O INSÓLITO ACONTECEU
GAUDÊNCIO FIGUEIRA
Outro dia pela manhã, tocou-nos o telefone. A minha mulher atendeu e, do outro lado, uma voz feminina bastante perturbada, que marcara mal o número da sua médica, expôs as suas maleitas. Tentava a interlocutora explicar-lhe o equívoco mas a Srª. não atinava. Fomos capazes de avaliar o sofrimento daquele Ser Humano desesperado que falava para a “médica” na busca de uma solução para tanto sofrimento.
Há múnus particularmente expostos a que o sofrimento dos nossos iguais nos pese na consciência. Não podemos chegar ao extremo de exigir que um médico viva estes dramas pessoais tão intensamente que o afecte para o exercício da profissão, mas leva-nos a compreender a emoção com que, há tempos, falou para a RTP-M o Sr. Dr. Ricardo Alves, director dos serviços de psiquiatria.
O Poder Político, em todo o Planeta, controla a opinião pública. Há Países onde a Liberdade de imprensa há muito está instalada, mas até nesses – os EUA nesta fase Trumpiana, são um bom exemplo – os tempos não vão de feição. A mentira, a deturpação e invenção de factos alternativos, são a regra hoje. Num Portugal, nascido para a Liberdade de Imprensa em 1974, os cidadãos, para além dos fracos hábitos de leitura, tinham sérias dificuldades em distinguir entre “verdades ficcionadas” e a realidade. A situação na Madeira foi bem pior que no resto País. A sociedade por quotas, entre o GR e a diocese, que, durante anos, geriu o Jornal da Madeira em obediência aos ditames da política, revelou-se um péssimo contributo para formação cívica dos madeirenses.
Vivemos tempos novos. Um jornal usado anos a fio como órgão de propaganda do partido e seu governo, extinguiu-se. Andam novos “cheiros” no ar. Urge que os madeirenses se apercebam nas novas realidades e não se deixem envolver em manobras de propaganda em que apenas lhes vendem factos alternativos.
Aquele telefonema, manhã cedo, fez-me ler com mais atenção um direito de resposta do GR, saído dia 31 de Março no DN, bem como recordar a morte por paludismo, em Junho de 2012, de um nosso concidadão regressado de África. A opinião pública, em 2012, não teve direito a qualquer explicação para tão insólito acontecimento. Em 2017, a SRS honrou-nos com o tal comunicado onde se lê: ”…tranquiliza a população, reafirmando que o Serviço de Saúde da RAM presta serviços de saúde com segurança, qualidade e elevada responsabilidade…” A morte, há cinco anos, não teve direito a um “comunicado-soporífero” do GR. Hoje, avaliando os factos na base do tal comunicado, o GR alerta-nos para o mau jornalismo que através de falsas notícias nos leva a desconfiar de quem manda. Há uma diferença neste comunicado e aquele que, eventualmente, poderia ter surgido em 2012. O actual GR, timidamente, ameaça com o Tribunal, antes tê-lo-iam vigorosamente afirmado, ainda que, na prática, ficassem quietos.
Vai chegando a hora de relacionarmos factos, para que assim não nos resignemos a receber tudo aquilo que a propaganda nos impinge. Temos um morto por explicar e, agora surge um caso grave com a falta de medicamentos, pondo em risco vidas humanas.
A notícia, lida e relida atentamente, não contém o grau de alarmismo que transparece do comunicado. Esta ideia reforça-se conhecendo a opinião do Conselho Médico que vê: “ com alguma preocupação… múltiplas notícias que têm vindo a público… e respectiva reacção dos organismos responsáveis pela saúde”. Acrescentando: “cumprem todas as normas de boa prática clínica… e não tem conhecimento de nenhum caso em que a segurança do utente tenha estado em risco” termina dizendo: “repudiar qualquer tentativa de pressionar ou condicionar os Médicos quanto à sua liberdade e obrigação de contactar a Ordem sempre que as condições de trabalho não sejam as ideais”
A Liberdade, se a prezamos, temos de a exercitar. Não fazê-lo é arriscarmos à sua “expropriação”. Os Homens são todos iguais nos seus defeitos e qualidades. Porém, a História alerta-nos para que, se queremos a Liberdade, não nos podemos resignar perante as verdades absolutas da propaganda emanada do Poder. É assim que surgem os Trumps e os Chávez, pescadores de águas turvas, para quem as pessoas apenas existem para os servirem independentemente de sofrerem com os seus desmandos.
