No sapatinho dos Delfins

NOITE DO MERCADO 

ENTRE O AMOR E O PERIGO

'Vaga de fundo' relança projecto de continuidade na chefia do Laranjal. Desenha-se uma unanimidade inédita em torno de Jardim: até a Oposição está com 'Meio Chefe' e quer que ele ganhe as eleições internas no PPD-M, daqui a um ano.

Pedro Calado, ex-vice de Albuquerque e administrador do AFA; Rubina Leal, albuquerquista e técnica de uma instituição cubana; Humberto Vasconcelos, ex-presidente de S. Vicente, apoiante de Albuquerque e expulso do PPD; Ricardo Oliveira, director do conhecido Diário do Blandy; Sérgio Marques, candidato 'politicamente correcto' à sucessão de Jardim. Mas alguém arranja explicação para esta interessante 'coligação'? 

Fotos HÉLDER SANTOS

Galvanizado pelas manifestações de apoio de José Miguel Mendonça, Guilherme Silva e agora de Zé Pedro Pereira, chefe Jardim largou da Quinta das Angústias, ontem a meia tarde, e marchou sobre o Funchal à frente de um batalhão de secretários, assessores, adjuntos e uns 10 seguranças à paisana. Atendendo à desmoralização vigente no centro de dia das Angústias, por força de alguns 'politicamente correctos' que agora se candidatam à liderança PPD sem pedir autorização superior, chegámos a julgar que desta vez não haveria copofonia presidencial a 23, dia de Mercado. A ponto de termos mandado para férias natalícias os exaustos agentes K.

À informação de que o batalhão das Angústias descia em passo cadenciado e seguro pelo asfalto da Infante abaixo, a chefia de Redacção obrigou-se a correr ao acontecimento, mantendo-se porém a prudente distância porque os tropeiros social-democratas avançavam pela Rotunda, em direcção ao Teatro, com cara de poucos amigos. 

Os transeuntes, apanhados de surpresa, abriam alas ao varonil cortejo de marretas, notando-se que alguns desses transeuntes se atiravam em súbita 'queda na máscara' para fugir às vistas de 'Meio Chefe' e suas tropas.

Convém notar que no batalhão seguiam dois delfins, ou pelo menos um delfim e meio. Referimo-nos a Manuel António Correia e a João Cunha e Silva.

Zé Pedro magoado com a mediocridade insular: toca a limpar isto!

Justificava-se plenamente aquele salto no moral de Jardim. Apresentado dias atrás por Guilherme Silva e Miguel Mendonça como o mais natural sucessor de si próprio, ele viu essa temível onda reforçada domingo passado, com a entrevista de Zé Pedro Pereira, o conhecido 'deputado de Jardim', ao programa 'Rádio Totobola', de Acácio Pestana - com desenvolvimento no DN, através do teclado de Miguel Silva.

Com a frontalidade que se lhe reconhece, Zé Pedro exortou as pessoas pensantes a criar uma vaga de fundo que convença 'Meio Chefe' a reconsiderar a decisão de, como diz o outro, 'pôr-se a milhas' das Angústias. 'Sem papas na língua', Zé Pedro como que deu um soco em cima da 'consola' do estúdio da TSF para sublinhar que "a Madeira tem de acabar com a mediocridade a vários níveis e também política". 

Parece que ninguém contestará esta afirmação do jovem deputado independente acerca da mediocridade que grassa nesta terra. Compreendemos a mágoa do jovem deputado.

Para pôr ainda mais em evidência que Jardim é o motor do PPD, Zé Pedro preconizou nova limpeza no partido, a começar pelos Ramos - Jaime Filipe e Jaime Ernesto -, alertando paralelamente para o perigo que seria deixar o Laranjal cair em mãos erradas, porque daí resultaria derrota certa nas regionais de 2015. As mãos certas, embora sem a firmeza de outrora, são as de Jardim - percebe-se das palavras do entrevistado. Palavras decididas, de resto, principalmente ao demonstrar que os delfins são prejudiciais ao seu partido: "Líder que é líder não é delfim de ninguém", estabeleceu Zé Pedro, obrigando-nos a mais uma reflexão profunda.

