ENG. RUI VIEIRA
- UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA
Raimundo Quintal
Na reunião de ontem, o executivo da Câmara Municipal do Funchal decidiu atribuir a Medalha de Mérito Municipal ao Eng. Rui Manuel da Silva Vieira (29.03.1926 – 29.08.2009). Homenagem mais que merecida a um Homem, que aprendi a respeitar pela forma honesta com que se dedicava às causas que abraçava. Apesar da distância política que nos separava, em vida fiz-lhe rasgados elogios e no dia da sua morte prestei-lhe uma sentida homenagem.
Pouco tempo após a sua morte, eu e os meus amigos arquitectos paisagistas Fernando Santos Pessoa e João Reis Gomes tentámos organizar um colóquio sobre a obra científica do Eng. Rui Vieira, mas infelizmente não encontrámos apoio necessário, sem o costumeiro aproveitamento político.
Em boa hora o seu nome foi associado ao Jardim Botânico da Madeira, do qual foi o primeiro director e um impulsionador da investigação científica, com especial destaque para a conservação da flora da Madeira e da Macaronésia.
Ficaria mal com a minha consciência se neste momento não expressasse publicamente o meu jubilo pela medalha concedida pela Câmara Municipal do Funchal e a minha apreensão pelo momento da sua atribuição.
O seu nome deveria ser preservado em clima de pré campanha eleitoral e muito especialmente numa semana em que a Câmara do Funchal apoia e publicita na televisão uma atividade que o Eng. Rui Vieira tanto combateu, com fundamentação científica e em nome do desenvolvimento sustentável da Madeira.
Como no texto laudatório apresentado pelo vereador José Manuel Rodrigues, esta importante faceta do Engº Rui Vieira foi ocultada, aqui deixo, alguns excertos do seu pensamento sobre o pastoreio nas ilhas da Madeira e Porto Santo:
- Diário de Notícias – 05 de Junho de 1989
“Eu diria até, numa atitude um pouco extremista mas mais consentânea com a realidade madeirense, que não se justifica haver gado nas nossas serras, porque o património florestal é mais importante que as cabeças que pastem nessas áreas. É que a pastorícia é uma actividade pouco rentável.
Ela só tem razão de ser em zonas onde haja um clima e um solo muito favoráveis à alta produção forrageira, o que não acontece na Madeira.
Comparado com os benefícios advindos do repovoamento florestal, as benesses da pastorícia são irrisórias. No entanto, admito que em algumas áreas, como a Calheta, Porto Moniz, Camacha e Santo da Serra possa exercer-se aquela actividade. Só que no Poiso nunca,
Temos de marcar linhas de orientação e em matérias de serras, de florestas, nós temos é de recuperar as que estão mal, torná-las mais ricas, porque a Madeira vive da sua paisagem e vive das suas águas. Não vive do seu gado, que é raquítico e pobre. Ou seja, a pastorícia tem muito pouco interesse comparada com os reais e verdadeiros interesses da Madeira”.
- Flora da Madeira, o Interesse das Plantas Endémicas Macaronésicas (1992)
“Mas os trabalhos de rearborização e revestimento florestal, que interessa acelerar, também, para que se não intensifiquem processos de desertificação, de que há indícios em muitos pontos do arquipélago da Madeira – sejam de plantações de exóticas, sejam de reconstituição da floresta clímax – não podem ter êxito, se por um lado não se usar de todos os cuidados que a técnica silvícola recomenda e, por outro, se não se controlar o pastoreio, mais ou menos selvagem, nas áreas delimitadas que, para isso, forem destinadas e melhoradas, ou acabar de vez com a presença, nas serras da Madeira e do Porto Santo, do gado, mais ou menos faminto, que continua a devorar tudo o que vai encontrando no seu caminhar contínuo e indisciplinado.” (pgs. 116-117)
Poderia continuar a citar textos do Eng. Rui Vieira sobre esta matéria, mas deixá-lo-ei para um colóquio sobre a sua obra científica, que continuo a acreditar ser possível realizar fora das estações eleitorais e sem apropriações partidárias.
Termino, pedindo respeito pela memória e pelo legado científico dum Homem, com quem aprendi a servir sem me servir.
Funchal, 23 de Junho de 2017
Raimundo Quintal
6 comentários:
Não vou, por não ser capaz, acrescentar muito mais àquilo que escreveste, Raimundo. Direi apenas: respeitem-lhe a memória, sigam-lhe o exemplo
Muito bem caro Raimundo. Nunca pensei ver Cafofo, um suposto professor que até diz que não é político, a defender o gado solto nas serras, não se importando com a segurança dos seus munícipes. Triste, muito triste...
Vergonhoso é ver Cafofo a apoiar essa corja de falsos pastores, que só querem andar bêbados e fazer umas patuscadas lá na serra, pouco se lixando para se a gente cá em baixo leva com a lama e a terra que as ovelhas arrebentam na serra.
Para quando a devida homenagem à Sérgio Borges um músico que muito contribuiu para a divulgação da Madeira?
A homenagem tinha de ser agora pois o cds não vai eleger nenhum vereador nas próximas eleições.
A propósito de músicos,lembro-me, muito bem, do Tony Cruz. Madeira,és
Livre e Livre serás...
Relativamente ao Senhor Rui Vieira, venham mais!
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