PRESIDENTE FELICÍSSIMO
COM A DEMISSÃO DOS 3 VEREADORES
A euforia da vitória levou escassos 6 meses a baixar à Terra. |
Paulo Cafôfo disse ontem na TV que a crise lhe deixou um ensinamento: há sempre uma solução. Mas há outras lições que o presidente não deve desprezar. Não deve mesmo.
Paulo Cafôfo saiu-se bem da entrevista em directo na RTP-Madeira, ontem à noite. Relativamente ao estado de tensão com que apareceu diante de câmaras e microfones na véspera, quando se dirigiu aos funchalenses pela primeira vez depois da eclosão da crise municipal, no serão de sexta-feira evidenciou a descompressão proporcionada pelos sensacionais acontecimentos da tarde.
Filipa Jardim Fernandes, Edgar da Silva e Gil Canha acabavam de anunciar a sua saída definitiva da Câmara do Funchal, deixando terreno livre para ele, Cafôfo, reorganizar à sua maneira a equipa executiva.
Analisada pela rama, temos que a prestação do chefe municipal é capaz de ter agradado a muitos munícipes.
Friamente, é preciso alertar: a gestão da capital, para mais na época de crise que a Madeira vive, consiste numa tarefa ingrata. E o pior é que esta vereação não só terá de se sair a contento das monumentais dificuldades que encontrará nos 3 anos e meio até final do mandato como lhe compete mostrar na prática o que é isso de 'Mudança'. O povo não mudou apenas a cor da Câmara.
Para sermos sinceros, a mudança mais visível destes primeiros 6 meses de governo municipal residiu na gestão de Gil Canha e julgamos que isso é indiscutível. Pois esse vereador é precisamente um dos 3 que estão de saída.
Que mudança haverá mais? Câmara à porta é boa iniciativa, tal como algumas outras. Porém, depois de 40 anos, os funchalenses exigem 'Mudança', com letra grande. Que se veja.
Não só os comerciantes são pessoas
Paulo Cafôfo já mostrou argúcia e firmeza, além das qualidades de comunicação e empatia com o cidadão. Saberá o que vai fazer. É importantíssimo, realmente, 'facilitar' a vida ao munícipe, porque de ser 'sacaneado' está Zé Povo farto no sistema de crápula montado pelos capatazes do Laranjal.
Ora, 'facilitar' a vida ao munícipe é, por exemplo, deixar-lhe pelo menos uma nesga nos passeios da cidade por onde ele se desloca no dia-a-dia. Essa simples prerrogativa de usar um passeio só foi facilitada enquanto Gil Canha esteve em funções executivas. Antes e depois desse curto período, é uma dificuldade para o munícipe passar à frente do 'Violino' e entre as esplanadas do Largo do Corpo Santo - e exemplificamos com a Zona Velha porque tem sido a mais falada nesse capítulo.
Paulo Cafôfo explicou ontem, interrogado pelo jornalista Virgílio Nóbrega, que o projecto de 'Mudança' visa "olhar pelas pessoas", "dar oportunidades às pessoas". Referia-se aos comerciantes, que, a seu ver, sentiam dificuldades perante a firmeza, quiçá exagerada, que Gil Canha punha na fiscalização dos espaços.
Cafôfo dispõe-se agora a cumprir a missão de facilitar a vida aos comerciantes que mexem com a economia da cidade. Mas essa medida, importante, tem mesmo de implicar com a comodidade de milhares de cidadãos, para não referir outros milhares de turistas, na deslocação pelo Funchal?
As centenas de comerciantes são pessoas. Os 110 mil munícipes também.
Gil Canha: obstáculo ou trunfo?
Na entrevista de ontem, Paulo Cafôfo não escondeu, bem pelo contrário, a sua satisfação pelo desenlace da crise municipal. Quase estava eufórico perante as renúncias de que tivera conhecimento pouco antes - o que até se compreende. Sobre a origem do conflito que durou quase 15 dias, manifestou a sua admiração pelo facto de o vereador indicado pelo PND não se satisfazer com os pelouros do urbanismo e das obras públicas - esses sim adequados a uma acção contra os lobbies, luta perpétua de Canha. Admirava-se com a insistência inflexível do vereador para ficar com a fiscalização municipal, mercados e feiras. Ora, a verdade é que Paulo Cafôfo também causou admiração pela sua insistência inflexível para que Gil Canha não ficasse com a fiscalização municipal, mercados e feiras.
Cafôfo descartou-se ontem: ele e Canha debateram o assunto, havia impasse, então prevaleceu a posição do líder, como é da jurisprudência.
