terça-feira, 3 de abril de 2012

Notícias do Apolo


Miguel Albuquerque, o candidato rebelde, muito mal acompanhado.

ESPECIAL PARA OS INIMIGOS DA INTRIGA





Dia Mundial da Floresta
Manuel António, o candidato oficioso, muito bem acompanhado.













Hoje, sim, finalmente uma conversa salutarmente pedagógica e amena durante umas boas horas à mesa da esplanada. Assunto ligeiro, que os más-línguas do costume abordaram com moderação, libertos daquele ressabiamento que tanto mal lhes provoca no estado psíquico. Falaram os convivas, com certa preocupação didáctica e moral, acerca de episódios vividos na sombra da vida laranja. Um mundo partidário tonificado quotidianamente por implacáveis perseguições a quem foge à linha oficial, nojentas traições de companheiros para companheiros, fatais vinganças de saias à custa da sedução lá em cima nas cúpulas do partido, enfim, banalidades mais ou menos correntes em qualquer organização que meta gente e que, aproveitadas pelo lado bom, podem servir de lição a quem anda bem intencionado na vida pública.


Com um olho na mesa e outro perscrutando as redondezas a ver se havia por ali algum dos ouvidos do chefe, um antigo vereador laranja de fora do Funchal opinou: podem matar-se todos aí uns aos outros, que a família Ramos é que vai determinar quem acabará por chegar ao lugar do Alberto João.

- Atenção - filosofa outro adepto laranja, também já fora das lides mas muito bem informado - Atenção que o Alberto João chamou o Jaime, o Jaime pai, antes de mandar o Manuel António apresentar a candidatura. Portanto, não é preciso quebrar muito a cabeça para perceber que o escolhido está encontrado.

O primeiro, antigo vereador, não se convence em definitivo:
- Toda a gente sabe que o Jaime se dá muito bem com o Miguel (Albuquerque). Portanto, é melhor esperar, porque o Jaime pode ter 'lavado as mãos' quando foi à Quinta Vigia. Eu até penso que isto já podia estar resolvido para o lado do Miguel (Albuquerque) se não fosse o outro Miguel, o Miguel de Sousa, a baralhar isto tudo. Quando ele percebe que as coisas estão bem encaminhadas para um lado, lá vai ele à Quinta Vigia virar o juízo do Alberto João, para estragar tudo aos outros. Lá por cima na presidência todos sabem disso.

- O homem ainda pensa que pode alimentar ilusões, que se há-de fazer - intervém um funcionário público primo de um elemento da máquina partidária laranja, logo aceite como bem informado - E o Alberto brinca com ele. Quando quer saber de alguma coisa, põe-no em campo.

- Então o Miguel de Sousa está a fazer o papel que era do Machadinho? - pergunta o vereador retirado.

- Não é isso, ele faz o papel de diplomata para os trabalhos secretos. Vai por aí descobrir o que o chefe quer saber e depois vai-lhe meter tudo no bico.

- Tem-lhe valido muito, tem - faz um que está a ler o Diário - Valeu-lhe tornar-se numa letra vencida.


Desde que o clube derrapou, o conflito é latente.



A conversa sempre dentro desta correcção. E o empregado ali à ilharga da mesa, especado, à espera que alguém peça qualquer coisa para fazer despesa. Mas todos parecem desentendidos. O máximo que um pediu, o tal, foi o Diário, para passar os olhos ali mesmo. Os cafés e as águas passaram a sair menos desde que se gasta tanto dinheiro no supermercado com o IVA.

- Isto também já podia ter pendido para o lado do outro, o amuado... - equaciona um dos convivas.

- O João (Cunha e Silva)?

- Então quem é?! O Alberto fartou-se daqueles amuos todos. Um melindrado com tudo e com nada, o João. Desde a Festa da Anona, então... Se já não aparecia a nada do partido, então daí para cá, muito menos. Nem a conselhos regionais nem nada.

- Que aconteceu na Anona?

- Homem, foi quando o Alberto João disse ao lado do Manuel António que estava ali a grande esperança para a política da Madeira.

- Esperança para a Madeira? - faz um bancário reformado, estranhamente calado até ao momento - Bonito! Só se for por ter a quem saia na política. É igualzinho ao outro.

