'Confiança' no Marketing

Apresentação à americana com trunfos bem combinados

1.º Ministro com perfume de Geringonça; povo entusiasta na Praça; sondagem com maioria absoluta mostrada na hora; e Paulo Cafôfo 

  

Fotos: GREGÓRIO CUNHA

Tudo programado ao pormenor para apresentar a lista 'Confiança' concorrente à Câmara do Funchal, ao fim do dia de quinta-feira. O resultado imediato justificou o sorriso ainda mais rasgado e alvo de Paulo Cafôfo, a iluminar intensamente a Praça do Município. 

Gente sentada e de pé a compor a praça.

Figuras do Partido Socialista dos velhos tempos, incluindo Bernardo Trindade. 

Jovens a tentar despontar para uma carreira socialista. 

A sondagem da 'Euro' divulgada ao sabor da cerimónia para dar a dinâmica de vitória que tem faltado à Confiança. 

Last but not least, Paulo Cafôfo, a estrela com brilho laboratorialmente preparado pelas agências de marketing político, um brilho postiço que ofusca o brilho próprio.

Temos estrela ou não temos estrela? É verdade que, há 4 anos, o eleitorado funchalense não votou propriamente em Cafôfo, apesar do amor à primeira vista. Foi mais um voto de protesto para expulsar o velho jardinismo da capital da Madeira - e que resultou, com efeito, em rude golpe no até então todo-poderoso PSD-M. Mas a verdade é que Cafôfo está aí sem o desgaste preocupante que quase 4 anos lhe podiam injectar. O eleitorado gosta de o ouvir falar, mesmo que depois na prática não veja nada do que foi prometido. Fora os adversários políticos, não se assiste a grandes protestos contra a governação vazia e parca de ideias desta nova-velha câmara. A rua não dá mostras de notar no cafofismo aqueles vícios que Albuquerque e seus vereadores, quase todos, coleccionaram em 20 anos. Cafôfo passa incólume por entre os raios e coriscos desfechados quase em desespero pelos adversários dos tubarões insaciáveis da praça que escaqueiram o Funchal, ontem aparados por uns autarcas, agora cobertos por outros. 

A dois meses de voltar às urnas, Cafôfo soma e segue enquanto alguns cidadãos preocupados tentam profetizar aos olhos do povo o cenário apocalíptico de um cristão-novo ambicioso que cavalga de mãos largadas sobre a onda fotografada e ampliada pelos media a preços milionários.

A sondagem anunciada 'em cima' da apresentação da Confiança desta vez é atribuível e atribuída a um mandante, o DN. Merece muito mais credibilidade que outras caídas do céu - estas em forma de mensagens para travar Cafôfo... da lavra de companheiros do Mayor, eles mesmos!  

Esta nova sondagem é uma má notícia para muita gente. Para Miguel Albuquerque. A ser bem fundamentado, o estudo nega ao chefe do establishment a recuperação da capital. O que já é mais de meia derrota nas eleições. E poderá ter mais consequências,  porque os outros concelhos funcionarão por arrastamento. Desenha-se borrasca sobre o Palácio das Angústias.

Rubina Leal. Cedeu ao desafio de concorrer. No meio de uma tempestade. Leu a sondagem? Fim da linha. Ou será que cedeu a tempo ao dever ético de se demitir do governo? Já apresentou a equipa no JM de hoje. Uns dirão que são tudo novatos, que não percebem nada de nada, em busca de emprego. Se apresentasse 'velhos', diriam que são sempre os mesmos viciados, agarrados ao tacho. É que isto é muito difícil, Rubina. 

Ah, e também Carlos Pereira, líder socialista. Que ontem esteve na cerimónia e recebeu um miminho de António Costa: a 'Confiança' foi determinada pela concelhia PS do Funchal, mas também, anime-se homem, pelo próprio PS-M. Ou seja, Carlos Pereira também foi ouvido na matéria, disse o chefe alfacinha. O que é mentira. Mas são tempos eleitorais. Doer a sério nas entranhas do PS, só mais perto de 2019.

A sondagem é má notícia também para os partidos e concorrentes mais pequenos. Barreto seria vereador, os outros nem entrariam.

Mas, que diabo! Ora, ora. O feeling cá do Fénix, pelas vivências no meio da plebe que vota, dizia que não haveria maioria absoluta no Funchal. Por demérito das candidaturas. A onda de euforia em 2013 agora avança em sentido contrário, ao arrepio da coligação. Estávamos capazes de apostar numa pulverização na peste da Câmara do Funchal - só com minorias, e, de entre elas, a minoria de Cafôfo acima das outras, isto dentro desta cabeça rija. Cabeça que pensava o mesmo para mais umas 7 ou 8 câmaras, veja-se.

A sondagem diz o contrário sobre o Funchal, para já. 

6 mandatos para os de Cafôfo, 4 para o PSD, 1 para Barreto do PP. 

É capaz de os pretendentes à Câmara, alguns a virar frangos há muitos anos, não se irem abaixo das pernas com o show-off destas jornadas americanas. Podem até intensificar a batalha. Sabem que a populaça não atina com órgãos políticos que se movimentam sob as ordens do lado de lá. E podem tirar partido destas exibições paternalistas de Costa. 

Em todo o caso, os rivais da Confiança terão de contar com uma realidade: Cafôfo é candeia que vai à frente. Um recandidato que sabe muito, joga longe e tem profissionais a almofadar-lhe o caminho. Digam: alguém, tirando a bandeira do PS que uma militante ofereceu a Costa, alguém viu ontem algum símbolo partidário, de quantos integram a Confiança? Só se foi na lapela de Carlos Pereira. Pensem nisso em termos imediatos e de futuro.

Estamos a viver um período muito interessante cá na Tabanca, mas quem havia de dizer! Um case study!

Nota da Casa - Por favor, Leitores, não nos obriguem a esgalhar legendas para estas excelentes fotos. De certeza que ia descambar. Cada Leitor que faça as suas. Baixinho, se puder ser.