A GUERRA APOQUENTA-NOS
GAUDÊNCIO
FIGUEIRA
A Europa, com
a queda do muro de Berlim e o consequente fim do comunismo, sonhou
alcandorar-se à condição de superpotência. Entusiasmada pela supremacia do
mercado livre fomentou o desmembramento da ex-Jugoslávia na convicção de que
era capaz de sozinha resolver aquele intrincado problema.
O peso da
História na solução destas questões é grande. Um Estado fantoche criado por
Hilter, abarcando a Croácia e a Bósnia, levou por diante uma política de
genocídio contra os sérvios que, sob a liderança de Tito, saíram vencedores e,
no pós-guerra, ficaram na “Cortina de Ferro”. Não foi de estranhar os ajustes
de contas no fim do comunismo.
A
independência da Eslovénia foi rápida e sem problemas de maior se compararmos
com aquilo que vinha a caminho. Dois homens, Franjo Tujman e Radovan Karadzic,
misturando de forma explosiva os conceitos de etnia e Estado, impuseram nos
Balcãs um inferno que em nada serviu as pessoas. Incapazes de resolver o
problema, os Europeus – Alemanha, França e Inglaterra –, pediram ajuda à NATO
ou seja, aos Americanos.
A verdade
que, à época, a propaganda nos contou, está longe de ser verdadeira. Passados
anos já podemos fazer fé em depoimentos de não beligerantes que, postados no
terreno, nos relatam o sofrimento de Seres Humanos cuja única ambição era viver
em PAZ. Mas viram-se privados dela por teimosia dos mandantes. Estamos
conversados sobre a Europa e seus erros.
Donald Trump
é um homem que, julgo eu, se o submetessem a testes psicológicos prévios,
revelaria incapacidade para o exercício do cargo para que os Americanos o
elegeram. Personalidades destas caracterizam-se por, assentes numa pequena verdade,
sustentarem enormes mentiras. É o caso das despesas europeias para suportar o
esforço de defesa. Exigir o aumento das contribuições financeiras não pode
significar a destruição do Património Comum que é a NATO. A organização pode
conter o revisionismo russo, integrar pacificamente a China ao mesmo tempo que
faz frente ao extremismo islâmico e aos nacionalismos.
Há vinte anos
nos Balcãs, os poderosos, nada ralados com o sofrimento humano, levaram por
diante as suas ambições de poder. A propaganda preparou-nos para a “condenação”
Sérvia, na opinião pública. Mr. Trump, um exímio manipulador da comunicação
social, nesta sua primeira saída dos EUA, ateou fogo à pradaria com a sua venda
de armas à Arábia Saudita. Fiel às suas definições decretou que os Sauditas são
Árabes “bons” em contraponto com Iranianos classificados como Árabes “maus”. O
energúmeno municiou os “bons” sunitas – Arábia Saudita – na sua guerra
religiosa contra os “maus” xiitas – Irão – apesar de, naquele Estado, os
moderados terem acabado de chegar ao poder pelo voto popular. Votos, naquela
cabeça, só contam aqueles que ele recolheu nos EUA. A legitimidade popular dos
outros, em sua opinião, não conta para nada. Aquele voo mediático que ligou
Árabes “bons” a Judeus – duas religiões há muito desavindas – faz crer aos
incrédulos terráqueos que a PAZ está ali ao virar da esquina.
A Europa
resolveu mal a questão dos Balcãs, mas esta Trumpice, pelo caminho que leva,
será um desastre Bíblico. Vou esquecer Iraque e Yemen, ater-me-ei à Síria. Um
Sírio tem todo o direito em querer pensar o seu País. Franceses, Alemães,
Ingleses e Americanos “sabem” muito sobre a Síria. Só que isto já cansa os
Sírios. O discurso geopolítico preocupa-se com a estabilidade regional. A isto
segue-se a questão cultural centrada no Islão, no terrorismo e nos direitos das
minorias. Finalmente entra em cena o discurso dos direitos humanos para quem os
Sírios são vítimas de torturas e geram imensos refugiados. A direita ocidental
assume como seus o discurso geopolítico e o cultural. Para a esquerda
anti-imperialista a prioridade é o combate ao imperialismo e a política
internacional.
Assad é um
valioso peão na estratégia de domínio do Mundo pelos poderosos. Ele subordina
as aspirações do Povo Sírio às mentiras da luta contra Israel. Estando o
inefável Trump interessado, como diz, na PAZ, para quando ouvir este Povo
sofredor que pensa e tem vontade própria? Os Sírios não acham piada nenhuma
que, por acordo de amigos – Trump e Putin –, tenham de suportar
Assad.