- Não sei o que será... Sei que o chefe disse o que disse com uma convicção que não agradou ao João. E o amuo não teve mais fim. Ele é assim, não muda. O filho do presidente do Marítimo fugiu da vice-presidência. Outros querem arranjar poiso longe. Os que ele pôs na Quinta Vigia como guarda avançada também se livraram... Ninguém está para aturar aquele ambiente de melindre. 

CÂMARA MUNICIPAL DA CALHETA- Olha que na Calheta ele continua muito bem visto... - contrapõe o antigo vereador.

- A Calheta é outro caso em que está tudo bem amarrado e quem puser o pé fora do risco sai do comboio - diz o bancário reformado, de olhos postos lá em baixo na Avenida - Quem manda lá é o Avelino Farinha, a ponto de já ter exigido a entrada de alguém para deputado do PSD. Ele mesmo costuma dizer por lá que não obedece a ninguém, não obedecia ao Santos Costa nem ao (Manuel) Baeta (de Castro).

- E então? - continua o vereador - Compreende-se: quem tem dinheiro é ele, que é um tubarão criado pelo jardinismo; quem tem milhões empatados para receber do governo é ele; quem tem pago ordenados substituindo-se ao falido governo regional é ele. Sei de quem tenha recebido o vencimento através de um cheque da AFA. Quem há-de ter poder senão ele? E agora, se calhar, entra na Electricidade.

- E nos Horários do Funchal. Dizem que o Avelino e o Jaime Ramos vão tomar conta daquilo.

- Mas os Horários são deficitários, desconfio. A não ser que o governo cubra os défices... para lhes permitir lucros.

- Bom, esses dois têm capital. O Sá é que parece com problemas de liquidez. Dizem que está a pagar aos fornecedores em géneros...

- Quem manda ainda alguma coisa na Calheta é o Cunha e Silva, desculpem lá - insiste um dos circunstantes para alimentar a polémica - Ele e o Avelino mandam por cima. Na máquina, o Baeta trabalhou muito bem aquilo tudo. Vejam quem é a câmara: tudo bancários. Do BES e até da CGD. Um passou do BES para o Banif, mas... presidente, vice e vereadores principais, vieram todos da banca. Ou seja, o Baeta levou consigo a equipa que trabalhou com ele no BES. E agora quem é que entra ali naquela esfera? Só mesmo quem não fizer farinha, e mesmo assim... Aquilo está tão bem montado que os homens executivos juntam-se todos na vida privada e as mulheres saem juntas ao fim-de-semana. Aquilo ali ninguém tem hipóteses. E a oposição então muito menos.

- O João e o Avelino?

- Sei de umas histórias mas não posso contar, nem isso interessa. Eles todos montaram aquilo e conseguiram ganhar a câmara com toda a facilidade, desde sempre, ninguém lhes pode ir à mão. É claro que alguns de fora daquele círculo fechadíssimo se queixam em surdina.

- Bom, isso tudo acaba em 2013, o Baeta vai sair...

- Porque a lei o exige, senão continuava lá até morrer, como o chefe de cima queria ficar também eternamente até perceber que isso é impossível - é o vereador a falar baixinho, para não ser ouvido nas outras mesas - Mas depois do Baeta certamente avança outro bancário, o n.º 2 da câmara, que é o Carlos Teles. Penso que ele vai para a cabeça da lista, embora os outros dois 'meninos' mais abaixo também alimentem ambições...

- Deve ser o João (Cunha e Silva) a resolver...

- Não sei se chega a tempo. O chefe máximo acaba de o substituir em definitivo pelo Manuel António.


O laranjal está feito um saco de gatos.


- Substituir, como quem diz. Como delfim. Porque depois é preciso ganhar as eleições no partido.

- Mas o Alberto João já traçou  o resultado - ri-se o bancário reformado - Em tempos, por bincadeira... brincadeira séria... dizia ele que o Miguel Albuquerque dava um bom candidato... nas listas do Partido Socialista.

