VICTOR PERTO DO CÉU
E PERTÍSSIMO DO INFERNO
Victor Freitas, Em Entrevista: há a Madeira de antes do 29 de Setembro e a Madeira depois do 29 de Setembro. |
O líder socialista foi reeleito sexta-feira, 13, e mais uma vez se fica sem perceber se a superstição insinua sorte ou azar. Certa, certa é a coragem do presidente do PS-Madeira. Se os mais elitistas se habituarão a um Victor Freitas líder em definitivo, veremos.
Chegado aqui, é evidente que o reeleito presidente do PS-Madeira arrisca simultaneamente a sua carreira e o futuro da Região. Mesmo que, devido a circunstâncias futuras, acabe por não se candidatar a presidente do governo regional, será ele o grande mobilizador de um projecto, pela parte oposicionista, a engenhar para disputar as regionais de 2015. Terá mais a perder do que a ganhar. Se o despedaçado PSD-M cair então, a façanha de Victor não espantará muito. Se a derrota recair na Oposição, será ele o responsável pela perpetuação do Laranjal sabe-se lá por mais quantas décadas.
É muita coragem pôr em cima dos ombros o futuro da Madeira. Desta vez, os socialistas não irão a eleições com uma ideia nuclear de distribuir lugares no parlamento pelos activistas mais notáveis. Nem sequer concorrerão para retirar a maioria absoluta ao PSD. Concorrerão com a obrigatoriedade de vencer - sozinhos ou em coligação. Tudo o que não seja isso relegará Victor Freitas para um lugar desagradável da História da Madeira.
Reeleito para o desafio supremo
Os militantes socialistas, através do voto directo, acabam de reconduzir Victor para novo mandato no cargo de presidente do Partido Socialista.
A reeleição, ocorrida esta sexta-feira, dá-se depois de o mesmo Victor ter esclarecido publicamente que o seu desafio, para além da liderança do partido, é a sua candidatura à presidência do governo regional da Madeira, em 2015.
A assumpção dessa candidatura ocorreu depois do triunfo da oposição nas eleições autárquicas, fenómeno político-partidário que reflectiu o desejo de mudança entre os madeirenses.
Ou seja, Victor Freitas decidiu ocupar o espaço criado pela onda 'Mudança' - e demais ondas em vários concelhos - para liderar o objectivo supremo, nas eleições de 2015.
O líder do PS-M sabe das suas responsabilidades. Sabe que não poderá desperdiçar ventos que sopram a mudança política regional:
- a mudança dos gostos do eleitorado;
- o altruísmo de partidos que desprezam vantagens sectoriais a troco do derrube do jardinismo;
- a implosão que está a deixar o PSD-M em fanicos;
- a vaga nacional anti-PSD e correspondente impulso socialista, com inevitáveis reflexos na Madeira.
Victor Freitas joga com estes factores favoráveis e com mais um, de peso, que destacou na entrevista de quinta-feira à RTP: se os resultados de 29 de Setembro castigaram modestos autarcas social-democratas, o que fará em 2015, quando aparecerem na campanha eleitoral "os grandes culpados" pelo descalabro a que a Madeira chegou nos últimos anos!
Entrevista com a matéria na ponta da língua
A referida entrevista, conduzida pelo jornalista Virgílio Nóbrega, permitiu perceber que Victor Freitas, com quase dois anos pela frente, dispõe de muito espaço para, mais ou menos lentamente, criar empatia com os eleitores. Quem não sabia, ficou a saber que o antigo líder da JS anda com a matéria em dia.
Aproveitando bem o bocado de antena, Victor reanalisou as últimas autárquicas em ordem a não permitir que o seu partido possa ser dissociado da "mudança estrondosa". Pegando na Madeira pós-29, "de portas abertas para que a mudança continue", o líder do PS deu voz ao povo que pelas ruas se manifesta insistentemente "contra o cheiro a pólvora, a ofensa, a má educação". O mesmo povo que se indigna com o facto de o Continente chamar os madeirenses "uns Albertos Joões deseducados, deselegantes e ofensivos."
Em suma: "A Madeira precisa de uma nova e diferente liderança. Uma liderança participativa, que ouve os técnicos e depois decide".
Ou seja, uma liderança à medida de Victor.
Trocando por miúdos os números da tragédia financeira regional
Para além de questões de estilo, há outros motivos para o facto de "os madeirenses quererem uma mudança na Região". Designadamente a caótica situação financeira da actualidade.
