A luz de Abril, nunca
ninguém a apagará
José Manuel Coelho
Hoje comemora-se mais um
aniversário da Revolução 25 de Abril ocorrida há 43 anos em 1974. Nesse grande dia, estava eu a cumprir serviço
militar no Batalhão Caçadores 5, em Lisboa, quando por volta da meia-noite se
iniciam os preparativos para a Revolução. Foram-me distribuídos 4 carregadores
cada um com 20 munições para de G-3 em punho, ajudar com a minha modesta
contribuição a fazer cair o Regime odioso do Estado Novo. Uma das nossas
maiores alegrias foi a proclamação do fim da guerra colonial e a libertação dos
presos políticos. O povo português conquistara a tão grande e ansiada
liberdade.
No entanto, com o passar do
tempo, os três grandes ideais da Revolução - democracia política, económica e
social -, foram perdendo força e eficácia aos longo dos tempos. Hoje 43 anos
depois da Revolução de Abril, temos de novo a democracia em perigo, amordaçada.
O que escreveu Mário Soares no
livro “Portugal Amordaçado”, enquanto estava no exílio em Paris, durante a
ditadura Salazarista, hoje repete-se. Na altura, o país vivia asfixiado pelo
despotismo do Regime do Estado Novo. As cadeias estavam cheias de presos
políticos. Vivíamos num estado policial onde a PIDE todos os dias prendia
cidadãos, acusando-os de praticar atividades contra a segurança do Estado.
Na ditadura Salazarista, o
cidadão, era preso por atividades contra a segurança do Estado, agora é preso
pelo “crime” de injúria e difamação agravada. Passados 43 anos, a tipificação
do crime é que mudou, porque a intenção é a mesma! Que o diga Maria de Lurdes
Rodrigues, que se encontra a cumprir uma pena de prisão de 3 anos por criticar
o poder político e judicial que lhe sonegou uma bolsa de estudo à qual tinha
direito.
A sua crítica contra a injustiça de
que foi vítima; o exercício do seu direito à indignação conduzia-a à
penitenciaria de Tires como se de uma criminosa se tratasse. Eu próprio estou a
ser vítima da escalada fascista da justiça portuguesa, ao ter sido condenado a uma
pena de prisão efetiva por declarações que fiz durante o período eleitoral. Quando
se criminaliza o debate ideológico desta forma, algo muito tenebroso vem pelo
caminho.
Os esbirros da Justiça do Estado
Novo transitaram com armas e bagagens para o Regime democrático e com as suas
práticas fascistas começaram a pôr de novo em causa aquilo que custou imenso a
conquistar, a liberdade de expressão, o direito à critica e à indignação.
É inaceitável termos um código
penal em vigor, elaborado no tempo do fascismo, que viola direitos
fundamentais, atentando contra a própria Constituição da República Portuguesa.
O Portugal de Abril não aceita o
artigo 180º, 184º e 187º do Código Penal que praticamente vem restaurar através
dos tribunais, os abusos e arbitrariedades praticados pelo Estado Novo e pela
PIDE. Estamos a caminhar a passos largos
para o fascismo, sob os narizes de todos os Órgãos de Soberania que assobiam
para lado, perante as atrocidades da magistratura portuguesa, que funciona sem
qualquer legitimação e escrutínio popular. Violando impunemente os direitos
humanos e a Convenção Europeia dos Direitos do Homem da qual Portugal é
subscritor.
Uma das mais clamorosas falhas
dos militares do MFA foi não terem desmantelado o aparelho fascista da justiça
que existia na Ditadura do Salazar. E eu como soldado de Abril, não aceito nem
posso aceitar, que numa democracia haja presos políticos por opiniões que
tenham emitido.
Que sentido é que faz estarem os
deputados das Assembleias Regionais e da Assembleia da República de cravo à
lapela a comemorar o 25 de Abril, com a palavra democracia e liberdade na boca,
quando há pessoas condenadas a prisão em Portugal por emitirem a sua opinião?!
As comemorações são preparadas ao
pormenor até pelo o próprio PSD-Madeira, que até à dois anos atrás se recusava
comemorar o 25 de Abril. São concertos de milhares de euros, sessões solenes,
debates, jantares – banqueteiam-se e festejam -, enquanto Maria de Lurdes, come
“ração de combate” e passa toda a sorte de privações nas masmorras de Tires,
nem tem dinheiro para comprar uma pasta de dentes.
Comemoram uma democracia que já
não existe, e vendem-nos gato por lebre.
A nossa democracia está moribunda
e a maior parte dos partidos e deputados estão-se a borrifar, são uns covardes,
apenas estão preocupados com as suas clientelas e em receber o salário no final
do mês.
Quem consente a existência de presos
políticos em Portugal, que falem no 20, 21, 22, 23, 24 de Abril, deixem o 25 de
Abril, para os verdadeiros democratas e amantes das liberdades no nosso país.
Hoje na Assembleia por ter dito o
que acima transcrevi, por ter excedido 15 minutos de intervenção na sessão
comemorativa do 25 de Abril da Assembleia Legislativa da Madeira, fiquei a
falar sozinho e às escuras. Mas não faz mal, mesmo perante a indiferença e as
injustiças - a luz de Abril, nunca ninguém a apagará.
José Manuel da Mata Vieira Coelho
25 de Abril de 2017
O deputado do PTP hoje no Parlamento, a falar depois de as várias bancadas terem abandonado a sessão do 25 de Abril. |
11 comentários:
Democracia de fachada e liberdade relativa.
A democracia só não será de fachada quando todos souberem ser democratas.O 25 de Abril abriu as portas.De par em par.Que cada um faça a sua parte, com respeito pela liberdade, em democracia.
Democracia e liberdade é também respeitar os outros, o que o sr. Coelho não fez hoje na assembleia.
Acha-se o dono da liberdade, do 25 de abril. As coisas não são assim. Ao não respeitar a liberdade dos outros, não pode ser um democrata. Torna-se um facínora como aqueles de má memória.
Curioso como na Madeira aparecem sempre uns indivíduos que têm sempre umas opiniões muito próprias sobre o que é a liberdade e a democracia. Até à pouco tínhamos um presidente assim.
Fica mal para si sr. Coelho perde toda a razão e dognidade.
Na assembleia aquilo é tudo um bando de hipocritas, botam faladura sobre democracia quando ela ja nao existe.
Não percebo que democracia é esta quando temos presos em Portugal por criticarem políticos e juizes.
Aqueless deputados sao indignos, o Coelho parece o louco, isso é o que pintam todos os media, mas no fundo é a pessoa mais lúcida e humana do parlamento.
O sr. Coelho é um humano como poucos, importa-se. Ao contrário de muitos que só querem fazer os seus negócios e ganhar o ordenado no final do mês.
O que fica mal é termos presos em portugal por delito de opinião. Acho ridiculo apontam o dedo ao Coelho quando deveriam apontar o dedo à justiça e aos deputados que nada façam. Deixe estar coelhinho, lavar a cabeça a burros.
Querem é se mostrar no 25 de Abril, aproveitam esse dia histórico para se auto-promoverem, de democratas não têm nada!!! Aquela Assembleia nem devia poder celebrar o 25 de abril, com aquela estirpe de deputados. Força Coelho.
Olha tanto comentário e esquecemo-nos do mais importante Maria de Lurdes está presa.
politicos'? esquece
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