Temos de destrinçar, por um lado, o 'líder que é líder' do 'líder que não é líder'. To be or not to be... Um líder pode ser líder e deixar de o ser ao mesmo tempo?

Depois, urge convencionar que um líder, sendo líder, não pode ser delfim ao mesmo tempo; não pode ser líder e delfim simultaneamente. Ou já chegámos à Madeira?! 

Victor apoiante entusiástico do movimento 'Juntos por Jardim'

...De onde se pode intuir que, no vigente sistema que Zé Pedro quer ver eternizado, um delfim que seja delfim não pode ser líder de ninguém. E se um delfim não pode ser líder, então fica líder o líder que lá está. A não ser que o líder que lá está já não seja líder de ninguém a não ser da vaga de fundo com as 3 pessoas mencionadas e os líderes da oposição, que já esfregam as mãos de contentamento.

Sabemos que Victor Freitas é um dos mais entusiastas apoiantes de um emergente movimento 'Juntos por Jardim'.

E porquê essa estranha disposição do líder socialista? Porque, ao que nos disseram, Victor quer fazer poupança muito a sério na campanha das 'regionais' 2015.

Outra parte da entrevista de Zé Pedro que certamente inchou aquele cansado ego de 'Meio Chefe' foi a das bicadas aos "mal agradecidos" delfins que hoje se atrevem a participar na disputa da liderança - o que exige correr com o ex-eterno patrão.

Quem seria Miguel Albuquerque se não tivesse chegado a presidente da Câmara? - pergunta o jovem deputado com veemência. Quem conheceria Manuel António se Jardim não o fizesse secretário? E Sérgio Marques, quem o conheceria sem o jardinismo? Quantas reformas teria Jardim hoje, se não fosse o Bispo Santana e se a diocese não tivesse um jornal? (perdão, esta pergunta não foi feita, perdão).

O homem queria ser presidente de tudo

Mas... declarações de Zé Pedro mais oportunas do que se possa pensar, porque entroncam com uma velha ambição jardinista de concretização impossível, enquanto não houver uma revisão constitucional a jeito. É que Jardim sempre quis ser, além de presidente do PPD-M, do governo, dos Bombeiros Voluntários e parece que dos Guerrilhas, sempre sonhou ser sinultaneamente presidente das 11 câmaras da Região, presidente da Assembleia Legislativa e do grupo parlamentar do PPD, presidente do Marítimo e do Nacional, director do Diário de Notícias (do JM já é), presidente de todas as comissões de freguesia laranja e presidente das bandas de música da Madeira inteira. Que raiva ele ter de deixar outros serem chefes de alguma coisa!

Se ele pudesse acumular tudo... Já viram quantos vencimentos e quantas reformas estariam a cair na conta do homem, todos os meses? Invejosos que não deixam fazer a revisão constitucional, para ele ser juiz também!

Isto é: como diz Zé Pedro, ninguém seria 'puto' nesta terra sem a esmola de Jardim, que só não açambarca todos os cargos porque temos uma Constituição de m... Depois, é o escândalo de se distribuirem cargos a madeirenses inúteis que tocam piano, falam francês e posam para as revistas de cabeleireiro!

'Meio Chefe veio então por aí abaixo, numa demonstração de força que nos obrigou a fazer esta reportagem escondido entre as plantas de folhagem mais densa do Jardim Municipal, a ver a troupe natalícia em marcha para a Praça da Restauração, onde o chefe ancião tomou uma bebida doce e saltou à corda com as crianças. 

Adaptando uma frase de Zé Pedro Pereira, não é por saltar à corda que se deve sair ou ficar no governo.

