ESTÓRIAS
JUVENAL XAVIER
A GUERRA DO FUTEBOL
A curta viagem para o México custou uma guerra às Honduras e a El Salvador. Em 1969, a paixão latina pelo futebol trocou a bola pelas balas, quando a seleção salvadorenha (a pera doce) derrotou os vizinhos hondurenhos, por 3-2, num jogo de desempate para a qualificação do Mundial de 1970. Na final, Brasil 4 Itália 1, no Estádio Asteca, perante 107.000 espetadores. “Tri” para o escrete canarinho de Pelé, Tostão e Rivellino, no auge da ditadura militar (1964/1985) que derrubou João Goulart (Jango), democraticamente eleito.
José Esteves (O Desporto e as Estruturas Sociais) relata a Guerra do Futebol: “Houve zaragatas, várias mortes, muitos feridos. Uma semana depois, foi o corte de relações entre os dois países. As Honduras expulsou uns cem mil camponeses salvadorenhos, que ali trabalhavam, desde sempre, nas colheitas; e em resposta, os tanques de São Salvador atravessaram as fronteiras. A guerra durou 4 semanas e fez quatro mil mortos. As guerras, pois, a desportiva e a militar. Ambas com o mesmo sinal de referência, o ódio que leva à morte, no mínimo simbólica, a desportiva, a do adversário-inimigo-a-liquidar”
Esta Guerra do Futebol, na análise de Desmond Morris (A Tribo do Futebol), “constitui o exemplo clássico da des-ritualização e do regresso às raízes primitivas do grande ritual simbólico do jogo. É verdade que, neste caso, as relações entre os dois países já eram más, mas o facto de um simples jogo de futebol conter um significado tal que seja capaz de funcionar como detonador de uma guerra em larga escala sublinha o poder do desporto e o modo como ele domina os espíritos dos que o seguem tão avidamente, por vezes até à morte”.
O conflito (A Guerra das 100 horas) foi sanado graças à intervenção da Organização dos Estados Americanos (OEA). Depois do cessar-fogo, a 18 de julho de 1969, o acordo de paz foi assinado a 4 de Junho de 1970. O Mundial ia já no seu sexto dia.
Vivíamos, então, o tempo longo das ditaduras do “Cone Sul” (Argentina, Chile e Uruguai) e do terrorismo de Estado culpado por 50 mil assassínios, 35 mil desaparecidos, 400 mil presos e 4 milhões de exilados na América do Sul, entre os anos 60 e 80. Ficaram tristemente célebres Jorge Videla (condenado a prisão perpétua, em 2010, por crimes contra a humanidade), Augusto Pinochet (faleceu no Dia Internacional dos Direitos Humanos) e Juan Maria Bordaberry (condenado a 30 anos de prisão, também, em 2010, por violação da constituição).
Não se foge, impunemente, ao julgamento da História.
Caro amigo, falou de todos os ditadores criminosos da America Latina mas esqueceu-se de Fidel Castro que matou milhares de pessoas e encarcerou outras tantas após a revolta cubana. Ou será que existem ditadores bons e ditadores maus?!
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