O ”ÍNDIA” METIA ÁGUA
GAUDÊNCIO
FIGUEIRA
Há cerca de
um sec. e meio, em tempo de monarquia, tinha o País quatro Partidos, Histórico,
Regenerador, Reformista e Constituinte. Todos eles eram Católicos,
Centralizadores, amavam a Liberdade e defendiam a Ordem e o Progresso.
Organizavam-se a partir de galopins (homens cujo trabalho consistia em angariar
votos a favor de um candidato) e caciques (os votos obtidos pelos galopins
permitiam aos caciques garantir a vitória a um chefe partidário). Os Partidos,
devidamente representados na Casa das Leis, o bom senso e a vontade de S.
Alteza Real, no topo da pirâmide do Poder Político, garantiam a gestão dos
Negócios do Estado.
Almeida
Garret foi um cidadão comprometido com a causa do Sr. D. Pedro tendo arrostado
as consequências dessa opção. É sobejamente conhecida a frase da sua
autoria – «foge cão que te fazem barão! Mas para onde se me fazem
Visconde?!» Discordava da atribuição de títulos nobiliárquicos a
elementos da burguesia. Considerava mesmo que, antes os frades da velha
monarquia do que os barões nascidos com o regime liberal. Esta sua opinião
ficou bem expressa noutra frase célebre – «o barão mordeu o frade,
devorou-o e escoiceou-nos depois!». Pela boca morre o peixe, diz o
Povo. Foi isso que aconteceu ao nosso Garret. Morreu em 1854, com o título de
Visconde e Par do Reino. Porém, a História não o repudiará!
Portugal, no
fim do sec. XIX, atormentado por uma Europa em ebulição, precisava de
galvanizar o Povo, envolvendo-o numa onda de forte Patriotismo. Episódio bem
marcante foi a inauguração do navio “Índia” onde as “Forças Vivas” procuravam
esse efeito. Na inauguração acotovelam-se os aristocráticos Marqueses, Condes,
Viscondes e Barões com gente da burguesia que, adorando Títulos, os conseguira.
Também lá estava representado “o barão que mordeu o frade”.
O barco fora
comprado após profunda reflexão, obedecia aos mais avançados conhecimentos
científicos da época. O “Índia”, custara muitos milhões, era a glória da nossa
marinha e a imprensa exaltava-o. Ele era perfeito, apenas metia cinco polegadas
de água por dia. Hoje, resta-nos agradecer ao inefável Eça de Queiroz que nos
deixou a descrição dos factos que marcaram a Vida do Povo e nos trazem
ensinamentos.
A
Aristocracia com os seus marqueses, duques, condes e viscondes acabou.
Restam-nos os partidos que parecem ter herdado os galopins e caciques vindos do
passado. Basta ouvi-los ou lê-los a propagandear os respectivos interesses de
grupo para nos interrogarmos: onde fica o Bem Comum neste arrazoado
“clubístico”? Drs., Engºs., Prof., gente da imprensa e audiovisuais andam
mortinhos por nos venderem gato por lebre. Se nos descuidamos enfiam-nos um
Índia na propaganda. Queixam-se da Justiça? Alguém, quando quer votos, propõe
alguma coisa de jeito sobre o assunto? Não são aristocratas, metam isso na cabeça!
Quem vos garante o Poder é o Povo com os votos! Dão música, futebol e
espectáculos vários. De coisas sérias nada! Não é, por isso, brilhante o
panorama.
Porém, a
realidade madeirense é bem pior. O “Índia” que temos à vista de todos chama-se
Novo Savoy. Ostentam as obras em curso, uma importante diferença relativamente
às polegadas de água que entravam no casco do barco. Todos vemos o monstro!
Interessante é a retórica partidária com que cada partido tenta escapar às suas
responsabilidades. Hábeis a usar a palavra, os Srs. Advogados assumem a defesa
acérrima das “suas cores”. Herdeiros do velho amedrontamento das pessoas, é
vê-los ameaçarem com Tribunal quem duvidar da Honra de S. Exªs. Ninguém duvida
de vós. Sois Homens Públicos acima de qualquer suspeita! Quando invocais o dec.
a alínea ou parágrafo tudo é pensado e repensado como, aliás, acontecera com a
aquisição do velho “Índia”. É obra perfeita! Apenas precisamos entender porque
fogem da única Obra gerada na Autonomia. Lisboa não foi tida nem achada para
isto, o PPD/PSD-M Partido da Autonomia, o PS e o CDS, sempre no respeito pela
lei, oferecem-nos esta “prenda” serôdia ao estilo do “Índia”. Terão honrado a
Autonomia que tantas loas vos merece?
Já agora,
digam-nos, como vão pôr cobro à crescente conflitualidade entre Câmaras e GR? O
recurso a Tribunal com os advogados pagos pelo dinheiro dos impostos é uma
constante. Há, na comunicação social, referência a uma possível maioria
absoluta no Funchal. Acham que foram vantajosas para o Povo as maiorias de
Cavaco Silva, José Sócrates ou Alberto João? Gostaram? Votem maioria absoluta!
Mas se não gostaram e, ainda assim, votam maioria, não se queixem depois.
9 comentários:
Se a minha vontade de votar já era pouca...
A tragédia actual nas eleições, é a escolha em quem votar.
São de tal modo maus, que a abstenção ou o voto em branco é aquilo que me dita a consciência.
O conde do Arco também tem as suas megalomanias, e então nada melhor do que "estar em graça" com a "máfia no bom sentido". Daí ter surgido o Savoy que mais se parece com o Queen Elisabeth II, encalhado algures para os lados da Penha de França. Coloquem-lhe umas chaminés dos vapores do cabo, e o monstro passa despercebido como que um navio encalhado na "imbecilidade" dos nossos governantes com manias de grandeza, mas que não são mais que os antigos "moços de recados" que alguns dos nossos avós tinham nas suas casas!
Acho que devemos votar. A mim, para mostrar desagrado por tudo isto, o Nulo é o voto adequado.
Fica dito, para quem quiser interpretar, que se alguém não cumpriu algum dever cívico, não fui eu! Resta a quem manda, procurar os prevaricadores.
Tanta conversa da treta p apelar às pessoas a não votar no cafofo? Diga homem votem Leal e mais honesto
O desagrado não se mostra pelo voto nulo a não ser que se queira beneficiar os partidos dominantes do método de hondt o desagrado mostra se votando validamente
O voto nulo apenas quer dizer que o meu dever de cidadania é cumprido.
A esse meu dever corresponde o dever dos eleitos e dos partidos que os propõe ao escrutínio cumprirem o(s) seu(s). Manifestamente não cumpriram!
Tivessem cumprido, e esta pouca vergonha do Savoy não chegaria ao ponto chegou. Votar nulo é chamar a atenção para esta triste realidade.
Cumpram os vossos deveres, só assim posso escolher.
Não apoio nem desapoio ninguém.
Ó das 23.25, pelo contrário, o voto nulo é um voto de protesto, nos que estão no poder e, nos que estão na oposição.
Votar validamente em quem, se olhamos as candidaturas e só vemos arregimentados, lunáticos, tachistas, ambiciosos desmedidos, etc.
Como não se pode dar uns tiros, vota-se nulo.
É para já: votem Rubina Leal!
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