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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Estilhaços de Madeira



O PUNGENTE CANTO DO CISNE

O chefe pretende iludir os derradeiros momentos de agonia com foguetes e música, mas a caminhada não resiste até ao calvário  


O cenário das vitórias distancia-se cada vez mais.




A teimosia do chefe social-democrata na realização da festa partidária das Carreiras serviu para reforçar uma evidência: o arensar do cisne moribundo inspira uma comiseração deprimente, no íntimo quer dos correligionários do político em queda livre, quer dos próprios adversários.
A tragédia dos incêndios neste Verão proporcionou-lhe um argumento sólido para riscar o anacrónico arraial do calendário. Mas ele sucumbiu aos apelos do ego, carente de uma reafirmação que ele sabe impossível.
Em lugar de reconhecer o inevitável fiasco, ele chegou a julgar-se capaz, até, de retirar dividendos de mais uma rábula serrana perfeitamente desajustada às dificuldades sociais criadas pela sua política irrealista e depravada.

Como acontece já no quotidiano vulgar, o homem arrastou-se lá por cima toda a santa manhã de domingo, sem disfarçar a raiva que lhe consome as entranhas. 
"Querem correr com aquele que deu ao PSD 45 vitórias em 37 anos", diria no decorrer da sua intervenção tragicómica. Trágica pelo decadentismo espaventoso que evidenciou. Cómica pelos pensamentos fantásticos expressos em contraciclo.

Já ontem se ironizava: o chefe foi a banhos ao Porto Santo e ao Porto da Cruz mas, na Herdade, contentou-se com um banho de espuma, porque os banhos de multidão acabaram.

O chefe, que habitualmente condena quem manifeste uma ideia divergente das suas, silenciando as diferenças em nome da unidade do partido, incentivou apoiantes seus à montagem de um ambiente hostil a Miguel Albuquerque, no âmbito da jornada partidária.
A rapaziada chefiada pelo ex-líder jotista José Pedro Pereira vestiu a camisola de apoio ao patrão dos Netos e preparou faixas provocatórias, para desfraldar quando o challenger municipal falasse.
Mas as coisas mudaram ultimamente, com celeridade. Albuquerque mostrou-se "em casa", todo o dia e em cada momento.
"Estou no partido há muitos anos, conheço os militantes antigos e os novos", dizia  tranquilamente o autarca durante a visita pelas barraquinhas que fez, paralelamente à via sacra do caudilho.
 
 
Rival de Jardim no meio do povo
 
 
 
 
O candidato ao lugar de Jardim passeou-se pelo recinto acompanhado por colaboradores próximos, entre eles o adjunto Rui Abreu. Os vereadores Pedro Calado e Rubina Leal não se esconderam e por lá caminharam a seu lado, para desagrado de Jardim.
Os apoiantes de Albuquerque exultaram de ver  a simpatia com que os militantes faziam questão de trocar impressões com o presidente da Câmara, de convidá-lo para um petisco. Na maioria, gente do campo, dado que a comitiva do candidato teve muito pouco tempo para percorrer as barracas das freguesias do Funchal.
Mas Albuquerque ainda ouviu um recado sugestivo: "Por que é que não posso ir aos seus jantares?", perguntou-lhe um cidadão na Herdade. "É militante?", quis saber o edil. "Não senhor".
"Então não pode, os jantares têm sido só para militantes", explicou Albuquerque.
"Mas por que não fazem um jantar aberto a toda a gente?", insistiu o cidadão.
A sugestão foi anotada.
"Não estou a fazer campanha, só estou a trocar impressões", explicou Miguel Albuquerque aos jornalistas que lhe pediam para desfazer essa dúvida.
 
 
Jardim, os jornalistas e os seguranças em romaria
 
Noutra rota dentro da Herdade, progredia pachorrentamente Jardim, rodeado por uma carrancuda brigada policial e pelos jornalistas de serviço.
Relatos de testemunhas falam-nos de um chefe com olhar preocupado, muito perto do desespero. Estado de espírito aceitável em quem vê o seu tempo fugir sem o poder parar.

