Powered By Blogger

sexta-feira, 19 de março de 2021

 



CRÓNICA


JUVENAL XAVIER                                                                                  





POLISSEMIA 

DA LÍNGUA DE TRAPOS 



 

 

Nesta colorida roda-viva à distância de um clique, neste rebanho tolo (de que fala Walter Lippmaan), nesta onda pós-industrial ou pós-chaminé fabril (como lhe chamou Alvin Toffler, em Os Novos Poderes), ou nesta azáfama digital violentamente atacada pelo vírus multiforme do ruído das frases sem miolo, fala-se tanto numa nesga de tempo que, engolidas as palavras num aperto, às tantas ninguém fala, nem ouve e muito menos compreende ou entende. Em crescente aceleração transversal, é a guerra surda dos berros à flor da pele, estampada num palmo de cara de estupidez zelosamente assumida. 

O problema, na sua essência elementar ou primitiva, explica-se ou abrevia-se pelo desataviado facto doméstico de nos lembrarmos pouco do que ouvimos e muito menos do que apreendemos. Só nos lembramos, na verdade, daquilo que fazemos. Sobretudo, se estamos plenamente presunçosos de que fazemos infalivelmente bem. 

Eterna mania do arco-da-velha da novíssima polissemia da língua de trapos à procura de uma moderna perspetiva da exterioridade (sincrónica ou diacrónica) da consciência marginal, num quadro de aguda debilidade mental.  

O jornalista da capital (inquilino familiar do poder, senhor de fontes fidedignas e da regra do background cultural; amante do status do scoop, bem como de advérbios e adjetivos; campeão nacional de share) não chuta, nem finta e sobretudo não dispara com raiva a matar na cara do golo com a parte de fora do pé que tem mais à mão.  

No pensamento do jornalista italiano Furio Colombo (autor de Conhecer o Jornalismo Hoje), “divulga-se a informação apesar de o grande jornalismo escrito e televisivo parecer encaminhar-se para uma crise de deterioração, uma falta de respeitabilidade e de confiança do público.” No entanto, Vladimir Volkoff (que estudou a manipulação informativa) separa as águas, na Pequena História da Desinformação, ao corroborar que “pense-se o que se pensar, a objetividade não só não existe em matéria de informação, como qualquer pretensão à objetividade deve ser encarada com suspeita.” Bertrand Russell – Nobel da Literatura em 1950 e campeão da liberdade de expressão no mundo ocidental – pergunta e pergunta bem: Porquê cometer erros antigos, se há tantos erros novos para escolher?  

E digo eu como se tivesse descoberto a pólvora (huo yau), antes da dinastia Tang, na China, no século IX (d.C.) – há inteligências que produzem erros perfeitos. Mesmo assim, para Molière, os erros mais breves são sempre os melhores. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Juvenal
Nem escreves nada ao Amigo Nicolau?
espero que o faças para teres muitos comentários