O ex-vereador bota história:
- E ultimamente os ódios intensificaram-se. Vejam o que se passou há dias no conselho regional. Sei de fonte segura. Quem falou foi o Manuel António. E também a Elisabete Fernades, que foi casada com o Miguel Albuquerque. Ela também discursou. De início, ficaram todos os mais antigos do PSD desconfiados, a ouvir falar quem tinha mudado de camisola, do PS para o laranja. Mas depois ela convenceu. Confessou que é uma arquitecta no desemprego... enfim, tocando em questões humanas. E o Alberto João deu-lhe ocupação: vereadora no Funchal, de onde o ex-marido sai nas próximas eleições.

- Mas isso é política - diz o bancário.

- Claro - pronuncia-se o antigo vereador - É natural. Chocante foi quando o Alberto falou noutro conselho regional, depois de o Miguel Albuquerque ter andado em plena campanha eleitoral a participar numas jornadas parlamentares do CSD - também não sei onde é que ele tinha a cabeça - E nesse conselho o Alberto disse bem alto, até para o Bruno Pereira ouvir bem: Ele (Miguel Albuquerque) pode ficar sabendo que daqui em diante, à mais pequenina, sai do partido.

Gera-se um instante de silêncio.
- Isto vai aquecer, vai - aparece o que lia o jornal - Os presidentes das comissões de freguesia como eu estamos caladinhos, a ver que ordem nos chega, em quem votar quando for hora. O Jaime chega-se ao pé  de mim e diz-me que os 60 militantes da freguesia devem escolher o Manuel António... e o Manuel António ganha ali. Se for o Albuquerque, ganha o Albuquerque.

- Isso é assim?

- Então? Heróis? Não temos alternativa. Vejam o que já aconteceu a tantos. E mesmo o Machadinho ainda não acabou de vez. Os dirigentes do campo tremem diante dele ainda. Se ele for dizer ao Alberto João que eu me portei mal e prejudiquei o partido, sou imediatamente despedido! E tenho ainda os pequenos a estudar, han?! Alguém duvida que me punham na rua? O Alberto João passou-se quando soube dos negócios do Machadinho. Edifícios... uma rede de tasquinhas da poncha... madeiras do Santo da Serra, acho eu... Mas é sempre o Machado.

- Senhores, lá foi o tempo em que era só o Machadinho a informar o chefe - concretiza o antigo vereador - Até as militantes têm a sua influência, de há tempos para cá. O Humberto foi posto fora da câmara de São Vicente porque armou em esperto. Ao Farinha também sucedeu o mesmo: uma denúncia cirúrgica, rua! Mania do machismo, que as mulheres são incompetentes e tontas. Pois os espertalhões aprenderam com quem não se devem meter.

- Bom, quando o chefe começar a frequentar outro concelho, sem ser os do Norte, o presidente de câmara que se ponha à tabela - diz um agente de viagens no desemprego.

- E há mais conselheiros e conselheiras da Quinta Vigia - torna o vereador de outrora - Em Machico pode haver surpresas até às autárquicas. O Alberto João queimou aquele rapaz que era uma esperança... e ainda ningúum percebeu porquê. Pode haver ainda recuperação.

- Em Santana também houve novidade - reaparece o bancário antigo - O Jaime influenciou a favor de uma militante eleita para a câmara... Mas o Moisés até já a tirou de vice-presidente. Está para lá sem mandar em nada. Foi o que me disseram. Se é verdade, então o Jaime não tem esse poder todo. Há quem lhe bata o pé.

- Isto vai ser entretido, vai - aflige-se o presidente de comissão de freguesia PSD - Além dos telefonemas que começam já a fazer para o Ambiente, pretexto para se encostarem ao secretário candidato, já andam a convidar o Manuel António para conferências pelo campo, com os militantes do partido. O Miguel Albuquerque também se vai mexer...

- Da minha parte é que ninguém me apanha com palpites antes de perceber para que lado isto vai cair... - esclarece o ex-vereador - A experiência ainda manda alguma coisa. Já estou escarmentado de falar antes do tempo.

Levantei-me tentando passar despercebido, para rumar à minha volta higiénica no aterro. Olhei para trás e reparei que todos ficaram pouco à vontade, a tentar perceber para onde raio me dirigia eu.

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