ACTA DO PLENÁRIO DE HOJE

CAFÔFO E VEREADORES DA 'MUDANÇA' 

EM GUERRA NA REUNIÃO DA CÂMARA

Caricato dos caricatos: os autarcas da oposição pasmaram com os ataques mútuos na coligação e foram eles a pedir consenso. Penosas 3 horas de crispação, com críticas a roçar o insulto entre os membros da 'Mudança' 

A duas horas de o presidente Cafôfo se apresentar diante de microfones e câmaras para se dirigir aos funchalenses, são péssimas as notícias que temos para dar sobre o ambiente na 'Mudança' que ainda detém a Câmara do Funchal.

Friamente falando, perdemos o resto das esperanças de chegar às 6 da tarde e ouvir o presidente da nossa primeira edilidade agitar finalmente um cenário animador para o futuro da Câmara - isto é, uma solução que admitisse a continuidade da fórmula política que em Setembro do ano passado varreu os fossilizados social-democratas da capital.

Pelos elementos de que dispomos sobre o relacionamento entre as partes beligerantes dentro da 'Mudança', não podemos prever outro discurso de Cafôfo que não seja prolongar a agonia municipal, mas certamente por mais uns dias ou algumas horas - aquilo não se aguente mais.

Vamos ver se o Leitor concorda com a nossa leitura.

Na primeira reunião de vereadores depois do rebentamento da bronca na Câmara do Funchal, esta manhã, praticamente ninguém ligou aos temas que fazem parte da governação do importante órgão. O período de antes da ordem do dia arrastou-se com os membros da 'Mudança' a trocarem queixas entre si até bem perto da uma da tarde.

Incrível.

Com o presidente Cafôfo e Idalina Perestrelo de um lado, Filipa Jardim Fernandes, Edgar da Silva e Gil Canha do outro, a oposição assistiu a um 'lavar de roupa suja' que deixou todos - vereadores do PPD, PP e CDU - boquiabertos e ainda mais deprimidos. 

Um ambiente confrangedor, com Filipa Jardim Fernandes, vice-presidente, a produzir apartes quando o presidente, sentado a seu lado, usava da palavra, interrompendo-lhe o fio à meada com "isso não é verdade", "isso não é bem assim". No que foi correspondida com a mesma moeda quando lhe competia falar. Os oposicionistas não escondiam o seu espanto com a forma agressiva da vice perante o presidente.

Idalina Perestrelo e Filipa atacaram-se também uma à outra, em alguns momentos, consoante a matéria em disputa.

Cafôfo e Canha não se olharam de frente, olhos nos olhos, mas o vereador que ficou sem pelouros a semana passada, embora não estivesse muito falador, exprimiu-se suficientemente para repetir perante o presidente e o resto da mesa acusações que produzira em público. Por exemplo, que Paulo Cafôfo se pôs ao lado dos manifestantes pró-Sousa no episódio da Quinta do Lorde. Precisamente quando ele, Gil Canha, esperava uma palavra de apoio, aquilo que ouviu de Cafôfo foi a sugestão para que se afastasse do seu mandato executivo.

No mesmo andamento, Canha reiterou uma afirmação sua de que a Câmara cedeu aos interesses dos Sousas. Confirmou igualmente a conhecida saga do aluguer da praça do peixe ao PS para o almoço do 25 de Abril.

Paulo Cafôfo, mau grado a oposição interna que recebeu dos vereadores da 'Mudança, ali na reunião, insistiu no propósito de levar o mandato até ao fim.

O presidente da Câmara diz que recebeu a carta de Filipa e de Edgar da Silva anunciando que esses vereadores lhe devolveriam os pelouros, mas puxou um trunfo da manga: lembrou que não recebeu pedido formal de renúncia de pelouros e muito menos assinou qualquer documento afim. Assim sendo, a Câmara segue em frente com o próprio Cafôfo e os 3 vereadores - Filipa, Idalina e Edgar - a gerir as competências todas.

Acontece que Filipa e Edgar ainda não encaixaram o desabafo do presidente de que perdera a confiança em ambos. Logo, se não formalizaram a renúncia de pelouros, podem fazê-lo de um momento a outro. Mas Cafôfo já se antecipou: se fizerem isso, perante os interesses da cidade só podem renunciar ao mandato. O que permitiria o avanço dos seguintes na lista da coligação, os quais tomariam então os pelouros em suas mãos.

... Só que os vereadores receberam mandato popular e não são obrigados a demitir-se, eis o busílis.

Pelo meio, outro berbicacho: Cafôfo confessou ter cedido a Filipa Jardim Fernandes e a outros vereadores no sentido de demitir o seu chefe de gabinete Miguel Iglésias e o seu adjunto Emanuel Bento, acusados por eles de entrarem "aos berros" nos gabinetes dos vereadores a pedir explicações sobre o andamento de assuntos pendentes. O presidente afirmou hoje que chegou a ceder nesse ponto, mas tendo voltado atrás quando os vereadores apareceram com outra exigência: que os pelouros fossem devolvidos a Gil Canha.

Vereadores da oposição confessam ter saído deprimidos daquela reunião, tal foi o espectáculo degradante de ex-companheiros a ofenderem-se diante de adversários. Um desses oposicionistas afiançou-nos que a crise não pode resultar apenas de Gil Canha deixar competências na fiscalização municipal ou continuar com elas. Que tem de haver motivos mais fortes, por enquanto insondáveis, para toda esta guerra.

O mesmo elemento não vê também hipóteses de os autarcas desavindos arrepiarem caminho, porque "não há mesmo volta a dar".

Vereadores da oposição, calcule-se, saíram da reunião a pedir consenso na 'Mudança'. Porque, da forma como as coisas vão, só pode haver eleições, o que não é desejável.

Que poderá então dizer o presidente da Câmara daqui a pouco na comunicação anunciada para o Salão Nobre, às 6 horas? Quando muito, mostrar empenho em não desistir do mandato e apelar a Filipa e Edgar para que aceitem continuar a gerir as competências que ainda lhes estão distribuídas. O odioso pode passar para eles, perante os munícipes. Sem bases para mostrar a menor consistência no esfrangalhado executivo da 'Mudança', a Cafôfo resta mostrar disponibilidade pessoal, pouco mais.

Mas diga o Leitor se, depois do relato aqui exposto, não acha também que o caldo está entornado e sem conserto.

Mensagens desnecessárias e até prejudiciais

Chega-nos a notícia de que presidentes de juntas de freguesia do concelho do Funchal andam a disparar sms para os componentes dos respectivos órgãos convocando-os para a Câmara do Funchal, às 6 da tarde. Motivo: manifestar apoio ao presidente Paulo Cafôfo. Ora, os presidentes de junta são socialistas e põem-se a convocar elementos da coligação de outras cores! Chegando a dar-se o caso de um deles mandar mensagem a transferir a reunião da junta de hoje para... os Paços do Concelho, às 6 horas. Não há ali um adiamento ou uma suspensão da reunião da junta, há uma transferência para a Câmara!

Mais papistas do que o papa. E as reacções de operacionais de partidos coligados já fervem. 
O presidente Paulo Cafôfo é um comunicador de excelência e dispensa manifestações de apoio nestas circunstâncias, quando apresenta uma comunicação ao povo diante da TV, rádio e jornais. 

Vontade de complicar. Paulo Cafôfo a surgir finalmente diante dos funchalenses no seu posto institucional e o folclore comicieiro a desvirtuar o significado desse importante gesto.