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domingo, 1 de dezembro de 2019


VIGIAR E PUNIR

Neste pequeno texto tento mostrar a superioridade dos poderes disciplinares sobre o aparelho judiciário, com base em “Vigiar e Punir” de Foucault. Também mostro que se a aplicação dos poderes disciplinares for discricionária (tal como o Ministério Público defende), essa superioridade possibilita a instalação da escravidão, em que o escravo desconhece que o é.

A superioridade que alego pode ser vista numa acusação que impende sobre um ex- Procurador-Geral da República: todos os magistrados do Ministério Público que detinham processos de averiguações que envolviam “Grandes” de Portugal foram alvo de processos disciplinares. Com a discricionariedade da aplicação dos Regulamentos Disciplinares, esse ex- Procurador-Geral da República poderia facilmente punir os magistrados que não faziam o que ele queria, e proteger os magistrados que violavam as leis.
Por fim, explico porque é que todos os comentadores são insultados aqui no fénixdoatlantico.

Disciplina e Crime
A - “(…) enquanto os sistemas jurídicos qualificam os sujeitos de direito, segundo normas universais, as disciplinas caracterizam, classificam, especializam; distribuem ao longo de uma escala, repartem em torno de uma norma, hierarquizam os indivíduos em relação uns aos outros, e, levando ao limite, desqualificam e invalidam.”
B- “A disciplina “fabrica” indivíduos; ela é a técnica específica de um poder que toma os indivíduos ao mesmo tempo como objetos e como instrumentos de seu exercício. Não é um poder triunfante que, a partir de seu próprio excesso, pode-se fiar em seu superpoderio; é um poder modesto, desconfiado, que funciona a modo de uma economia calculada, mas permanente. Humildes modalidades, procedimentos menores, se os compararmos aos rituais majestosos da soberania ou aos grandes aparelhos do Estado. E são eles justamente que vão pouco a pouco invadir essas formas maiores, modificar-lhes os mecanismos e impor-lhes seus processos. O aparelho judiciário não escapará a essa invasão, mal secreta. O sucesso do poder disciplinar se deve sem dúvida ao uso de instrumentos simples: o olhar hierárquico, a sanção normalizadora e sua combinação num procedimento que lhe é específico, o exame.”
C- “O exame [disciplinar] faz também a individualidade entrar num campo documentário: Seu resultado é um arquivo inteiro com detalhes e minúcias que se constitui ao nível dos corpos e dos dias. O exame que coloca os indivíduos num campo de vigilância situa-os igualmente numa rede de anotações escritas; compromete-os em toda uma quantidade de documentos que os captam e os fixam. Os procedimentos de exame são acompanhados imediatamente de um sistema de registro intenso e de acumulação documentária. (…) Em muitos pontos, modela-se pelos métodos tradicionais da documentação administrativa.” [Saliento que o poder criminal tem que andar à procura do sujeito e das provas… enquanto, o poder disciplinar já tem o sujeito e as provas documentadas].
Os poderes disciplinares impõem a transmissão de informação de forma vertical (chefe – subordinado), e prejudicam a troca de informação horizontal (entre colegas). Conheci chefes da Administração Pública que através de maldades, mentiras e invejas promoviam as quezílias entre colegas para aumentar o seu próprio poder (a disciplina). Regra geral, os chefes solicitam trabalhos improdutivos que para nada servem/servirão para impedir o contacto entre colaboradores. 
Esta situação pode ser vista no seguinte: a esmagadora maioria dos colaboradores de organizações têm melhores relações pessoais com colaboradores de organizações adversárias e com indivíduos que não tenham relação com a organização com a qual colaboram.
(Faço aqui um aparte. Existem uns entusiastas que tentam promover a cooperação e a colaboração. Na realidade da Disciplina, se isso fosse aplicado, provocaria uma maior ligação entre colaborador e chefe; uma maior submissão entre colaborador e chefe, tal como vemos em muitas séries policiais em que os colaboradores arriscam seu “pescoço” pelo chefe… mas denunciam o seu próprio colega.)

