PÉ-DE-VENTO

OS INDIGNADOS E O DÓI-DÓI

NA "NOITE DO PND"

Que oportunidade para responder a um cartaz atravessado na garganta!

O confronto físico entre Baltasar Aguiar e Eduardo Welsh na noite de domingo estará talvez ultrapassado. Baltasar demitiu-se da liderança do PND, à conta desse episódio, e o endiabrado partido, alegando as espaventosas diatribes na Câmara, saiu da coligação 'Mudança'.

Permitam-me, porém, duas palavrinhas a respeito do tão divulgado acontecimento da Rua da Alfândega, na noite eleitoral.

Sem prejuízo do reprovável que é uma cena de violência entre dirigentes políticos, ainda por cima do mesmo partido, gostaria de me dirigir aos moralistas desta terra, que não se cansam de amaldiçoar e tentar mandar para a sarjeta os protagonistas do espectaculoso pé-de-vento. Percebo que estejam a bater no peito, profundamente indignados com o mau exemplo de Baltasar e Eduardo, para mais, ao que dizem, diante de jornalistas. Mas, senhores, recomendo alguma temperança no julgamento dos pecadores. Até entre quantos ocupam lugares de responsabilidade, poucos haverá que se possam gabar de nunca terem entrado numa rixa, mesmo limitada a dois ou três tabefes para cada lado ou, vá lá, uns murros de focinho a focinho e um pontapé no traseiro. Quem nunca passou por isto, ou perto disto?

Mais atenção ainda: ninguém, julgamos que ninguém, por mais bem pintado que seja, pode garantir que de hoje para amanhã não cairá na tentação de agarrar um pardal qualquer pelos colarinhos, porque a vida difícil que atravessamos tem dias.   

A indignação que mais nos inquieta, mesmo assim, vem do Grande Meio Chefe das Angústias, em novo artigo não assinado no JM desta terça-feira. O sua excelência lá de cima puxa de todas as suas qualidades cívicas e de educação para gritar "escândalo" logo ao abrir um artigo a simular reportagem-análise sobre os incidentes na família da Nova Democracia.

Não venho dizer que o homem não tem razão em muita coisa do que faz escorrer pela última página do JM abaixo. Só que mais uma vez se nota uma falta de espelhos na Rua dos Netos, o que permite ao Grande Meio Chefe armar em Frei Tomás, chamando lorpas aos seus imensos leitores. 

O artigalho evidencia que "o episódio, sem dúvida, deixou marcas na noite eleitoral", por causa das "cenas de pugilato". E manda-se deliberadamente à "completa desorientação que grassa num partido (o PND) que tem estas figuras, que já têm protagonizado outras cenas pouco dignificantes e de alteração da ordem".

"Degradante" é como as testemunhas 'ouvidas' pelo escrevinhador das Angústias consideraram a pancada entre parceiros do mesmo partido - um partido "decadente" e "em queda política e eleitoral". 

Sem disputa, o episódio foi grave. Para os próprios intervenientes. Baltasar Aguiar, como dissemos, demitiu-se da liderança por reconhecer o alcance das coisas.

Mas também não se pode evitar uns reparos ao sua excelência que escrevinhou a moralista peça no moralista JM. 

Por exemplo, não o vimos escrevinhar nada depois do que se passou na noite eleitoral de há 7 meses, dentro da própria sede do PPD - com um deputado e um elemento da máquina laranja a travarem-se de razões com recurso ao físico, a que se seguiu espalhafatosa perseguição já na rua. 

Acontecendo noutras sedes da política, é o "escândalo". Nos Netos, não existiu.

Óbvio, é "degradante" uma rixa entre dois homens normais, ainda por cima do mesmo partido. Mas mais "degradante" seria agredir o desgraçado de um trabalhador, física e mentalmente debilitado, numas obras em Machico, valendo-se o agressor da intimidação de um Mercedes oficial e do staff da ordem. 

Mais "degradante" seria, aproveitando a superioridade numérica, dar pancada no homenzinho à entrada do Paul do Mar só porque o dito homenzinho mostrou não atinar com a cor laranja.

Mais "degradante" ainda do que uma pancadaria entre dois homens, capazes de atacar e defender, é reservar-se a coberto do ambiente febril e incitar populares de Câmara de Lobos a fazer justiça pelas próprias mãos caso os comunistas apareçam na zona.

Mais "degradante" é encorajar os depredadores da paisagem a apedrejar jornalistas em serviço à roda das pedreiras da ilha.

Era só.