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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

 

CRÓNICA


JUVENAL XAVIER                                                                                  





AFORISMO DO POÇO 

SEM FUNDO 




Quando Alice, no País das Maravilhas, perguntou ao Coelho: Quanto tempo dura o eterno? Ele respondeu-lhe: Às vezes apenas um segundo. 

Já foi outro tempo (sempre contínuo e indefinido) ou não terá sido outrora outro modo empolado de parecer, face a uma realidade sem alicerces que com imparcialidade não se procurou questionar?  

Como que por milagre, e expiados os santos pecados, surge entre o nevoeiro da esperança um singular conceito que passa por se fazer muito mais e muito melhor, mas, devido às circunstâncias, com menores recursos. Inquestionavelmente, descobre-se, mesmo debaixo do nariz, a fórmula mágica que resolve todas as velhas equações.  

Contudo, antes de irmos à raiz do enigma do poço sem fundo, e para que a viagem dialética (um caminho entre as ideias) não seja oca, encomendem-se depressa estudos, com uma sólida base científica, que garantam que o fundo sempre existiu, independentemente da sua dimensão. Sem isso, qualquer investimento em alta tecnologia (high tech), para a necessária perfuração do poço dos objetivos, arrisca-se a não ter retorno, embora não seja por uma mera derrapagem que o plano das “bolas de sabão” deixe de avançar, mesmo prevendo-se com rigor que possa in extremis abortar.  

É um risco estritamente calculado que correm as inteligências mais avançadas. Mas, se há consenso profundamente alargado à volta da tese irrefutável; se há, outrossim, a certeza transparente, inequívoca, da sua existência, nesse caso dê-se despacho com informação urgente para o andamento do novo processo que irá permitir, finalmente, erguer outro edifício nas mesmas bases daquele que estrondosamente acabou por ruir. 

O aforismo do poço sem fundo nunca passou de um contra-ataque silencioso por parte de uma manipulação subterrânea que visava a destruição de um projeto de crescimento sem desenvolvimento, em contramão com a cultura cosmopolita da belle époque. Sem cosméticas em termos de planeamento, mesmo sabendo de antemão que o discurso do comício não é exequível na praça da vida, há que ver (claramente visto como Camões) para além dos metros quadrados do gabinete chique e claramente acima das lentes da mediocridade absolutista. Sabendo que o eterno pode durar um segundo, risque-se a tinta da China uma fronteira coerente e invariável que demarque, sem desvios ou lóbis, o que é altamente profissional do que é assumidamente amador. 

Ou há coragem na opção política, sem influência partidária, ou haverá fatalmente despiste ou colisão na autoestrada que nos levará a um pathos que os especialistas em marketing político ou eleitoral não conhecem tão bem como as sete linhas das suas mãos.  

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