O vento frio não refrescou ideias na Herdade

Prometer 11-0 nesta altura do campeonato

pode impedir Albuquerque de ver o fogo

Fotos: GREGÓRIO CUNHA

Miguel Albuquerque voltou a colocar a fasquia a uma altura inacessível. Disse hoje na serra que o PSD não se vai limitar a tentar, vai sim fazer uma campanha assumidamente apontada à vitória nos 11 concelhos e nas 54 freguesias. O líder social-democrata entusiasma-se e vai disto. Devia lembrar-se de que o seu antecessor anunciava o objectivo 11-0 e que na maior parte das vezes apresentou aos militantes os triunfos prometidos. E se não aconteceu sempre assim de 4 em 4 anos foi devido ao peso político de Góis Mendonça no Porto Santo e dos irmãos Martins em Machico.

Albuquerque foi buscar as eleições disputadas já no seu reinado para dizer, como disse na Herdade: as carpideiras e os velhos do Restelo prenunciaram sempre que íamos perder e afinal ganhámos. 

Um chefe deve levantar o moral das tropas falando da inevitabilidade da vitória. Mas por que não falar, em vez da vitória total e esmagadora, em simplesmente 'ganhar as eleições', que daria mais margem de acerto? E é se der. Vistas as coisas de outro ângulo, não é impossível o PSD perder o maior número de câmaras e freguesias, incluindo a capital. E então, num caso desses, dificilmente Miguel Albuquerque terá palco no próximo ano na Herdade para dizer coisas de tal jaez.

Além do mais, há um problemazinho na postura do novo Rei da Tabanca. Ele ameaçou lá em cima, antes das canções amorosas da Fafá, que estas eleições não vão ser levadas a brincar, muito pelo contrário: vai ser todos os dias no terreno para denunciar as mentiras e a incompetência das autarquias de outras cores - que, a seu ver, não investiram em obras nem em políticas sociais. Ora, com dois anos de governo e sem obra que se veja, não será confortável a Miguel apontar esses defeitos aos outros. Afinal, que obra fez a Ponta do Sol? E a Calheta? A Ribeira Brava? E as outras câmaras PSD? E o governo?

Miguel Albuquerque não iria mal se optasse por combater a empresa LPM que alumia a corrida eleitoral do seu grande caroço, Paulo Cafôfo. Badalar a "publicidade paga" e o "marketing" de que vivem os "manequins sorridentes" - expressões suas este domingo. Atacar os que, ao contrário dos autonomistas social-democratas, chamam "padrinhos de Lisboa" para decidirem na escolha de candidatos, como aconteceu no Funchal e em Santa Cruz. O povo do planalto reagiu entusiasticamente a este tipo de slogan comicieiro e também gostou da crítica aos "milhares de páginas de publicidade paga", indirecta ao candidato da Confiança e a câmaras rurais com muito dinheiro para suplementos absolutamente inúteis. 

No caso específico da capital, Miguel Albuquerque, ao apresentar os candidatos no alto da serra, reafirmou que o objectivo é apenas um: "Salvar o Funchal da incompetência, ganhar as Câmara e as juntas."

Chefe Azul, desta vez com o verbo mais solto e menos anestesiante, agarrou-se à linguagem futebolística para empolgar as massas - que não eram tão compactas na Herdade como já foram: "Nós não jogamos para o lado, nós chutamos à baliza, marcamos os golos e vamos ganhar no dia 1 de Outubro."

Não fora pelo receio de nos incluírem no rol das carpideiras e dos velhos do Restelo, recordaríamos aqui tantos treinadores da história dos nossos clubes que na apresentação do plantel prometeram vitórias atrás de vitórias e depois não chegaram - eles, treinadores - a ver o fogo na Madeira.

E tudo o vento levou: capota do palco e lonas laterais.

Nivalda, Pedro Coelho, Miguel, Roquelino e Rubina: o sonho comanda a vida

"Passos, não te esqueças de falar no PAEF!"

Garcês do Norte, do Sul, do Leste e do Oeste.

Montenegro, não fales nisto em S. Bento, mas aqui também sabemos trabalhar em geringonça!

Guilherme, Armando... Temos música amanhã no Renovadinhos!

Mais Jardim Ramos, mais Renovadinhos..

Para quem lidou tantos anos com serpentes, não há cobra que meta medo!

Vamos mandar esta para o face do António Costa.

Sara Madruga não desapegou da maralha. Sabe o que está a fazer e vai longe.

Estes aplausos são todos para mim?

Passos: "Oh Rui, que vergonha aquele Costa, a maneira como trata as Finanças da Madeira!"