Casais autárquicos?
Esta campanha autárquica não é apenas a pior de sempre em democracia; é também a mais tonta e tristemente original.
Então para o que é que lhes deu?
Por uma questão de economia de palavras e também de higiene mental, vamos focar (só) dois aspetos:
1.º A forma e o conteúdo
É uma dor d’alma ver o que esses “coitados” – tanto os autopropostos como os impostos pelas nomenclaturas – aceitam para fazer apelo ao voto popular. São frases completamente idiotas e sem nada a ver com o tema da vida real nas autarquias. Tomemos, por exemplo, a Ponta do Sol. Segundo o cartaz, temos “Visão Global”. Nem mais! Parece o nome de uma empresa de serviços. Mas, afinal, quem é o bicho que de sua natureza tem esta visão? Talvez as aves de rapina, que voam lá em cima, planando em círculos, até descerem em voo picado sobre as presas incautas…
E as promessas? O absurdo total. Dir-se-ia que estão noutro planeta. Nada quantificado, nada que, a bem dizer, seja mesmo necessário: só a demagogia impera, não interessa quanto custa. E o surreal das “propostas”, a maior parte delas remetendo para assuntos de responsabilidade governativa. Não percebem que seria essencial, no Funchal, ter ruas limpas e arrumadas, um comércio digno, jardins cuidados, disciplina nas esplanadas e na publicidade, a harmonia entre a cidade velha e a cidade nova, a vida dos cidadãos mais facilitada. Em vez disso, promessas mirabolantes e bacalhau a pataco! Dir-se-ia, julgando pelas “mesas-redondas” entretanto propagandeadas dos onze candidatos, que cada um deles tem uns 20 milhões de euros para gastar no curto prazo…
Depois, a palavra “confiança”. Nunca foi tão usada e abusada: talvez mesmo, a julgar pelo uso real, escarnecida! Dá-se a volta à ilha e é confiança a rodos: circula mais que vinho seco em rodada de arraial. A começar pelo do Funchal, a confiança é a pedra preciosa – contrafeita e de brilho falso – com que julgam levar o povo à certa. Pobres coitados: nem imaginam como as pessoas têm por quase todos eles um secreto desprezo e lhes conhecem as manhas efabuladoras. Não percebem, porque em geral são analfabetos, que a democracia populista e mediática que vivemos desgastou pelo abuso o valor das palavras: quanto mais “rigor” anunciado na gestão da coisa pública, mais falcatruas e amiguismo nos concursos, ou negócios privados com dinheiros públicos; quanto mais “transparência”, mais obscuridade, burocracia e alçapões legais; quanto mais “confiança”, mais paleio barato e procedimentos dignos de famiglia siciliana!
E vêm com cartazes daqueles, conhecendo nós os seus “currículos”?
Só há uma conclusão a tirar: os mandatados são dignos dos seus mandantes!
2.º - Agora, os “casais”
Numa coisa estas autárquicas foram originais: resolveram, todos os partidos, fazer propaganda dos candidatos… arrumados por “casais”. Vai-se na estrada e de repente dá-se com a vista num novo casal social-democrata; avança-se mais um pouco, e numa rotunda perdida nos arrabaldes lá aparece um novo casal socialista; mais adiante, num beco suburbano sem saída, eis que surge o casal comunista, imaginem! Depois de ver muitos, tantos e tão variados casais para todos os gostos, lá se percebe a engrenagem: o partido resolveu ser o mais possível politicamente correto, e então toca de mostrá-los aos pares, em casais hetero ou homo, não importa, isso agora do género é sempre abrir, que coisa mais antiquada falar disso, o que interessa mesmo é mostrar os “nossos” candidatos, não é? Alguma mente mais perversa verá nisso, quem sabe, uma espécie de “saída do armário”, nuns casos, ou de “poligamia benigna”, noutros. Pouco importa. O que interessa mesmo é ver aquilo que eles chamam “a campanha”, nome falso para doses cavalares de propaganda para “def’s”, que é o que eles pensam que somos (quase) todos.
Já agora, só mais esta: por que é que não aproveitaram o desfile da Festa do Vinho, coisa engalanada e rica para encher o olho à vilhoada, e não puseram a candidata pelo Funchal a desfilar montada naquele cavalo em que ia o boss do desfile? Faria melhor figura, sim senhor, se vestida “à época”, e todo o povo eleitor a via e aplaudia, alta e garbosa, desafiadora em cima do cavalo oitocentista reencarnado de um mayor dos bons velhos tempos…
Ah, povo enganado, vais ter de levar com estes “casais” por mais mês. Não é carnaval, mas ninguém levará a mal: a 1 de outubro eles já se divorciam…
K – Jornalista Autárquico (sem par para formar casal)
5 comentários:
e as fotografias de campanha?! Iguais, no JM e no DN. o retratista é o mesmo, trabalha para os dois? Ou os partidos é que fazem a "peça" e enviam junto com a fotografia para ambos?
Os partidos fazem o texto e foto e enviam, as redações fazem copy paste do texto colocam a foto no quadradinho e siga!!! Jornalismo do melhor.
21.43
Chiiii, de facto não tinha reparado neste atentado ao jornalismo, que se quer sempre "do melhor". Meter o que os partidos mandam! Esta agora!
Mas nada está perdido. Amanhã abro concurso para contratar 6 jornalistas que façam a cobertura da campanha, para evitar este inqualificável copy paste.
Mas 'pera aí. Não é preciso. Porque contratar meia dúzia de escribas sairia caro e aqui não há receitas a não ser o gozo de chatear a molécula de certos intelectuais. Basta não meter os textos malditos e pronto, não há agressão ao jornalismo "do melhor".
Boa!
Mas... e se me apetecer divulgar a campanha mesmo vista pelos próprios protagonistas? E se me continuar a dar na real gana deixar estas 'reportagens' em causa própria, comunicados e protestos - tudo aqui registado para memória futura?
E se me apetecer porque sim?
Afinal, isto aqui não é uma redacção.
Bem, vamos continuar na mesma linha e quem não gostar põe na roda do prato.
Adoro as suas respostas sr. Calisto! Dão- me cá um gozo!!
Parabéns!
Tecnologia,liberdade de expressão, honestidade maturidade, humildade e respeito pela verdade...
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