Como disse o entrevistado na RTP: "Até 31 de Dezembro de 2015, o que estamos a fazer com este PAEF é somente igualar as receitas às despesas, por causa do défice". Mais nada, "não estamos a resolver problema nenhum".
Victor Freitas tentou explicar a situação real com números, de modo a que o povo entenda.
No 1.º de Janeiro de 2016, como vão as coisas, a Região depara-se com mais de 6 mil milhões de euros em dívidas.
Uma dívida de 1.500 milhões ao Estado - que, diz Victor, urge renegociar, estendendo-a no tempo, já que, em princípio, deve ser paga até 2033.
E uma dívida à banca, a roçar os 5 mil milhões de euros. Esta com prazos de pagamento apertadíssimos - 10 a 15 anos. O que, preocupa-se o presidente socialista regional, redunda num serviço da dívida de 400 milhões de euros/ano. Incomportável! Alerta Victor Freitas: "Para uma Região com um orçamento de cerca de mil milhões de euros e receitas próprias de 700 milhões, torna-se impossível pagar a dívida naqueles moldes."
E que vai a oposição fazer caso pegue nessa 'batata quente' deixada pelo jardinismo?
"É preciso sentarmo-nos com a banca e com o Estado - propõe-se Victor Freitas - e renegociar todo este empréstimo, de forma a deixarem-nos pagá-lo durante décadas."
Assistir aos compromissos com a banca nesses escassos 10-15 anos, fora de hipótese. Di-lo Victor, para quem, a fazermos isso, ficaríamos sem dinheiro para a Saúde, para a Educação, ou sequer para pagar aos funcionários públicos. Não vislumbra, portanto, outra possibilidade que não seja derramar os encargos da Madeira por 30, 40 e se calhar 50 anos. Só dessa forma o serviço da dívida exigirá ao cofre regional 150 milhões/ano, e não os tais 400 milhões.
Nesse caso, por que não conseguir isso a situação actual, o PSD? Victor Freitas explica: ninguém lá fora aceita negociar o que quer que seja com Jardim mais o seu governo.
Para conseguir resolver a situação, o presidente do PS formulou pela TV um pedido aos partidos da Região: que coloquem as ideologias de parte e se unam em coligação.
"Estamos todos no mesmo barco", alertou. "Se afundarmos, vamos todos. Apelo para todos os partidos, envolvam-se na mudança."
Victor pensa que só depois de uma viragem a Madeira conseguirá satisfazer os compromissos da dívida e, ao mesmo tempo, contemplar o crescimento económico, sem o qual nada feito. A viragem só será viável em coligação anti-PSD. Um acordo para 4 anos, até desafogar financeiramente a Região. Depois disso, diz Victor Freitas, cada qual segue o seu caminho.
E Victor anunciou durante a entrevista ter já recebido sinais de partidos interessados em integrar a coligação proposta. Informou que o diálogo continua, em diversos patamares. Incluindo com independentes, como aqueles que venceram em alguns concelhos a 29.
Ventos favoráveis em todas as direcções
Mas como assumir Victor uma responsabilidade assim, encabeçar um projecto que, se não der certo, o arruma como político e atira a Madeira para mais uns anos de laranjal?
O caso é que Victor está convencido de que dará certo. Desde que se evitem fórmulas que deram maus resultados. Como em 2011: um líder do PS (Jacinto Serrão) e outro candidato a presidente do governo (Maximiano Martins). Ou seja, o líder é que deve ser o candidato.
Hoje, os ventos sopram de feição. Pelas contas de Victor, se as autárquicas fossem regionais, a oposição em conjunto elegeria 31 deputados e o PSD 16. "Maioria absolutíssima", conclui.
Em 2015 não concorrerão autarcas, pois, mas os responsáveis pelo estado a que a Madeira chegou. Os intérpretes da "má governação", os autores da "ocultação da dívida".
Victor sistematiza os circunstancialismos do futuro próximo.
O PSD, que colaborou num mau PAEF e numa má Lei de Finanças Regionais, continuará em 2015 sem conseguir negociar com o governo de Lisboa, seja este de esquerda seja de direita.
O PSD não terá, pois, aliados na capital.
O governo central será novo, e solidário com a Madeira, presumivelmente governada também por novas cores.