P.S. Havendo curiosidade, sobre o texto de 2012, pode satisfazê-la lendo abaixo: http://www.dnoticias.pt/opiniao/artigos/329498-a-pena-de-pavao-MLDN329498
9 comentários:
Você parou no tempo já não há pachorra para os seus demónios com o passado olhe para o presente sem o branquear seria mais útil...acaso o jornal de que fala não vai ser comprado pela AFA??
Olha que ele fala do futuro.
Vá lá, lê melhor só o final: "A Liberdade, se a prezamos, temos de a exercitar. Não fazê-lo é arriscarmos à sua “expropriação”. Os Homens são todos iguais nos seus defeitos e qualidades. Porém, a História alerta-nos para que, se queremos a Liberdade, não nos podemos resignar perante as verdades absolutas da propaganda emanada do Poder. É assim que surgem os Trumps e os Chávez, pescadores de águas turvas, para quem as pessoas apenas existem para os servirem independentemente de sofrerem com os seus desmandos".
Não serás tu que tens vista curta?
Estou lendo Habermas, um sociólogo.
Ele cita a opinião de outro. Esse outro alega que a evolução técnica e cientifica está a fazer com que:
1) a liberdade diminui pela sujeição a esse aparato;
2) cria conforto que é a moeda de troca dessa perda de liberdade;
3) o tempo do cidadão está a deixar de ser privativo: é gasto em atividades sociais construtivas e destrutivas.
Acho que faz parte da Democracia o aumento de indivíduos "kitsch" que criticam violentamente quem pensa diferente da norma-da-sociedade, como por exemplo, um homem é uma mulher sem mamas, o empreendorismo é bom para quase todos, a Uber e o Airbnb não afetam os direitos dos trabalhadores e consequentemente o Estado Social, ...
Sinceramente, nem tenho a certeza que percebo o conceito de Liberdade dos filósofos do século XX...
Por mais voltas que queira dar vai sempre dar ao mesmo e o insólito parece que em vez de ser o gajo que morreu por falta de bicarbonato foi a senhora que ligou lá p casa por engano
Santinho não leias coisas complicadas, lê o Papa Francisco. Aquilo é que falar para todos.
Parece que o anónimo das 8:54 demonstrou a proposição do Santo: quem diz coisas diferentes, quem estuda um pouco mais além é injuriado em praça pública.
"Santinho não leias coisas complicadas. aquilo é que falar para todos"
1. Este individuo quer mandar no Santo.
2. Querer e trabalhar para ser mais e melhor é algo negativo para este comentador. Numa corrida, quem não sabe correr, quer que todos andem ou rastejem.
3. Declara publicamente o que os outros pensam, quem: anseia o poder através da manipulação da população (i.e., os populistas).
4. Falar da bondade, generosidade, do perdão, do altruismo, e de outras qualidades positivas é algo que sempre capta a simpatia das pessoas.
5. Actualmente, com a quantidade de recursos materiais, técnicos e científicos disponíveis só há fome, escravidão, falta de medicamentos, tortura, falta de liberdade, ignorância devido à Injustiça imposta pelos corruptos. Se o Papa fosse pessoa de bem, acabava era com o Perdão!
Só não entende quem não quer entender. Mas parece que há por aí gente que se incomoda quando se desmascara o sistema ainda vigente (mas com outras moscas).
Pois é Fernando, nesta terra temos demasiados habitantes que recusam pensar.
Bem fundamentados nos mitos que lhes vendem - futebol, festivais etc. - acham-se donos da Verdade.
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