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segunda-feira, 16 de abril de 2012

O que vai na praça

ESTE NOTICIÁRIO FAZ PARTE DA CAMPANHA CONTRA O MAU COSTUME DA INTRIGA

Os boatos, as notícias e os comentários zuniam esta manhã de segunda-feira na baixa com tanta velocidade e tanto veneno que não me escapuli para o aterro, como faço habitualmente quando as coisas aquecem assim. Aproveitando uns restos de gasolina ao preço antigo ainda no depósito, dirigi-me à Serra de Água e ao Lugar de Baixo, a fim de apreciar as vistas.
Ninguém ficaria mais tempo na zona das esplanadas depois de ouvir o que ouvi. Tudo da boca de gente responsável e sensata, nada de comunas, súcias, ingleses, chineses ou cadastrados do futebol. Há um sujeito que pára por ali de quem suspeito alguma ligação à maçonaria, mas ainda não descobri o assunto direito. O único dado que disponho dele é que em tempos foi eurodeputado. Não se trata de Sérgio Marques, só para esclarecer.

Victor exige que o governo
desgoverne e governe ao
mesmo tempo. Ou bem
uma coisa ou bem outra.
Uma das observações deitadas à mesa foi que o chefe socialista Victor Freitas exige demais deste governo jardinista. Porque Victor apelou para Jardim mais os secretários no sentido de que comecem a governar, dada a situação dramática em presença.
- O governo regional não tem quatro mãos - disse um vadio que vive do RMG - Só tem as duas do chefe. Não se pode fazer tudo de uma vez.
- Também acho que o Victor Freitas exagera - acrescenta o empregado, outra vez de mãos livres, sem pedidos de café - O governo não pode estar a desgovernar e a governar ao mesmo tempo. Se começou o mandato a desgovernar, deixem os homens acabarem o trabalho para então começarem a governar!
- Exactamente - concorda o do RMG - Já se sabe que quando acabarem de desgovernar não vai haver nada para governar, mas pelo menos que se façam as coisas com método.


Carlos Pereira foi achincalhado por Jardim,
mas o tribunal absolveu sua excelência
e será sorte se o socialista não pagar uma
 indemnização por denúncia caluniosa.


Olhei à volta e não vi ninguém da máquina partidária de Jaime Ramos.
- E o Carlos Pereira? Também queria meter o Alberto na cadeia!
Era um ensebado, que em tempos vendia tabaibos e pepinos com sal fino à roda do mercado, e que hoje ganha a vida como assessor coriáceo de um conhecido político. Referia-se à sentença dada esta manhã e que absolveu o rei das Angústias de uma queixa feita pelo deputado socialista Carlos Pereira.
Só para enquadrar à pressa: o chefe das Araras, durante um comício do PSD no Porto Santo, acusou o socialista de ter vendido uma empresa ao Estado, através do Turismo de Portugal, e de ter feito trabalhos 'bem pagos' para o governo dos Açores. Tratava-se, obviamente, de mais um número inventado por um reflexo mentiroso compulsivo, merecedor de recurso aos tribunais. O processo correu até à sentença desta manhã, que o ensebado já conhecia.
- Essa coisa da compra ou venda da empresa não se provou - conta o ensebado - E o tribunal reconheceu que a denúncia evidentemente leva uma pessoa a julgar o Carlos Pereira capaz de negociatas ilegítimas. Mas, se o tribunal disse que o queixoso passara por uns tempos vexado e humilhado, também esclareceu que o resto das queixas eram treta. Quem é que pode provar que o bom nome do socialista foi parar à lama? E mais disse a sentença: aquilo são coisas entre os políticos e toda a gente sabe, no país inteiro, que o feitio do nosso chefe é aquele que Deus lhe deu, quando quer achincalhar o adversário. Já é um costume e, portanto, não se vai condenar o homem por isso.
Outro conviva interpõe:
- Então, se eu matar dez pessoas, quando matar a décima primeira já não sou condenado, porque é um hábito meu...
- Oh amigo, eu não estou aqui para desconversar - carrega o ensebado - Leu a sentença? Eu li. Para levar as coisas a sério e para respeitar quem nos governa, acho que o nosso chefe até devia processar o Carlos Pereira por causa... desse falso testemunho!
- Por denúncia caluniosa?
- Isso mesmo. O chefe é que não é pessoa de rancores, senão ainda ganhava uns trocos para pintar o carro. Agora dizer que o chefe ofende alguém só para o tramar, como se ele não pudesse ter o seu feitio.
O outro acaba por reconhecer:
- Acho que tens razão. Ainda bem que a justiça funciona neste país. Aliás, na Madeira.

Os indigentes reclamam contra a concorrência dos políticos falidos que andam à esmola pelos adros.


Ninguém ousou contrariar a corrente formada favorável ao chefe. Nunca se sabe se não estará um ouvidor régio debaixo da mesa. Um distribuidor de refrigerantes actualmente no desemprego chegou ao local sem saber do que corria na praça.
- Fartei-me de rir à gargalhada mesmo agora ao ler o jornal dos padres e do chefe das Angústias - entrou ele.
- O artigo do chefe foi domingo - zomba o empregado de mesa, despachando-se do local para não ouvir a resposta.
- Que motivo havia para rir? - desafia o ensebado.
- Diz lá que o Jardim foi domingo a Machico falar à população.
- E onde está a graça?
- Porra, eu sou machiqueiro, passei pelo adro a essa hora e não vi população local nenhuma a ouvir o mestre.
- Mas o jornal não diz que ele foi a Machico falar à população de Machico.
- Sim, então está certo - reconhece o recém-chegado - É que o João Cunha e Silva, o Jaime Ramos e companhia, que eu saiba, não são meus conterrâneos.
O ex-bancário, que ainda não abrira a boca por estar a ler uma notícia desportiva, deu sinal de vida.
- Estão a falar do adro de Machico? Ouvi dizer que os mendigos querem fazer uma manifestação à frente da casa do bispo, nas Quatro Fontes.
- Deixa-te de graças.
- É verdade. Vão pedir para os párocos não permitirem a concorrência dos políticos indigentes que andam a pedir esmola à saída das missas. Desde que andam de adro em adro, até o Ganita deixou de sair tanto dos supermercados. E não apenas no Sá.
Alguém ficaria mais um segundo na zona das esplanadas com este menu a correr na praça? Claro que não. Raciocinei: onde é que eles andam estes dias? Machico e Caniçal. Pois então vou para oeste.



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