ATÉ ARREPIA!

Gil Canha

A recente tragédia numa pedreira no Funchal que vitimou lamentavelmente um pai de família, levanta uma série de questões que convém aqui deslindar: 

Alguém que me explique o que fazia uma pesadíssima máquina acocorada naquele tenebroso alcantil? Se estava a extrair pedra naquela cota (muito acima do leito da Ribeira de Santa Luzia), conclui-se que o basalto vale muito dinheiro, que até obriga um pobre pai de família a trabalhar naquelas arriscadas condições.

E este ponto, levanta outra interrogação, porque razão existem empresas extrativas que têm que expor os seus trabalhadores a situações de alto-risco, “esgravatando” pedra escarpa acima, com enormes custos de energia, transportes e mão de obra, enquanto existem empresas de obras públicas que surripiam todos os dias toneladas e toneladas de pedra limpinha pelas nossas ribeiras adentro, planinho, sem pagar um único tostão à região e a custo quase zero? E o mais caricato, é ver na televisão os senhores governantes a dizerem que essas empresas que “limpam” as ribeiras dos seus inertes estão a fazer um grande favor à ilha, quando por detrás da cortina, movimentam um negócio super-milionário à custa da pseudo segurança das populações. 

O mundo de fato é triste, enquanto uns têm todos os privilégios concedidos por governantes corruptos que lhes facilitam os negócios, outros têm que extrair rocha de sangue em verdadeiros despenhadeiros abica-burros, expondo os seus trabalhadores a situações que nem os participantes das provas da Red Bull se aventuravam. 

A perda desta vida, além de lamentável, não foi totalmente em vão, pois demonstra de uma forma irrefutável que a tal pedra que todos os dias vemos a ser roubada das nossas ribeiras é efetivamente um recurso valiosíssimo e que tem enchido de uma forma pornográfica os bolsos do lóbi do betão.