"Em vez de aproveitarem essas condições, os madeirenses quererão continuar como estão agora, até 2019, votando no PSD-Madeira?" - pergunta objectiva de Victor Freitas.
O líder PS acredita no desejo dos madeirenses de acabar com os péssimos negócios em vias litorais e expressos. De acabar com a fome, com a pobreza oculta, com os 25 mil desempregados. "A economia está de rastos", alarmou. "É preciso não desperdiçar os dinheiros dos próximos fundos comunitários até 2020. Aproveitá-los para dinamizar a economia."
E mais. Passar o centro internacional de negócios à alçada do governo regional. Atrair o investimento dos empresários emigrantes. E impor de uma vez por todas um regime fiscal próprio, para acabar com uma situação em que os madeirenses pagam mais impostos do que os continentais.
Victor Freitas, ao correr da entrevista, interpretava sem dúvida o sentir do povo. Os seus compromissos para uma futura governação, como disse, incluem o 'não' aos monopólios nos transportes. Com parcerias, será possível tornear a TAP e a SATA. Estabelecer uma linha marítima regular de passageiros (e aqui leva o nosso voto incondicionalmente, já agora).
Os Horários do Funchal terão de garantir preços sociais. Se o turismo falhou, então é preciso ouvir os parceiros do sector.
Victor Freitas apresentou-se com ideias práticas. O que não lhe torna a vida fácil. Vem aí um primeiro teste: as europeias de Maio-2014 mostrarão o que vale o PS-M eleitoralmente. A conjuntura será ineditamente favorável aos socialistas. E então?
Antes mesmo, Victor terá de mostrar que Lisboa afinal é solidária com a Madeira e que o PS nacional dará um lugar elegível ao PS-M para o Parlamento Europeu. Desiderato que se afigura distante de Jardim, a braços com uma lista nacional a cargo de Passos Coelho e Paulo Portas.
Se Victor conseguir lugar elegível para o PS-M...
Os pequenos partidos fizeram o que os do sistema não conseguiram em 35 anos
Os resultados das europeias dirão se Victor Freitas vai no bom caminho ou se fará melhor - ele tem perspicácia capaz de interpretar esses sinais - continuando mentor do projecto de mudança política na Região, mas não necessariamente como cabeça-de-lista às regionais. Antes propiciando a reedição da 'Mudança' autárquica, com independentes na vanguarda.
Ainda assim, para liderar o movimento coligacionista, o PS terá de tratar o processo com pinças. O PTP de José Manuel Coelho acaba de esclarecer - no congresso da passada semana - que não está para se deixar secundarizar pelo PS. Não quer mais coligações. Uma baixa, a verdade é essa.
Quando, por outro lado, o PP de José Manuel Rodrigues anda propondo objectivos assentes em entendimentos não apenas com o PS, mas até com o PSD, ressalta a ideia de que o sistema instalado nestes 30 e tantos anos pretende segurar as suas pontas.
A verdade nua e crua é que os partidos do sistema - os da oposição, PS e CDS-PP - nunca chegaram sequer a esboçar, em 3 décadas, a menor força para mudar a política regional. Jamais beliscaram o PSD. Quem veio mostrar que a missão não era impossível foram os pequenos partidos, emergentes nos últimos anos cá na Madeira. Com evidente destaque para o PND, onde também militava José Manuel Coelho, hoje líder dos trabalhistas.
Queremos dizer que ou Victor Freitas consegue unir a oposição, da direita à esquerda, para, esquecendo ideologias, derrubar o PSD, ou terá de optar: entre uma aliança com os populares, solução redutora pró-sistema - e uma aliança com os chamados pequenos partidos, vitoriosos nos objectivos a que se propuseram quando apareceram. E agora, em 29 de Setembro.
Aproveitamentos eleitorais: críticas infundadas
Tarefa difícil, a de Victor, que vai sendo acusado de chamar a si os louros e os proventos das eleições autárquicas. Entre os partidos pequenos, criticam-no por tentar 'mandar' na Câmara de Cafôfo. O que não corresponde à verdade, podemos garantir.
Atacam-no igualmente, sempre em surdina, por ter colocado 'boys' socialistas na Câmara do Funchal. O que não é justo, também. Garantem-nos que quem tratou de constituir o grupo de apoio municipal foi o próprio presidente Paulo Cafôfo, sem influências de ninguém. Foi à área do PS buscar reforços, mas por sua iniciativa. E ninguém tem nada com isso. É direito do presidente eleito.
