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quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Dr. Ernesto Fervença e Duílio 'Anão'





  


DUAS ‘BAIXAS’
NA VELHA GUARDA
DO MARÍTIMO



O GRANDE GUARDA-REDES DR. FERVENÇA  


Em Abril de 1948, foi colocado na Alfândega do Funchal o funcionário qualificado Ernesto Fervença da Silva, conhecido como guarda-redes do Club Oriental de Lisboa (havia representado antes o Marvilense). Sem perda de tempo, e contactado o futebolista, o Marítimo conseguiu autorização do clube lisboeta para utilizar o atleta recém-chegado na baliza da sua equipa de Honra. Nessa mesma época de 1948-49, o Marítimo sagrou-se Campeão da Madeira, título reeditado na temporada seguinte, sempre com o Dr. Ernesto Fervença na baliza.
No clube insular, começava a brilhar então uma geração maravilha que ficaria nos anais da história do desporto madeirense e português, bastando para o efeito citar o trio central de ataque: 'Checa', 'Chino' e Raul Tremura. Na baliza, Ernesto Fervença, que já não chegou a representar os verde-rubros numa terceira época por ter sido transferido para o Continente, no âmbito da sua carreira profissional.

O dr. Ernesto continuou com ligações directas à Madeira, mas no desempenho das funções inerentes ao seu curso do Instituto de Ciências Económicas e Financeiras, tendo colaborado 50 anos com o Grupo Grão-Pará de Fernanda Pires da Silva. Recorde-se a construção dos empreendimentos turísticos na depois conhecida zona da Matur, junto do aeroporto de Santa Catarina, por intermédio da Inter-hotel Sociedade Internacional de Hotéis SA, além da cidade turística de Água de Pena, com um centro comercial, restaurante, piscina e Clube de Bridge. O Dr. Fervença esteve presente na inauguração destes empreendimentos. Exerceu também como membro do Conselho Fiscal da Zagope, durante a ampliação do Aeroporto madeirense e construção de várias estradas na Região.
Ao serviço do Marítimo, Ernesto Fervença realizou 33 jogos em um ano e meio de actividade, tendo defrontado, além das equipas regionais, o Benfica, o Belenenses e o Estoril.
O Dr. Ernesto Fervença nutria muita amizade pela Madeira que o acolheu em fins dos anos 40, conforme nos dizia desde a capital o antigo guarda-redes, vai para alguns meses, ao elogiar a população deste "verdadeiro pólo turístico internacional". 
"Por outro lado", disse-nos, "em termos desportivos, quem teve o privilégio de vestir a camisola verde-rubra fica 'Marítimo' até ao fim da sua existência."
O Dr. Ernesto Fervença, que foi internacional quando guarda-redes do Sporting CP em andebol, modalidade a que se dedicou depois de alguns anos na baliza do futebol, morreu na passada sexta-feira, sendo cremado domingo no Cemitério do Alto de São João. Tinha 95 anos. O Marítimo está de luto. Enviamos aos familiares do grande desportista e brilhante economista as nossas sentidas condolências. Tiramos o chapéu a um grande Maritimista e Cavalheiro. O Dr. Fervença recusou o posto de capitão da equipa do Marítimo que a Direcção, apoiada pelos jogadores, lhe quis atribuir, alegando que as presumíveis diferenças sociais não devem desvirtuar as regras do jogo.


Do 'Record'

Marítimo-Belenenses, campo primitivo dos Barreiros.

Formação-base do Marítimo, fins dos anos 40-50 - De pé: Dr. Fervença, Mário Paixão, 'Calinhos', Américo 'Jipe', Fernando 'Gato', Armando, Albino, 'Joanito' e Luanda'; 'Farruca', 'Checa', 'Chino', Raul e 'Faiaman'.



O LENDÁRIO DUÍLIO 'ANÃO'


O pai não soube dizer direito no Registo e em vez de 'Dúlio' acabou por dar ao filho o nome de 'Duílio'. Duílio José Lomelino. Mas não fez diferença: ninguém o conhecia por um ou outro, Dúlio ou Duílio, a popularidade foi canalizada para o 'Anão'. Na Zona Velha, o nome do BI pouco contava, de resto.
'Anão' meteu-se a jogar à bola e alinhou nos infantis do Marítimo de 1939-40 com 'Chino', Raul Tremura, 'Farruca', Mário Paixão, Armando, 'Jipe' e demais pequenos que mais tarde integrariam a equipa dos Maravilhas nos anos 1949-50.
'Anão' ficou aquém dos êxitos daqueles companheiros. O mais que conseguiu foi a titularidade numa vitória verde-rubra sobre o Sporting de Braga em jogo particular, no Liceu - 1954. Acontecimento que ficou como seu orgulho de carreira: alinhar ao lado do capitão Raul, com o Campo do Liceu cheio!
Se não passou de reservista no futebol, com 64 jogos no currículo, na 'mergulhança' ninguém batia o 'Anão'. Os seus voos do alto do 'Vapor do Cabo' faziam arrepiar os turistas e as moedas saltavam das amuradas para o mar.
Vida de aventura, a do valente gigante-Anão. Mil fugas da Ilha em vapores, clandestino, sem bilhete. Vários anos ao sol de África. Uma infinidade de tempo na sempre surpreendente Venezuela.
Enfim, a velhice na Madeira. Já estava nos 93 quando há pouco tempo acompanhámos o antigo verde-rubro Raul de Sousa numa visita ao Lar do Vale Formoso. 'Anão' estava fresco. Ambos recordaram histórias passadas. Novo encontro marcado para o início deste 2019. Esta manhã, deram-nos a novidade, no Vale Formoso, quando perguntámos pelo popular 'Anão'. "Anão? O Sr. Dúlio morreu no ano que acabou."
Morreu com nome próprio. Nome certo ou não, discutível. Tal como na incerteza que foi toda a sua vida. Certo é que já não haverá visita ao Vale Formoso.
Um abraço tardio ao Duílio. O incrível e espectacular 'Anão' da mergulhança. O Sr. Dúlio. A lenda não morre.

'Anão' com Raul de Sousa. Velhos amigos da Zona Velha e do Marítimo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Paz à sua Alma
Os ilustres também morrem
Vamos honrar os vivos e rezar pelos mortos