O homem a deambular de tasquinha em tasquinha, sem conseguir armar uma piada que fizesse rir, como outrora. Ei-lo perseguido pelos fantasmas que criou pelos anos dentro. Os seus demónios de estimação compareceram na festa, para o atormentar, agitando a despedida dele com o lenço branco em punho.
O outrora poderoso chefe sem conseguir exorcizar a interminável fila de políticos de oposição a quem fez a vida negra durante mais de 30 anos. Mesmo aqueles que, militantes PPD, ousaram mostrar opinião e por isso caíram nas purgas decretadas para os "traidores", também esses fantasmas zombaram toda a manhã de domingo, perturbando a já débil raciocinação presidencial.
 
 
Atormentado pelos demónios que gerou
 
Chefe sentia o bafo de todos eles, a seu lado, por cima. Um sufoco. Mário Soares, Vital Moreira, que faziam ali? Santana Lopes, Durão Barroso, Ramalho Eanes, Vasco Gonçalves, Jorge Sampaio, Pedro Passos Coelho, Ângelo Correia, Cavaco Sr. Silva, até o falecido Eurico de Melo, mais Freitas do Amaral, Rui Pena, Álvaro Cunhal e todas as alas comunistas. Miguel Sousa Tavares, a burguesia do eixo Lisboa-Cascais. Gerações consecutivas de profissionais do Diário de Notícias, os Blandy, magotes de abantesmas da Madeira Velha que ele afinal representa. Tudo fantasmas incómodos. O Expresso de Balsemão, o antigo DN alfacinha do coronel Silva, o Público de Belmiro de Azevedo, as televisões do sistema, sobretudo a pública. A RTP-M e a RDP-M. Os jornalistas "avençados" que desalinham do PPD. Os "cadastrados" adeptos do Marítimo que o vaiaram, os que abortaram o clube único, 'Dínamo das Angústias'. Os bombeiros com Fernando Curto e os soldados da Ribeira Brava à frente. Os terroristas incendiários. Os padres que não lhe facultam o púlpito para ele pregar política partidária. A Troika. A Tríade. Os plutocratas. As "matilhas" que dentro da Madeira querem "lançar a confusão". Os colonialistas. Os traidores. Os colaboracionistas. Os que frequentam os jantares de apoio a Miguel Albuquerque. Os sindicalistas. A Europa neoliberal. A Marinha que tem servido no Funchal, comandantes da PSP e inspectores da PJ que não comparecem ao beija-mão. Os "elitistas locais". Os mentores do "plano cirúrgico contra a Zona Franca". As Forças Armadas "efeminadas". Os lisboetas e os açorianos, desde o PSD ao PS e ao PP. O Tribunal Constitucional, o de Contas, o Ministério Público, a ERC, a Comissão Nacional de Eleições. Os chineses, os indianos, os timorenses, os americanos. As antigas províncias ultramarinas a quem Portugal perdoou dívida. A Maçonaria, a Trilateral, George Bush, Angela Merkl. Os banqueiros que recusam patrocinar mais loucuras financeiras do chefe da tabanca. Socialistas, comunistas, centristas, social-democratas, social-cristãos, monárquicos, republicanos, integralistas lusitanos.

Este mundo e o outro a tramar a carreira política do líder superior.
 
 
 
A caminho do patíbulo
 
 
Enfim, após 36 anos de violentos combates, os demónios conseguem vergar o guerreiro.
Este domingo, ele deu mais uns passos rumo ao patíbulo. A Herdade, em certos momentos, conforme as quedas do rei demissionário, reflectia cores frias como no Monte das Oliveiras.
Jaime Ramos, no boné dos comícios rurais, pintou a sua intervenção em palco recorrendo à comparação bíblica, e desta vez sem o lapsus linguae do costume. Porém, voltado para inimigos e adversários exteriores ao partido, designadamente o PS, que "lava as mãos como Pilatos", e o PP, "falso como Judas".
Mas o chefe máximo, à parte a inevitável grosseria da tarde - "Não vou abrir as pernas ao CDS" -, quase ignorou a Oposição, obcecado que anda com a perda de poder para Miguel Albuquerque.
Depois da hilariante expressão "o povo está farto de discursos decadentes", numa hora maldita em que a boca lhe fugiu para a verdade, o chefe deixou-se acabrunhar num ambiente a fazer recordar a noite das angústias no tal Monte das Oliveiras. Frase a frase, interrompia-se a si próprio para delatar os traidores do PPD que pretendem rebentar o partido por dentro, ao serviço da Oposição. Disco riscado. As massas que ele queria fazer revoltar contra Miguel Albuquerque só reagiam quando puxadas pela banda de serviço ao comício, e ainda assim faziam-no apenas os jotas de Pedro Pereira e umas figuras castiças da cidade, alvo de aproveitamento sem ética para se posicionarem diante do palco, a mostrar "as bandeiras no ar".
 