Há críticas ainda sobre distribuição de lugares nas juntas de freguesia, mas aí os socialistas reconhecem que participaram no processo, consoante os acordos estabelecidos entre os partidos da coligação 'Mudança'.
E há outro problemazinho, julgamos nós.
Victor perfila-se como candidato a chefe do governo regional e quem quiser que o apoie, numa coligação preferencialmente alargada.
Mas é preciso saber, voltando ao assunto, da posição de José Manuel Rodrigues no processo. Já estiveram sentados juntos, Victor e José Manuel, depois de 29 de Setembro, concluindo ambos pela importância de uma coligação. Isso antes de Victor se auto-proclamar candidato. E agora? Para todos os efeitos, o PP continua como líder da oposição, na Assembleia Legislativa. O seu chefe vai sujeitar-se a ficar atrás do homólogo socialista, que tem actualmente menos deputados?
Aventura perversa para Victor
Victor Freitas tem dois anos para mostrar o que vale. Em Janeiro, a 18 e 19, depois de reeleito agora em lista única, terá ocasião de se reafirmar perante os congressistas e os 3500 militantes do PS. Sobretudo, terá de continuar empenhado em falar de modo que os madeirenses entendam, como fez nesta entrevista. Há políticos do passado que falharam por falta de comunicação, como todos sabemos.
Mas não saímos daqui: Victor Freitas, com a sua candidatura expressa, condicionou todo um processo tendente ao derrube do PSD. Meteu-se numa situação de contornos perversos. Se for figura de proa, como candidato ou não, numa coligação triunfal sobre o PSD, terá atingido um resultado que se lhe exigia, olhando às circunstâncias. Se perder - e não acreditamos que perca, mesmo que o PSD se reorganize com Albuquerque, Sérgio ou Miguel de Sousa, porque Jardim há-de escabaçar o resto do Laranjal - mas, se Victor perder, arrastará a Região para as profundezas cavadas pelo seu fracasso pessoal.
Para quem sonha com a exterminação do Laranjal, 'o diabo seja surdo'.
6 comentários:
É muita coragem pôr em cima dos ombros o futuro da Madeira. ???????????????
Ca lambidela calistre. Infiltra-te Caliste...
Este distribuidor de tachos na Câmara é o futuro da Madeira. Isso não acontece mesmo que Albuquerque ou Mijinhas ganhe o PSD.
Vitor so ganharia ao UI. Albuquerque, Sergio, ou Msousa ganham sem problemas, e se estiverem unidos ainda melhor.
Votei na mudança nas autárquicas, mas nas regionais não voto neste senhor, pois não considero que esteja preparado para governar seja o que for, tem mais de 40 anos e ainda nem acabou o curso superior. Hoje em dia qualquer triste tira um curso, só precisa de ter dinheiro para pagar propinas. Diz muito sobre ele e sobre o PS-Madeira,um líder pobre(de ideias), num partido pobre(de ideias e de valores)... o PS-M esta a anos luz de poder a vir ser uma alternativa. Prevejo que o próximo governo regional será uma coligação PSD-M com o CDS-M, Miguel Albuquerque e José Manuel Rodrigues. Alias uma coligação que já esta a ser preparada há algum tempo. José Manuel será o secretario de turismo.
"[...]qualquer triste tira um curso[...]" afirma o anónimo das 13:18 só que se esquece que não o faz ao mesmo tempo que é líder da JS, deputado à ALR, líder sombra do PS, líder de bancada e finalmente líder do PS/M.
É pena que muita gente continue a achar que uma licenciatura é tudo quando este país e região foram ao fundo na mão de licenciados e doutorados!
amsf
amsf
"[...]se Victor perder, arrastará a Região para as profundezas cavadas pelo seu fracasso pessoal." afirma o nosso articulista esquecendo que quem o fez foi o PSD/M em cumplicidade com c/ de 55% dos madeirenses que durante décadas passaram cheques em branco a esta máfia! Tenho esperança que não o voltem a fazer qualquer que seja o partido ou coligação que venha a governar a Madeira.
amsf
Vitor só tem hipóteses contra o UI, ou Albuquerque, pois os pode acusar de processos menos claros e de terem desgraçado a Madeira. Já relativamente a Sérgio não tem hipótese. O ex-Eurodeputado tem outro calibre e experiência.
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