Dia da Região, os preparativos da simples inauguração concitam as atenções da reportagem. Para encher. Mas a verdade é que os transeuntes, sobretudo os mais velhos, já 'engatavam' com o monumental projecto. É que as movimentações em cima da calçada no cruzamento da Arriaga com a Zarco, se tornavam mais intrigantes minuto a minuto.

Desde logo, pelo espaço da parte da esplanada que desce a Zarco, agora muito menos acanhado que no tempo de uma só fiada de mesas rente à parede. Claro que a 'faixa de rodagem' de peões fica mais acanhada, mas é coisa de vasos comunicantes. Lá se vai meia avenida!

Sobretudo, concitava atenções a cerca montada à volta do terreno conquistado pelo Golden à calçada portuguesa do povo ("É tudo deles", disseram várias velhotas de passagem). Uma cerca feita de floreiras a brilhar de verde - do metal e da planta serrana. Ficará essa vedação ali ou será só para a inauguração de mais logo? Um dia amanheceremos com a estátua de Zarco dentro da cerca?

O gerente orientava os trabalhos, dizendo: "Não gosto destas aberturas assim!" Toca a meter mais floreiras e mesas para estreitar as passagens. O que não joga muito com a informação que lemos praí anunciando a livre participação do povo na cerimónia de inauguração.

Parecendo ouvir as nossas angústias, surge um homem com uma ponta da meada na mão.

Atrás dele e da ponta da meada, vem a própria meada, esticando corda a toda a volta da cerca, entrando no rabo da agulha das hastes metálicas devidamente encaixadas nas floreiras. 

Vinda da Arriaga, lá vai corda pela Zarco abaixo!

De repente, lembrei-me do ruído público quando da sorrateira jogada do Ritz para 'papar' placa na Manuel Arriaga. Dei um pulinho para rever aquilo. Afinal, tudo continua a ser relativo. É falso que alguém esteja a pensar nos funchalenses de alto a baixo.

Logo à tarde, volto ao local do crime. Pode ser que corra uma coralzinha por conta do Dionísio.

 Depois, daqui em diante, uma vez removidas cordas e cercas - se o forem - volta tudo ao ram-ram do funchalense. Julgava que teria saudades do foguetório de outros Dias da Região, afinal não.