RTP-M IGNORA CAFÔFO
NUM 'DIRECTO' PARA ESQUECER
Sem plano de operações (se havia não se deu por isso), a transmissão mais parecia no Museu AJJ do que no CR7. Neste flagrante, porém, Ronaldo apareceu no ecran. |
O assunto continua em foco: o desastre da transmissão televisiva da inauguração do Museu CR7, domingo. Ecoa na cidade o desagrado pela falta de qualidade que marcou aquele 'directo' e o seu modelo ao estilo Coreia do Norte.
Duas ou três linhas para falarmos do assunto.
O 'directo' justificava-se. Era um fait-divers interessante, ou não se tratasse de um evento a consagrar uma mais-valia para a Madeira e ainda por cima protagonizado por um tão famoso filho da terra, 'apenas e só' o melhor futebolista do mundo, Cristiano Ronaldo.
Pelos contornos do acontecimento, exigia-se, de facto, uma transmissão televisiva normal. Não pedíamos brilhante, mas ao menos normal. E o que se viu foi um bocado de televisão feito como se se tratasse da inesperada cobertura de um incêndio ou catástrofe análoga. Uma 'trapicheira' que incomodou dolorosamente os telespectadores.
Os profissionais que deram a cara e o apoio à sessão merecem outras condições de trabalho.
É certo que o irmão de Ronaldo, Hugo, impediu de véspera a visita técnica da RTP-M ao local da reportagem, isto pelo que conseguimos apurar. A organização do evento não abdicava de manter o secretismo do que se preparava, em defesa do nome da marca Ronaldo. Mas a RTP-M também precisa de defender o nome da televisão pública. Ali não está a 'Mija na Escada TV', desculpem o mau jeito.
Um 'directo' preparado convenientemente já é um trapézio sem rede. Quanto mais sem as prévias verificações técnicas e um plano de realização consistente!
Raio de história a RTP-M contou naquela tarde de domingo. Um filme de terror, isso sim. Sem fio condutor. Um ensopado maluco, com entrevistas doidas metidas à pancada para dentro da panela. Um som tão desgraçado, e não por culpa do profissional a quem competia o controlo, que levou um dos jornalistas a fazer as entrevistas com dois microfones na mão, para reduzir os cortes. Os jornalistas em peso a fazer entrevistas num lugar e a RTP plantada noutro, sem nada levar aos telespectadores - à espera da passagem dos entrevistados, para nos enviarem umas migalhas para casa. Que planeamento! Os entrevistadores, que muito aflitos se devem ter sentido, em bolandas para perguntar algo além do interesse daquele museu para a Madeira e das possibilidades de Ronaldo ganhar a 'Bola de Ouro'.
O 'incêndio' que motivou a tresloucada reportagem em directo afinal estava previsto havia uma semana, pelo menos. Tempo de sobra para que os profissionais, devidamente avisados, se preparassem.
Mas não. Lá tivemos de ver o irmão de Hugo a fazer de jornalista numa interminável, insípida e injustificável (do ponto de vista televisivo) visita do dr. Jardim pelas diversas dependências do museu.
Mas o telespectador quer lá saber dos monossílabos do dr. Jardim - ah sim, pois, pois, ah - a cada troféu que lhe era mostrado e que o mal se conseguia identificar!
E depois, os jornalistas de serviço, desta forma lançados às feras, viam-se 'em palpos de aranha' para fazer passar o tempo - entrevistas longas, repetitivas, perfeitamente evitáveis se um plano de 'directo' houvesse sido devidamente preparado. Quando se proporcionava, sim, assistia-se a 'televisão', como a entrevista conseguida em exclusivo com Cristiano Ronaldo e algumas imagens que os repórteres e a realização captaram e emitiram com a propósito.
No calor da confusão, ia falando quem aparecia, sem critério, claro. Pelo que um dos péssimos resultados, por exemplo, foi o ter-se ignorado a presença de Paulo Cafôfo, que é ninguém menos do que o presidente da Câmara da capital onde se inaugurava o importante museu do madeirense mais conhecido do mundo. Em contrapartida, falaram o vice do governo, o secretário Jaime do governo, e aturámos um fartote de Jardim a fazer lembrar o culto regimental da Coreia do Norte.
Acordem, senhores, a situação regional mudou um pouco e promete mudar mais.
E agora uma conclusão que nos custa quase tanto como ter assistido àquele deplorável espectáculo: percebemos o porquê do desastre na ficha final, ao lermos que, vá lá saber-se porquê, a 'coordenação' esteve a cargo de Miguel Cunha.
As qualidades de Miguel Cunha não coincidem com as exigidas pela concepção e pela direcção operacional de programas de televisão. Nem de perto nem de longe. Com ele, simplesmente não existe fase de concepção racional e competente. Quanto ao trabalho em tempo real, ele transforma o cenário mais mavioso num pavoroso incêndio em que realizador, operadores, sonoplastas, jornalistas e assistentes têm de gastar o tempo de transmissão a fugir do lume para as brasas e das brasas para o lume.
Desculpa, Miguel. Deixemos a treta da 'falta de meios'. O que se passou no Museu CR7 não foi nada parecido com essa desculpa esfarrapada. Cabeça fria. O director de conteúdos tem funções que o dispensam de se meter em aventuras só ao alcance dos profissionais da casa, esses sim com experiência e características próprias para tal empresa. O director de conteúdos não é obrigado a mostrar o 'serviço' de deixar a imagem da RTP-Madeira tão maltratada como ficou naquele aziago domingo.
6 comentários:
A inauguração passou ao mesmo tempo na RTP-N
Ainda por cima!
Se não me engana, o repórter da RTP que estava à porta do museu CR 7 é ou foi miilitante do PSD. Isso pode ajudar a perceber o que se passou.
O problema será mesmo de orçamento?
Será mesmo falta de meios técnicos?
É que se até um simples canalzeco tipo Porto Canal (ou Bola TV ou outros) conseguem fazer mais por menos...
Acho que o anónimo das 17:15 disse tudo.
O problema passa pela indefinição do Centro Regional da RTP-M. Assiste-se a uma guerra surda entre S. Bento, Quinta Vigia e o nº 37 da Avenida Marechal Gomes da Costa e os profissionais da casa é que ressentem-se.
Neste caso, acho que os repórteres também são coordenadores ou chefes com muito tempo tempo de TV e obviamente responsáveis pelas pessoas que entrevistam e pelo andamento da reportagem.
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