Sejamos práticos: Paulo Cafôfo só teria a ganhar com alguém que protagonizasse o cumprimento das leis vigentes em matérias delicadas como as que competiam a Gil Canha. Desenhava-se uma grande mudança nesse e noutros capítulos afins, capaz de criar situações de ruptura - mas esse seria o preço de cumprir a 'Mudança'. Aliás, é uma questão de hábito. Ser rigoroso no sentido de cumprir planos e posturas é beneficiar toda a gente. Se não, para que se fizeram as leis? Para que se volte ao tempo em que era absolutamente normal arrancar um documento à repartição a troco de uma gorjeta ou de uma galinha?
Com Gil à frente dessa parte ingrata da gestão, mais liberto ficava Cafôfo para exercer a presidência.
O entendimento não foi esse, compete ao chefe mostrar na prática os planos que tem.
Diga-nos uma coisa com sinceridade, Caro Paulo Cafôfo: tem ou não tem consciência de que muitos barões da Madeira Nova não pararam de abrir garrafas de champanhe desde que souberam da demissão do vereador do PND?
Diga-nos uma coisa com sinceridade, Caro Paulo Cafôfo: tem ou não tem consciência de que muitos barões da Madeira Nova não pararam de abrir garrafas de champanhe desde que souberam da demissão do vereador do PND?
Há cidade para além das esplanadas
Raios! Se ali não vingou uma questão de competências, egos ou algo mais profundo que Gil Canha prometeu explicar mais tarde - mesmo que Paulo Cafôfo não esteja por dentro -, se não foi nada disso, então não apanhámos o fio à meada.
A questão das esplanadas e do pequeno comércio é importantíssima, mas há mais cidade. Há muitos patamares onde dar às pessoas as oportunidades de que Paulo Cafôfo falou ontem à noite no estúdio da RTP-M. Uma ruptura só por uma questão de teimosia é de estranhar.
Paulo Cafôfo, pressionado por Virgílio Nóbrega, desmentiu autoritarismo e tiques ditatoriais na sua liderança. Pelo contrário, garante ter dialogado com toda a gente, na Câmara e nas cúpulas dos partidos da coligação, antes de tomar as decisões mais difíceis. Mesmo a propósito do balanço dos primeiros 6 meses de acção, que viria originar a crise, jurou ter dialogado bastante. Actuou como actuou, com músculo, porque lhe compete liderar. O que é verdade, reconheça-se.
Para avivar memórias, lembrou ter sido o rosto da 'Mudança' e que foi à sua volta que se construiu o projecto para o Funchal. Por isso, se saíram 3 elementos da equipa, compete-lhe prosseguir a caminhada com outros. Afinal, todos os componentes da lista que foi a votos ganharam as eleições. Tanto os primeiros que entraram na vereação como os suplentes. Seguem-se na lista - recordou - Domingos Rodrigues, Andreia Caetano e Maurício Marques. É com eles que trabalhará com afinco.
Cafôfo ouvia queixas contra Canha;
também já se ouviram queixas contra Cafôfo
também já se ouviram queixas contra Cafôfo
Bruno Pereira, líder da oposição PPD na Câmara, já saiu a terreiro para apontar falta de perfil nos novos nomes para tomar conta, por exemplo, das Finanças e do Urbanismo. Conhecemos Maurício Marques, que entrará na vereação se Andreia continuar assessora de Cafôfo. Maurício foi nosso companheiro na Redacção do DN e parece-nos que as suas competências apontam mais para outras áreas, de facto. Mas isso somos nós a pensar, já passaram anos e Maurício pode ter tergiversado para outros conhecimentos.
Os outros não conhecemos. Mas Cafôfo conhece, que afinal é o que interessa.
O futuro vem aí. Paulo Cafôfo diz que ouvia muitas queixas contra Gil Canha. Mas ouvem-se também comentários negativos a respeito de Cafôfo. Já reproduzimos alguns e tecemos outros em peças anteriores. Há quem não tenha gostado de ver o edil lado a lado com Jardim, a fazer coro com a campanha partidária interna do PPD - coro esse em críticas a Miguel Albuquerque.
O futuro chega e Cafôfo não se poderá queixar de mais divergências internas. Na entrevista de ontem, sublinhou que conviveu intensamente com os seguintes da lista, os que vão entrar agora, durante os longos dias de crise. Esclareceu que recebeu apoio deles e ficou com a certeza da sua disponibilidade para trabalhar.
Assessores engraçados que se esquecem
do que é o jornalismo
do que é o jornalismo
Apoio do gabinete também não lhe faltará, como é mais do que óbvio. Depois de uma primeira ideia de ceder a certos vereadores dispensando chefe de gabinete e adjunto, Miguel Iglésias e Emanuel Bento, Cafôfo acabou por mantê-los em funções. A cidade - justificou - tem problemas que não passam pela composição do gabinete do presidente da Câmara.