Vinco o seguinte:
1 - A Disciplina, para quem tem o poder de punir, permite uma dominação suave e útil sobre os liderados.
2- Os poderes disciplinares podem aplicar-se a todas as ações. Os poderes criminais só se aplicam a certas e determinadas ações: as prescritas na lei. Exemplo. Comentar contra o PSD leva a uma injúria imediata (já vi insultos a um anónimo por este ter declarado que as pessoas não pareciam estar contentes numa foto). Por outro lado, só pode ser punido pelo crime de difamação desde que seja provado o autor da alegação, e desde que a alegação seja falsa e o autor conheça essa falsidade.
3- O indivíduo sujeito ao poder disciplinar está sempre sob observação ou exame. O cidadão só está sujeito ao poder criminal se for acusado de um crime.
4 - Os poderes disciplinares implicam a desigualdade: de um lado estão os que têm o direito de punir; do outro, estão os que têm deveres a cumprir. A lei em princípio deve ser aplicada de forma igual a todos.
5- Os poderes disciplinares devido à observação e documentação consegue ajustar a punição ou recompensa a um individuo em específico, pelo que o consegue manipular. Os poderes criminais têm que seguir normas gerais.

Só mais umas palavras sobre este assunto, um Monstro Esclavagista sabendo isto instituiria o seguinte:
1- Instituição da Disciplina transversalmente a toda a Sociedade e a cada Organização, com foco em impedir a comunicação interpessoal sobre qualquer assunto (política, sexo, sentimentos, saúde, valores morais, etc… no máximo, talvez possa permitir falar sobre se o tempo está bom… e mesmo assim…). Assim, toda a informação que o cidadão normal conheceria seria a indicada pelo Monstro; todos os que opinam são insultados (como por exemplo de “ignorantes” como um certo comentador faz aqui no fénix); seria feito um registo de relações entre as pessoas (para saber de onde partem as fugas de informação) e contacto interpessoal punido (através de intrigas sobre relações sexuais, andar com más-companhias, etc…)
2- A aplicação discricionária dos poderes disciplinares (que até os magistrados estão sujeitos) consoante os interesses do Monstro: recompensar quem faz o que ele quer, punir quem não cumpre com os seus desmandos. O sistema de recompensas/punições é apoiado discricionariamente pelos dinheiros do Estado, e pelo aparelho judiciário.
Repare-se que numa Sociedade dominada por um Monstro Esclavagista, poucos estão disponíveis para denunciar (devido à perseguição, retaliação económica e judicial, inversão de papeis vitima/criminoso através da controlada comunicação social), mas também poucos querem ouvir.
Para impedir que um Monstro institua a escravidão, admitindo que todos erram (mesmo os que têm mérito embora tendencialmente errem muito menos), o ponto fulcral (e o único em que o Estado pode ter influência) é a aplicação da disciplina: esta deve ser aplicada no Estado de forma universal, logo não discricionária.
(Demonstração.
O Estado não consegue impor facilmente e rapidamente os valores da Sociedade… mas consegue impor rapidamente e facilmente a aplicação da Disciplina não-discricionária (i.e., universal) no próprio Estado. Com isso: a docibilidade e utilidade dos funcionários públicos aos desmandos de lacaios dos esclavagistas diminuirá; os incompetentes, os corruptos e os lacaios dos esclavagistas serão expulsos da Administração Pública; a eficiência e a eficácia dos serviços estatais melhorará; o mérito será recompensado, e quem o não recompensar será punido disciplinarmente e criminalmente (tal como a Constituição e as leis estabelecem); a utilidade do conhecimento e do trabalho aumentará (logo, o valor do mérito aumentará que terá como consequência mais conhecimento e mais trabalho para os ambiciosos… que, por sua vez, melhorará a eficácia e a eficiência dos serviços prestados pelo Estado); procurar, pensar e mostrar conhecimento será valorizado (ao invés de punido), logo a transmissão de informação melhorará, e as relações interpessoais evoluirão naturalmente. Estes efeitos influenciarão a resiliência e a saúde psicológica da Sociedade que por sua vez afetará a produtividade, a eficiência e a eficácia da mesma; os valores morais serão recompensar o mérito, quem cumpre sistematicamente com as normas… ser virtuoso.)
A solução do Estado tentar criar uma Sociedade em que o contacto inter-pessoal seja promovido e essas relações não sejam discriminadas negativamente é muito complicada. Para fazer isso é preciso perseguir os insultadores que se protegem no anonimato… o que abre o precedente de ser possível perseguir os denunciantes que se protegem no anonimato. Embora o Estado não consiga, a Sociedade, através dos indivíduos, desencorajar os insultadores através das mesmas armas que os últimos utilizam…
Repare-se que a maior parte das nossas interações são na qualidade de membros de uma organização: emprego, ordens profissionais, associações, atletas, colaboradores, família, … As relações de amizade desinteressada, simplesmente passar o tempo ou prazer são diminutas na nossa Sociedade.

