Política

SÉRGIO 'PÕE O DEDO NA FERIDA'

E PROPÕE MANUTENÇÃO DA 'OBRA FEITA'

Esquecer obras novas e voltar atenções para a manutenção do que está feito é a solução para entregar em estado aceitável as infra-estruturas da Madeira Nova às gerações futuras. Que fatalmente as vão receber e pagar. Para o candidato à liderança do PSD-M, esse caminho trará ainda uma vantagem para o presente: criação de emprego. Mas já é um pouco tarde, reconhece o próprio Sérgio. 

Candidato assumido à liderança do PSD-M preocupado com o estado das infra-estruturas que as novas gerações irão receber... e pagar. Suspender planos de obras novas e tratar do que está feito, eis o caminho a seguir.

Sérgio Marques confessa-se preocupado com uma realidade que se encontra à vista de todos mas que estranhamente vai passando sem reparos: a gritante falta de manutenção das obras que mudaram a face da Madeira nas últimas décadas e que, a nosso ver, aumenta galopantemente o perigo para quem as utiliza no terreno. Por exemplo, perguntamos nós, alguém a 120 km/h repara na falta de cuidados por essa rede viária fora, túneis incluídos?

Sérgio Marques já reparou. 

"Preocupa-me a pouca atenção que na nossa Região temos dado à imperiosa necessidade de conservarmos e mantermos as inúmeras infraestruturas económicas e sociais que, através de um maciço esforço de investimento público, fomos realizando ao longo das últimas décadas." É o candidato a líder do PSD-M quem desta forma aborda o assunto num texto colocado no facebook, e a que tivemos acesso antecipadamente. 

"As próximas gerações vão beneficiar destas infraestruturas", reconhece o antigo eurodeputado, lembrando porém que elas também "serão chamadas a contribuir para o pagamento da dívida pública contraída para as financiar".

Os governantes da actualidade costumam, efectivamente, e com alguma "soberba", apregoar: as futuras gerações beneficiarão do que está a ser feito agora, por isso é justo que também paguem a conta. Mas omitem outro facto que Sérgio Marques vem pôr em evidência: é que, "ainda que por razões óbvias", essas novas gerações não terão "a possibilidade de dizer se queriam" estas obras.

'Obra feita' poderá estar ultrapassada no futuro

Do que não se esquivarão os futuros madeirenses é de terem de"assegurar os meio financeiros para a manutenção" daquilo que está feito, bem como da "construção de outros [empreendimentos] que se adeqúem às exigências das próximas décadas". 

"Seria um acto de soberba julgarmos que os equipamentos ajustados à realidade actual conseguirão satisfazer as necessidades da sociedade madeirense ou nacional daqui por 30 ou 50 anos", diz mesmo Sérgio Marques. "O natural será que as realidades social, geográfica ou principalmente ambiental exijam outro tipo de ferramentas. Como tal é necessário que os herdeiros do nosso tempo estejam o mais possível desobrigados dos encargos das nossas acções." 

Já aconteceu no passado. E, a título de exemplo, Sérgio recorda-o: "Quando foi executada a ligação rodoviária que esventrou o interior da Ilha, evitando que a maioria dos nossos conterrâneos, ou visitantes, tivessem de viajar entre as costas norte e sul por barco ou a pé, também se julgou estar realizada a obra definitiva."

Obsessão pela obra nova fez esquecer a sua manutenção

Nunca se fala disso. Sérgio fá-lo agora, na qualidade de candidato a futuro responsável máximo pelo PSD regional e depois pela própria Madeira: "Temos a obrigação de transmitir às próximas gerações este imenso património em óptimo estado de conservação. Receio muito que não o venhamos a fazer. Estivemos tão obcecados em realizar obra nova que descurámos a conservação e manutenção do que fomos erigindo! E agora a enorme escassez de dinheiro público torna ainda mais improvável que a prioridade seja essa."

Para se perceber melhor o berbicacho da falta de manutenção das obras: "Dados relativos a Portugal, no que concerne por exemplo às infraestruturas de transporte", ilustra Sérgio Marques, "apontam para uma relação entre investimento e manutenção de 7 para 1, quando a média europeia é de 2 para 1. E a tendência em Portugal é para o acentuar desta desproporção. Na verdade, no período 1992/99, as despesas de manutenção como proporção das despesas de investimento foram de 23%, tendo passado para 12% no período 2000-2008. Presumo que uma situação idêntica se registe na RAM."

Vantagens para o emprego

Por estes fundamentos, o candidato é de opinião que "deveria haver uma suspensão por prazo não inferior a quatro anos do investimento em obra pública nova, salvo situações de imperiosa necessidade como é por exemplo a reconstrução pós-20 de Fevereiro, que aliás dispõe de financiamento assegurado".

"O investimento público seria assim direccionado na sua grande maioria para colmatar o enorme défice que temos no que concerne à conservação e manutenção do parque infra-estrutural existente. Com uma vantagem adicional de crucial importância: criação de mais emprego." É o que propõe Sérgio Marques. Convicto de que, "face a igual investimento em obra pública nova ou em conservação/manutenção", se criam muito mais postos de trabalho optando-se pela segunda hipótese, a manutenção. Daqui, uma conclusão que deve pôr os responsáveis do presente a pensar: "Um novo paradigma de investimento público na nossa Região não poderá deixar de ter em conta esta situação."

Também receamos que continue a agravar-se o estado já decrépito de algumas obras 'novas'. E então quando se fala nisso, pior. A teimosia, as obsessões e a total ausência de auto-crítica continuam a dominar certas cabeças. 

Isto já somos nós a dizer.