Já agora, não sabemos se será muito curial adjuntos de câmaras privilegiarem ou discriminarem prejudicialmente jornalistas segundo estes escrevem a favor ou se atrevem a criticar o presidente. Curiosamente, há jornalistas que, quando passam para a política, se contradizem com o que defendiam fanaticamente antes, tentando exigir como assessores que os antigos colegas, que se mantêm nas funções de jornalismo, trabalhem segundo orientações políticas. O que provoca sorrisos de desdém. Quando o adjunto de um presidente, no caso Emanuel Bento, age segundo o que ele próprio pensa do jornalista, se "apoia" Cafôfo ou está "contra" Cafôfo, que fazer num caso destes?
Sorrir. Ou não estivéssemos habituados a esse procedimento 'democrático' há mais de 30 anos, só que de outra cor. 'Apoiar' ou estar 'contra' é para políticos, não para jornalistas. E aquele cavalheiro é que foi para adjunto político, nós continuamos no jornalismo, que não é estar 'contra' ou 'apoiar', é relatar, analisar, criticar, cronicar.
Paulo Cafôfo acha que o gabinete não é o problema - e tem razão, apesar de uns delírios que fazem parte do folclore regional.
Como também atestou ontem, desconhece a origem das afirmações de Gil Canha sobre a intervenção dos lobbies para o afastar. "Não sei a quem se refere nem isso me preocupa", disse o presidente, insistindo estar focado nos interesses da cidade e das pessoas.
E outra: o autarca recusou a ideia de um erro de casting na constituição da lista da 'Mudança', sustentando assim que as pessoas foram escolhidas, não para fazer oposição, mas para governar. Aqui atrevemo-nos a desmentir Cafôfo. Quem não tiver memória curta recordará um certo objectivo de "retirar a maioria absoluta ao PSD" e recordará também onde é que se começou a falar de vitória da coligação.
Enfim.
Erro crasso
A vereação, em breve transformada, é para levar até ao fim do mandato, garantiu Cafôfo na TV. Entende que esta demissão dos 3 elementos é um abrir de portas a um futuro de sucesso. Negou que a Câmara tivesse chegado a parar durante a crise - o que não é bem verdade - e está confiante no apoio que os partidos da coligação, como até aqui, lhe asseguram doravante.
O presidente da Câmara confirmou ter pedido a Gil Canha que se afastasse do executivo quando das manifestações dos trabalhadores da Quinta do Lorde, aliás orientadas pela gerência Sousa. Na ideia de Cafôfo, a Câmara estava a ser envolvida num problema que não era seu. Ele próprio, Cafôfo, sentira-se sitiado pelos manifestantes. Havia que safar a Câmara de um problema que não era seu. Então, que Gil se auto-suspendesse das funções.
Atitude inclassificável de um líder, essa, que nos desculpe o presidente Cafôfo. O povo fazia barulho à frente da Câmara por causa de um problema do Caniçal e o vereador demitia-se das suas funções no Funchal! Que tem o rabichol a ver com as calças?
Fosse em que circunstâncias fosse, o chefe só tinha de apoiar o seu colaborador, apesar de o caso não ter a ver com a Câmara. É em momentos como aquele que se consolidam as grandes equipas.
A crise fica para trás das costas, como afirmou Paulo Cafôfo nesta entrevista que lhe correu bem, vistas as coisas de passagem. Como também referiu, a crise deixou-lhe um ensinamento: há sempre uma solução.
Se nos aceitar o atrevimento, não despreze outro ensinamento da crise mais bombástica da história do município: o líder deve ser sempre solidário com os colaboradores. Nem que seja contra o mundo.
18 comentários:
Penso que a verdadeira história se algum dia a viermos a saber por inteiro, só com o contraditório e temos de esperar algum tempo. Continuo a pensar que Cafôfo é a pessoa certa no lugar que ocupa como Gil Canha o era igualmente. Gostei da entrevista ao presidente que me pareceu muito objectivo e decidido.
Uma análise lucida, da primeira à última linha. Parabéns.
Ficou claro o egocentrismo e o carácter (ou falta dele) de quem vai presidir aos destinos do nosso município! Será caso para dizer que só mudam as moscas e a cor delas.
A verdadeira história? Leia a análise do Calisto. É um líder que não sabe o que é ser líder. Um lider fraco faz fraca a forte gente.
Será possível a Câmara Municipal do Funchal ser gerida por indivíduos, começando pelo Presidente Cafôfo, que só querem tentar subir socialmente e nem gestores são?
Temos que reconhercer que tudo isto se deve às listas que o PSD apresentou às eleições autárquicas.
Os funchalenses não merecem nem Cafôfo nem cafofices. Se Alberto João e Miguel Albuquerque não tivessem a mesma preferência, Bruno Pereira, de certeza que tinhamos um bom presidente municipal.