Não esqueçamos que, segundo as escrituras do homem na última página do JM, o próprio Cristiano Ronaldo deve o seu sucesso, digno de um conto de Natal, à autonomia do PPD e à política desportiva de 'Meio Chefe'. Messi e Ribery que nascessem cá, se queriam ser melhores do que o nosso CR7 - e não são.

Destaque ainda para uma sentença de Zé Pedro na referida entrevista: "Não há idade para ser ou deixar de ser presidente."

Para que fique registado.

Mas falávamos de Natal. 

Por falta de agentes K, tivemos de arcar com várias reportagens ao mesmo tempo. A marcha marcial do chefe também exigia observação minuciosa ao comportamento dos delfins, os tais mal agradecidos apontados por Pedro Pereira - só Miguel de Sousa e João Cunha e Silva escaparam à cartilha do deputado independente. 

Manuel António a resguardar-se: desde a indigestão das lapas naquele maldito jantar no Norte, a meio dos Juntos por S. Vicente, uma pessoa já não sabe o que há-de comer para não desagradar ao chefe.

Amarrados curto e desaparecidos

Já é costume. Porém voltámos a ficar um pouco intrigados com o Vice do governo: mais uma vez, não lhe conseguimos pôr a vista em cima, dia 23. A Calheta organizou noite do Mercado? Mistério.

Em compensação localizámos mais ao fim da tarde Manuel António Correia atirado a umas rodadas de imperial na 'Cica', à entrada do Mercado. Estava com Pedro Gomes e mais alguns apoiantes da candidatura. Lá se devoravam uns dentes de carne de vinho e alhos, até que o secretário-delfim zarpou do local para o habitual convívio familiar, algures no interior do Edifício Anadia.

Miguel de Sousa, eram para aí umas 8 da noite, atravessou a cidade pela Rua dos Murças, em direcção ao Mercado. Não sabemos se chegou ao destino, porque, se não perdera o habitual sorriso aberto, não avançou mais do que um cumprimento lacónico às mesas das esplanadas que cruzava. Por causa do peso do sobrenome, que 'Meio Chefe' costuma invocar? Não. Porque ia, perdoem a gíria, 'amarrado curto'. Sem política.

O que estava para vir

O melhor - ou o pior, depende - estava para vir. Neste dia 23, havia jantar de jornalistas no 'Almirante'. Convidado de honra: Sérgio Marques, que sucedeu a Paulo Cafôfo, convidado em Novembro. 

Sérgio Marques, esse tal eurodeputado que Zé Pedro mal conhece? 

Nem mais: o delfim que anunciou há pouco a sua candidatura à liderança do PPD-M.

O jantar atrasou-se. Pouca gente. Que se passava? Alguém aventou que, se calhar, Miguel Albuquerque diligenciara uma iniciativa paralela, para esvaziar a festa a Sérgio Marques. Mas não. Era o trânsito. O jantar começou com casa cheia.

Se não é quererem rebentar com o resto da cabeça do homem, não sei o que diga.

Como se previa, os jornalistas, meio a sério meio a brincar, foram tentando encher o copo do antigo eurodeputado, a ver se lhe conseguiam soltar novidades. Em vão. Sérgio é prudente e sabe mais do que aprendeu. Bem se tentava que ele desancasse um bocado em 'Meio Chefe' e nos delfins rivais, mas isso!

Então que era esse melhor que estava para vir?

Pois. De repente, irrompeu na sala do jantar... Rubina Leal, em carne e osso. 

A discussão entre Luís Filipe Malheiro e Rubina Leal, ou Mata Hari na óptica de 'Meio Chefe', não era sobre política. Filipe estava ali na qualidade de jornalista, não queimem mais um.

Esta agora! Um elemento preponderante da candidatura de Miguel Albuquerque a profanar um convívio onde pontuava o rival Sérgio?!

Embora em jantar privado, estalaram os flashes, os piropos, as insinuações.