 
Mitomaníaco das Angústias sem remédio
 
À espera de Quim Barreiros, o povo, que deixara uma desoladora clareira no centro do recinto, nada ligou às fantasias contra o Judas traidor e os Pedros que mentem três vezes antes de o galo cantar. Até porque ninguém associa a Judas um ser humano pelo simples acto de, enquanto militante, candidatar-se a líder do seu partido.
Quanto a mentir, ninguém chega aos calcanhares do mitomaníaco das Angústias. "O dinheiro que o governo regional arranjar não é para os bancos, é para pagar aos pequenos empresários", disse em palco, ele que há bem pouco tempo mandava os credores "bater à porta de Lisboa".
"Não assinei nem assino nada com a Troika": lembram-se de quem o gritou aos quatro ventos?
E não ouviram a peregrina versão, domingo, de que o desemprego é o maior flagelo da Madeira criado por... Lisboa?!
A propósito, os números do desemprego sempre foram, no dizer do chefe, empolados pelos inimigos da Madeira, pelo que o papel de pior flagelo da Madeira cabia, segundo ele, à Maçonaria. Agora, que se lembrou de atribuir culpas à estátua do Marquês, eleva o desemprego ao patamar do flagelo.
 

 
 
Aquele que se julga o eterno líder, o salvador da Madeira, o rei da Autonomia, o empreiteiro do regime, o padrinho dos aparelhistas - numa palavra, o 'Único Importante' - ele sabe que sempre pôs madeirenses contra madeirenses e que dividiu o seu próprio partido, e sabe-o porque o fez de propósito, para reinar a seu bel-prazer. 
Viu-se nas atitudes dos jovens dissidentes da JSD, que na véspera da festa, sábado à noite, aplicaram os prometidos correctivos a partidários da direcção actual. Pé-de-vento quando as duas facções se cruzaram numa visita de reconhecimento à Herdade.
"Presidente só há um, Alberto João e mais nenhum", diziam as camisolas e faixas erguidas pelos rebeldes quando Albuquerque pegou na palavra, em cima do palco.
Concretizava-se outra ameaça.
 
 
Albuquerque imperturbável
 
 
 
 
 
Albuquerque vacilou? Todos viram, nem que fosse pela televisão, que o rival de Jardim tem a lição estudada - e uma das alíneas do sumário é ignorar provocações, quer dos jotinhas ressabiados, quer do líder do partido em funções .
Ele, Albuquerque, enfrentou a situação delicada com à-vontade e transmitiu as duas mensagens que se lhe impõem no momento: que todos os social-democratas devem remar para o mesmo lado, na senda das vitórias, e que o PPD "não é um aparelho do poder, mas um partido ao serviço do povo".
Vencidos os minutos que se anteviam como os mais difíceis da sua carreira partidária, o presidente da Câmara do Funchal retirou-se para as traseiras do palco. Acendia o primeiro cigarro e percebia os ataques que Jardim lhe preparava - ofensas ditas ali, de companheiro contra companheiro, diante de militantes e não militantes e, por via das rádios, aos ouvidos do povo.
Miguel ouviu os remoques que pintalgavam quase todos os pensamentos expressos pelo chefe e, quando Jardim ainda despejava bofes rancorosos, já ele aparecia junto das barraquinhas à volta do recinto.
Nessa fase, a música jardinista sem-fim já não era escutada por quase nenhum dos 30 mil visitantes que o JM inventaria para, em manchete desta segunda-feira, tentar justificar o fiasco da visita ao santuário laranja. Bom, se estavam 30 mil na serra, 15 mil eram gente e os outros 15 mil troncos de pinheiro e de eucalipto e cabeças de gado. Contas mais aproximadas da verdade.
 