Não esquecer que caso a ideia inicial, Sérgio Marques, de Alberto João se mantivesse então teriamos Guida Vieira em presidente pela Mudança.
Nesta crise, não houve vencedores.
Cafôfo estará mais sob o escrutínio popular no restante mandato, Vítor Freitas e o PS-M hipotecaram completamente uma coligação para as legislativas de 2015, JM Rodrigues mostrou que está focado em maiores voos do que a CMF e Bruno Pereira veio dar razão à derrota pessoal estrondosa que sofreu em Setembro de 2013.
Parabéns Calisto por esta crónica analítica de alto gabarito. Imune a estereótipos e a tendências facilitadoras, V. Exa. decora a escrita com a objetividade daquilo que, de facto, lhe vem a lume na consciência incisiva de um jornalista.
A lucidez de espírito (coisa inatingível à maioria dos poderosos empossados) deverá continuar a ser o leme e a visão da "Fénix"- Obrigado Calisto.
Pensa o professor de história ( que no meu tempo era o curso dos burros) que tem condições, para com a sua pandilha governarem os destinos do Funchal...esta foi só a primeira de muitas crises que virão! Nem é preciso ser vidente..
Escrita de um bom jornalista, que está a par de muitos factos. Mais há mais, sobretudo sobre o tal caracter do presidente que os vereadores demissionários poderão ilucidar. Aguardemos.
Será que estão todos a dormir??? Será que ninguém vê o se está a passar???
Esta confusão que se passou na Câmara do Funchal, aconteceu devido a uma vingança e também é oficial, o PS-Madeira de Vítor Freitas vendeu-se ao Souisas, os Onassis da Madeira. Acordem Povo!!! O Alberto que tanto nos seus discursos gosta de manipular os Madeirenses e distorcer a história, mesmo bem à maneira da sua ideologia política, referindo-se sempre à maçonaria e aos ingleses que tanto roubaram a Madeira e enganaram os Madeirenses… Pelo amor de Deus, o Grupo Sousa tem atualmente poder que nunca ninguém alguma vez teve… Controlam a RTP Madeira, a ACIF, Gás Natural, os Portos entre muitas outras empresas que têm. Só com o monopólio dos portos e porque quase tudo o que nós consumimos é importado, já pensaram que em quase todas as compras que fazemos estamos a dar dinheiro indiretamente a essa família… ACORDEM POVO!!! Quero felicitar o três vereadores da CMF que pediram a demissão pois mostraram ser as únicas pessoas sérias nesta coligação “MUDANÇA”.
Dizem as más-línguas que o SR. Vítor Freitas, do PS, tem ido almoçar com Sr. Miguel Sousa, ao Chalet Vicente na estrada monumental e pior, também dizem por aí que estão a financiar o PS-M….
CAFOFO, pela primeira vez na tua vida sê o um “homenzinho” sério e pede a demissão!
Correção, queria eu dizer que, “dizem as más-línguas que o SR. Vítor Freitas, do PS, tem ido almoçar com “Sr. Luís Miguel Sousa”, ao Chalet Vicente na estrada monumental e pior, também dizem por aí que estão a financiar o PS-M….
Mesmo assim este Cafofo é melhor de que por exemplo: O Raimundo "atravessado"
Infelizmente esta entranhada na sociedade Madeirense dinheiro,o facilitismo, o jeito do amigo e isso vai do pobre ao rico. O PSD nao ajudou so senhores laranjas nos partidos da oposicao Houve e continua a existir quem se venda ao poder do dinheiro, todos os que ate hoje tentaram lutar contra isso tiveram o mesmo fim, sao convidados a sair. Mais que um problema politico, o problema esta na sociedade Madeirense!!
Não me canso de dizer: UMA VERGONHA! Ainda vamos assistir a trabalhadores, chefes e diretores da CMF a fazerem frente aos parvalhões corruptos que lá ficaram (depois da saída dos 3 vereadores). Saberemos isso quando virmos gente a ser "realocada", destinos que prevejo: Salubridade, meia serra, parque ecológico, etc. If you know what i mean
os tres vereadores entregaram o ouro aos bandidos , que pena!
Será possível governar no seio de tantas opiniões diversas? Eu diria que sim, até porque como pessoas racionais isso só abriria certos horizontes e diferentes perspectivas de lidar com os problemas. Agora a questão mete-se de outra forma: será possível governar uma "capital" sem nunca ter feito algo do género? (Liderar uma turma ou até mesmo um estabelecimento de ensino não contam). Será que de facto os constituintes desta "Mudança" remam todos na mesma direcção? Será que a palavra "Mudança" não será apenas um protesto contra os senhores do parque de Santa Catarina? Espero estar enganado para o bem da minha ilha, mas existem valores mais altos que nos devemos preocupar
Ou será que deixaram o bandido trapalhão estampar-se sozinho?
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