Ai a 'malta dos jornalistas' queria festa? Um momento. Um momento para Rubina Leal descer as escada e subi-las outra vez, acompanhada por mais gente mediática: Pedro Calado, que foi vice de Albuquerque na Câmara do Funchal, e Humberto Vasconcelos, ex-presidente de S. Vicente, agora praticamente expulso do PPD.

Imaginem o nosso colega Hélder Santos com este 'filet mignon' à mercê da sua inconfidente digital! 'Flashada' para baixo! Se houve embaraços por parte dos protagonistas do encontro, disfarçaram bem. 

Se Miguel Albuquerque, mesmo sem aparecer, descobriu a festa e montou a ratoeira para tramar Sérgio Marques da forma como Manuel António se tramou com aquela caldeirada de lapas no Norte, não foi mal visto. Uma coisa é certa: há um elemento comum aos dois acontecimentos, que é Humberto Vasconcelos. Esteve nas lapas e esteve ontem no Almirante. 

Atalhando, este 23 de Dezembro, entre histórias de amor e de terror, pode vir a dar que falar. As hostes jardinistas não andam a dormir na forma. Zé Pedro começou a sua noite no 'Encontro', perto da Sé. Controlo apertado. E se Miguel Mendonça recolheu mais cedo, depois de ter ido com o bólide da Assembleia, com bandeirinha recolhida, comprar umas prendas ao Fórum Madeira, já Guilherme Silva percorreu ruas da baixa, como a Fernão de Ornelas, com 'olho no fogão'.

Chefe a rebentar bombas de garrafa

Quem por acaso receie que estes encontros e desencontros de Natal, no meio dos licores, boroas, beijos e abraços, venham amolecer a situação política regional, que se anime. Também chegámos a temer que o ambiente se deixasse inundar de lamechices imbecis, logo agora que arrancamos para o ano D, lá no sítio do Laranjal via Trapiche. Não. Esta manhã, quando com os olhos quase fechados por causa da ressaca pegámos no JM, pronto, nada de pânico. Isto continua cada vez mais na mesma, como interessa.

Estimulado ainda pela entrevista de Zé Pedro, chefe ainda teve tempo de enviar para publicação um artigalho de última página no qual, sem nada que lhe ocorresse para peguilhar, decidiu abordar... a colocação de cartazes na cidade! 

Bom: ler aquilo é apanhar com uma grosa de bombas de garrafa nos ouvidos, sobretudo se o leitor se chamar Miguel Albuquerque.

Para 'Meio Chefe', Albuquerque é aquele "politicamente correcto e irresponsável" que, durante alguns anos em que se mostrou "mais virado para a promoção cor-de-rosa", "pactuou com a imundíce (sic) de cartazes ao Deus dará"... "como agora vergonhosamente se os vê (sic) misturados com a bela decoração de Natal e Ano Novo".

Pegar por pegar, o sua excelência de lá de cima rebusca também - reconheça-se que acertadamente, no caso - o "bando de tendas brancas (na baixa), tipo mercado marroquino, inclusive na concorrência aos Senhores Comerciantes de porta aberta que pagam os seus Trabalhadores e impostos".

Embalado neste espírito de Natal, o sua excelência recua ainda mais no tempo, aos primórdios da "autonomia", para esta bordoada cruel a inimigos de outrora: "Ainda hoje me riu (sic) ao lembrar os tempos de deputado na Assembleia Legislativa da Madeira, primeira Legislatura, época 'revolucionária' em que se apresentar porco dava ar de 'pôve', um deputado socialista aparecer de chinelas de enfiar o dedo e de higiene pouco recomendável nas patinhas..." (sic)

O artigo de amanhã, Dia de Natal, promete. 

2014 também.

PS - Tentaram vender-nos a ideia de que Zé Pedro Pereira foi aliciado para rebentar o PPD por dentro, que é o que acontecerá se Jardim for a votos. Mas não avançamos sem provas.