Eu, O Santo

P.S.- O insultador (medidor de inteligência e de ignorância) aqui do Fénix está a potenciar a escravidão. Se eu tiver hipótese de impunemente melhorar a probabilidade de liberdade para mim, para os meus, e para a Sociedade em geral… eu o farei de forma exemplar… de forma a que ninguém queira arriscar a o substituir… e desejo ardentemente que o ditado se aplique: “palavra dada, tentação a caminho”.

6 comentários:

Anónimo disse...

Hoje temos o Câncio na versão jurídico-filosófica.
Para quem tiver pachorra.

Anónimo disse...

Ao anónimo das 10:49: as dissertações do “Santo”, algumas são extensas e específicas, outras menos extensas ou generalistas. De umas gosto mais, de outras menos. Umas compreendo, outras menos! Mas todas demonstram um sentido crítico, trabalho de investigação e um raciocínio ora prático, ora abstracto. Tudo isso, numa ilha essencialmente povoada por gente bacoca e vazia é de louvar! Já os seus comentários lacónicos e imbecis representam bem a maioria da populaça, por sinal bem representada em quem vota, desde 1976! Mantenha-se anónimo e representa bem mais de 50.000 eleitores ou 100.000 madeirenses médios. Identifique-se e ficará reduzido a um mero e vulgar calhau com olhos!

Anónimo disse...

Um texto, que embora longo, muito interessante na classificação dos atores sociais. Percebi que o texto está povoado de uma estrutura sul americana, o que implicaria pir honestidade a utilização das aspas na longa citação de um autor não citado.
Vale pela pesquisa, mas necessuta de um melhir tratamento da informação, atitude crítica e, porque não, uma mais profunda contextualização regional.

Anónimo disse...

18.03
Câncio,
Fica registado o teu comentário. Gabas-te a ti próprio,o que deve dar ao teu ego, um gozo especial na tua megalomania e egocentrismo.
Achas-te com sentido crítico, trabalhador de investigação, e possuidor de raciocínio pratico e por vezes abstrato.
Pena é não aproveitares essas qualidade que dizes dispôr, para a prossecução do teu trabalho como engenheiro, enquanto funcionário público de um determinado departamento.
E, apesar das tuas qualidades auto-elogiosas, não conseguiste almejar o teu desiderato. Ser chefe. Possivelmente por dedicares tanto tempo à "investigação político-jurídico-filosófica", e pouco à tua real função laboral.
E, vê lá, são os imbecis da populaça que te pagam o ordenado, para andares aqui a escrever as tuas baboseiradas, que têm interesse para meia dúzia de alucinados como tu.
E já que és tão corajoso, não se percebe que recorras também ao anonimato para produzir certos comentários, que têm a tua marca d'água, bem como te "santificas" nas tuas ladainhas inócuas, em vez de assinares o teu nome.
Mas, pode ser que alguém te dê cura. Nunca se deve desprezar as virtuosidades da psiquiatria.

Anónimo disse...

Ao madrugador das 10:26 do dia 2 e das 10:49 do dia 1:
O comentário foi meu e não do autor da publicação.
E não! Não me identifico para o meu nome não ser arrastado na lama do chiqueiro onde você se sente bem. Nunca de discute com um porco pois o mesmo além de vencer pela experiência ainda fica feliz.
Se não tem capacidade para discutir conceitos para que quer a identificação dos outros quando não revela a sua? Atitude típica de bufos e inquisidores. Vá lá dar a cara à Rua dos Netos onde lhe pagam muito menos do que você se julga merecedor, Bruno Camacho ou clone da mesma laia.

Anónimo disse...

12.39,
Cantas bem mas não enganas.
Mas pareces habituado ao chiqueiro, ou se calhar ao esgoto.
De facto não discuto com porcos, por isso não discuto contigo. Apenas registo as tuas imbecilidades.
Podes querer passar por, totalmente anónimo, mas não enganas ninguém.
Câncio, foi uma boa tentativa, mas de pouco serve. Identificas-te pela escrita.