 
Clareira preencheu-se um pouco... com Quim Barreiros
 
Foi um dia próprio do decadentismo que esvazia o laranjal madeirense. Autocarros a chegar à Herdade com 4 e 5 pessoas, conforme reparou um jornalista de credibilidade integral. Lugares à escolha na área de estacionamento. Clareiras por todo o lado.
Espelho do jardinismo em agonia.
Não há barões que espontaneamente saltem ao terreno para apoiar a candidatura do chefe nas eleições internas, a não ser quando pressionados pela comunicação social do regime.
Não há barões que se insurjam publicamente contra as vaias e os copos de cerveja lançados ao venerando.
A própria comunicação social do Continente, que antigamente aproveitava o alarido laranja na serra para preencher papel nos estios magros de notícias, nada ligaria, nas edições de hoje, às cansadas incidências da Herdade.

Jardim saiu do santuário umas três e tal da tarde. Não sabemos se chegou a reparar no preenchimento rápido da clareira central com as pessoas que haviam ficado a leste dos discursos - preenchimento à conta de Quim Barreiros. Os 15 mil aproximaram-se então para ouvir 'a garagem da vizinha' e as marchas do Benfica, Sporting e FC Porto, até ao hino da apoteose, o do Marítimo.
 
 
Jardinismo decrépito
 
Que é isso do PPD jardinista, hoje?
Quase já não há. Resta um líder medroso do povo, que se movimenta sob escolta na sua própria terra, que nem arrisca o brilho da tribuna dos Barreiros. 
Restam alguns 'incondicionais' sem espaço onde cair no dia em que o chefe salte do carunchoso pedestal.
Resta uma juventude laranja fraccionada que espelha o desnorte interno. 
Vê-se um partido claramente à espera da mudança, para recomeçar do zero.
 
Chefe das Angústias desceu à cidade afagado pela visão do cartaz das 45 vitórias em 37 anos. Ironicamente, será em eleições que verá terminado para sempre o seu consulado. Se não acontecer já em Outubro, nas eleições internas do PPD, será na oportunidade seguinte. A derrota espreita.
Se o desconhece, não vive na Lua, mas em Plutão: em condições normais, perde internamente com Albuquerque. E de forma nenhuma venceria se aceitasse eleições antecipadas para medir forças com a oposição, hoje.
O último canto do cisne soa feio.
 
 
 
Que ficou desta infeliz festa?
 
 
 
 
Que resultados desta jornada na Herdade que o chefe, se fosse tão esperto quanto apregoa, adiaria 'sine die'?
Pois ficou a prova de que muito poucos ligaram aos seus apelos escritos ou mendigados nos adros.
Ficou assunto para conversas de café, esta manhã, ao balcão, em público - de revolta contra os dislates do ditadorzinho tribal.
Ficaram as críticas de empregados e clientes no reduzido movimento das casas comerciais, visando um regime caduco, críticas ditas à boca cheia, sem os receios de há meses.
Ficaram as histórias da serra que ouvimos relatar pelo Funchal, quase todas deselegantes para o rei das Angústias.
Ficou a certeza de que, mesmo no meio do regabofe de arraial pseudo-jardinista, os militantes já dizem diante das câmaras que, sim senhor, a Madeira precisa de caras novas.
E ficou aquela figura castiça que ontem vimos, pela TV, saltar exuberantemente diante do palco onde Jardim rogava pragas ao seu adversário de partido.
Disse-nos essa figura castiça já nesta manhã de segunda-feira, diante da Sé Catedral, sem que lhe fizéssemos qualquer pergunta:
- Gostei daquilo lá em cima. O Albuquerque falou bem, gostei muito. Tenho para mim que o Albuquerque vai fazer uma surpresa.


4 comentários:

Anónimo disse...

quem esteve na " festa " pode ver que alguns fugiram para não se encontrar com Miguel Albuquerque. outros malcriadamente olhavam de frente e para fazer o frete ao chefe Fingiram não ver, entre estes estava um miudo que a força das circunstancias colocou como presidente de uma camara das costas de baixo e que armado em menino mal educado não cumprimentou o colega embora todos os seus acompanhantes o fizessem.
as trombas devem ter ficado grandes quando uns metros á frente viu Manuel Antonio e Miguel Albuquerque como pessoas educadas que são em amena cavqueira.

Anónimo disse...

Depois de tudo o que Rui Alves fez onde estava o hino do Nacional? Mais uma desonestidade do reizinho...

Paulo disse...

Ate os agentes da PSP tiveram direito à banho de espuma, nao fosse alguma crianca atirar bolas de sabao ao Rei.

Luís Calisto disse...

Os que agora fogem dos adversários do chefe serão os primeiros ratos a deixar o navio!