VEM AÍ A
BÓSNIA?
A parasitagem da nossa vida colectiva por: galopins – executores de estratégias alheias; caciques – angariadores de votos; influentes – negociadores dos votos conseguidos na base já foi por mim analisada. Três factos fizeram-me regressar ao tema. As consequências provocadas na vida colectiva pelo novo modo de lidar com os parasitas no pós-Abril; o aviso do Sr. PR a 5 de Outubro, “A razão de ser da desconfiança e da descrença das pessoas relativamente aos políticos tem a ver com o cansaço perante casos a mais de princípios vividos a menos”; as manifestações públicas de galopins, caciques e influentes visando as eleições autárquicas.
Temos profissões mal-amadas. Militares, Polícias e Bombeiros são três exemplos disso. Civicamente mal formados, muitos de nós dizem: para quê tantos generais; os polícias só servem para passar multas; os bombeiros só querem vinho e criar barriga. O mito da Pátria e a Defesa da Nação suplantavam a falta de civismo. O controlo da parasitose era feito subtilmente e o incentivo ao profissionalismo deixado à escolha do cidadão. Os salários na função pública, com algumas beneses, eram mais baixos que no privado. A hierarquia era muito bem vincada a começar pelo fim dos pareceres para as chefias que terminavam assim: “A Bem da Nação, V. Exª superiormente decidirá”. O sistema não sendo perfeito, permitia distinguir entre responsabilidade profissional e política. Um exemplo ajuda. Imagine-se que o influente A quer construir uma estrada para valorizar um terreno do cacique X. Até 1974, as coisas faziam-se à sorrelfa, sem expor os profissionais a um escrutínio público, onde responsabilidade profissional e politica se confundissem. Os funcionários eram respeitados. Quem optava por profissões, civicamente mal-amadas, o Poder impunha-se, fazendo-as respeitar. A partir de Abril, mais grave que os propagandeados saneamentos políticos, foram os saneamentos profissionais.
Galopins e caciques voltaram a legitimar o poder pelo voto. Profissionais capazes vão sendo progressivamente afastados. Travavam o progresso, dizia-se, e a imediata invocação da pletórica e demagógica liberdade nem deixava pestanejar os ingénuos cidadãos. O Poder confunde-se com os partidos. O caso acima narrado, em Liberdade, teria agora esta solução: o influente eleito com os votos angariados pelos caciques e galopins, em grandes parangonas na TV e Jornais, anuncia ao Mundo: a Lombada dos Inteligentes vai ter uma estrada. Livre-se algum profissional de colocar qualquer questão que trave a estrada! Como mais vale prevenir que remediar, o melhor é colocar no cargo alguém que, rifando a profissão, dê parecer favorável. Não nos podemos admirar quando o político diz: baseie-me num parecer, ao que o técnico responde: trabalhei sobre aquilo que me pediram. Adeus brio profissional! Não me parece que nenhum Tribunal seja capaz de deslindar isto. Aqui na RAM todos conhecem casos destes que vão do mar à serra, um fartote Graças a Deus!
A opinião pública começa a dar conta, nos anos 90, da infestação de galopins e caciques, oriundos das jotas, no aparelho do Estado. O mérito, que se reconhecia aos Servidores do Estado, hoje quedam-se pelo medo de perder o emprego se ousar dizer NÃO a um destes “vigilantes”. Quarenta anos depois, mercê da acção desta gente, o Estado desmorona-se. Transformaram-no num centro de negócios que é coutada dos influentes. Sintomáticos os avisos do Prof. Marcelo, cito um no início do texto. Os interesses colectivos, com destaque para a segurança de pessoas e bens, são descurados. A lassidão grassa e ninguém age. Estando a população em estado choque, na sequência dos incêndios, e, perante uma proibição de foguear, o comandante dos bombeiros desobedeceu. Nada lhe aconteceu. A luz vinda do alto ilumina as mentes que se insurgem contra a PSP. Colhemos assim os frutos de 40 anos de gestão feita por elites que foram tratando dos seus interesses particulares, pelos métodos que descrevi.
As lutas
fratricidas nas jotas são a base do poder nos partidos e no Estado. A
propaganda partidária vai directa à emoção, como se de futebol se tratasse,
esquecendo a razão. O nosso dia-a-dia pouco lhes diz. Ganhar eleições, sim,
motiva-os. Cheirando já a eleições, galopins e caciques ocupam as redes sociais
com insultos mútuos. Desprestigiado o Poder, com polícias a quem ninguém
obedece, e outros profissionais desmotivados, as lutas fratricidas, no interior
de cada partido, podem degenerar. Nestes 40 anos financiou-se a compra votos.
Trocando votos por armas teremos mesmo uma Bósnia. A emoção que já se sente nas
redes sociais não pressagia serenidade.
GAUDÊNCIO FIGUEIRA
7 comentários:
E nesse tempo todo o que é que a Justiça madeirense esteve a fazer? Relembro que não é tutelada pelo GR...
O que é que a Justiça madeirense está fazendo? Bom, isso já mostrei e pelo menos mais duas publicações surgirão (aqui no fénix se o senhor Calisto permitir).
Senhor Gaudêncio porque não uma Bósnia armada?
Será que todas as pessoas de bem vão emigrar ou sujeitar se é aos seus à injustiça e à discricionariedade?
Seremos uma raça de mansos?
Caro Jorge Figueira
Parabéns.
Contundente e oportuno.
Muito bom! Acertou na mosca! Como sinto isso na Função Pública regional… Os incompetentes nomeados por grau de parentesco ou grupelho político de juventudes passadas e perdidas, desmandam à louca, aproveitando efémeros mandatos e assegurando descontos para futuras reformas abastadas. Esta geração à beira dos 50, se não agarrasse agora a derradeira oportunidade, quando o faria? Não fosse esta ânsia e o ancião do Quebra-Costas ainda estava de pedra e cal na Casa Rosada… A Madeira saltou da panela para o lume!
Caro Fernando Vouga
Obrigado pelo elogio. Manter-se fiel a princípios, fugindo à canga (será canja?) permite exprimir-se sem receio. O Estado desmorona-se. A pusilanimidade instala-se, mas convém não chegar ao limite da luta armada. Estas coisas sabem-se como começam mas não como acabam.
Para mal dos pecados dos madeirenses e meus o tempo prova que tive razão.
Caro Jorge Figueira.
Essa da "Canja" faz-me lembrar um discurso do então presidente da CM de S. Vicente aquando da inauguração do busto do escritor Horácio Bento de Gouveia em Ponta delgada.
Caro Dr. Gaudêncio,
Somos um país e uma região onde o mérito não conta para nada. Quer no publico, quer no privado.
Existem evidentemente as excepções que contrariam a regra.
Se no público é o que sabemos, também no privado, como regra, o lambe botismo, ou lambe cuzismo como diz o MEC, vence o mérito. Bajular o chefe ou o patrão, intrigar contra os colegas, não ter sentido critico, etc, rende muito mais que toda e qualquer competência.
Sei do que falo, por experiência própria.
Por ajudar à compreensão deste meu texto volto, para deixar algo que complementa aquilo que escrevi e também alerta para os riscos que citei
https://estatuadesal.com/2016/10/09/feios-porcos-e-maus/
Elevem-se as disputas a um grau maior e não vos digo nem vos conto
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