7 comentários:
"Assad é um valioso peão na estratégia de domínio do Mundo pelos poderosos. Ele subordina as aspirações do Povo Sírio às mentiras da luta contra Israel."
Esta não percebi pois Assad não é conhecido por ser um "campeão" da causa palestiniana!
Parece-me que o articulista está a ser levado pela propaganda inicial da mudança de regime propagada pelo Ocidente. A diferença entre a Síria e a Líbia é que no primeiro caso não o conseguiram enquanto que no segundo caso foi uma questão de meses. Claro que depois retiraram a comunicação social para que não se percebe-se em que estado deixaram a Líbia e os Líbios. Depois admiram-se que das costas líbias nos cheguem refugiados/imigrantes às dezenas de milhar.
A vida já me insinou que motivos nobres geralmente escondem interesses inconfessáveis e que mesmo os honestos que tentam contruir o paraíso na terra acabam por construir o inferno.
O mundo ocidental não tem que andar pelo mundo a tentar formata-lo de acordo com os seus interesses e valores, especialmente pela força e de forma apressada. Podemos facilitar a mudança mas não a forçar sob perigo de criarmos tragédias que só dificultam a mudança almejada e inevitável. Tal como no judo quanto mais força empregarmos mais probabilidade haverá de o adversário sair vencedor nem que seja porque tornamo-nos no adversário externo que une e fortifica o staus quo que queremos alterar.
pois é
Ó Spínola, estás a precisar de umas aulitas de português para melhorares a tua capacidade de interpretação.
Va la que desta vez a culpa não é do Alberto joao 😂😂😂
O comentador de ontem às 11:24 não leu bem aquilo que está escrito. O autor do texto não diz que a Síria de Assad apoia a causa Palestina. Ele apenas diz que "subordina o Povo Sírio às mentiras contra Israel". Acha que o Assad não conta histórias de fazer chorar quando lembra aos Sírios a ocupação dos Montes Golan em 1967?
Ele é realmente um peão nas mãos dos "compadres" Trump e Putin para quem mais mortos e refugiados nada representa desde que eles tenham o Poder. Os três aão guaizinhos ao Maduro e ao Eduardo Santos.
Ao anónimo das 09:16
O que é que a guerra civil Síria tem que ver com o conflito com Israel por causa dos Montes Golan?! Eu a pensar que se tratava de uma guerra civil com dezenas de grupos armados a serem apoiados por diferentes países mas afinal trata-se de uma guerra entre Israel e a Síria! Sei que Israel já aproveitou para bombardear o Hezbollah do Líbano na Síria e sei que Israel tem dado apoio médico à ex-Al Nustra (ramo da Al-Qaida) mas não sabia que o Assad afirmava junto da sua opinião pública que a guerra era entre Israel e Síria por causa dos Montes Golan!!! Parece que tenho que procurar outras fontes de informação...
O Assad agora é peão do Trump?! O tal Trump que bombardeou com 59 mísseis de cruzeiro um aeroporto militar sírio sob pretexto de que dali partira um ataque químico?! O tal Trump que reforçou o envio de apoio militar ao curdos que também combatem o Assad?! O Trump que acaba de assinar um contrato de fornecimento de armas superior a 110 mil dólares à Arábia Saudita sendo que algumas dessas armas irão parar, como no passado recente, a extremistas islâmicos?! Já me esquecia que o Trump é um agente russo. Deve ser um agente da Manchúria!
Ainda há quem ache que os presidentes americanos mandam alguma coisa na América quando se vê toda esta reação do complexo militar e securitário americano contra o Trump que vem comprovar que ou um presidente se submete a essa gente ou diabolizam-no junto da opinião pública.
Quando o Trump se adaptar à função, ou seja quando simplesmente assinar as ordens que lhe põem na secretária passará de besta a bestial e terá uma boa comunicação social a recuperar a sua imagem e a dos EUA. E não será outra comunicação social mas a mesma que agora o ridiculariza.
Para perceber aquilo que vai na cabeça dos poderosos tem de pensar nas pessoas e esquecer as ideologias que tem na cabeça e que ainda vêm da guerra fria.
Aí a Síria era anti-israeliata. Já esqueceu isso?
Os curdos, fala bem, um Povo sofredor desde a 1ª guerra, para ir mais para trás v´tima dos Srs. da guerra ao longo da história.
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