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sexta-feira, 31 de janeiro de 2020


Considerações sobre os métodos políticos

Muitos filósofos consideram a política como a arte de promover o bem comum de uma dada Sociedade. Outros, seguindo a tradição de Marx, consideram que a política é a arte da dominação de uns sobre os outros. A partir do momento em que se admite que não há unanimidade sobre fins (ou objectivos) e desbrobramento táctico (ou forma de atingir o objetivo: quais os meios e recursos a utilizar, a quantidade de meios, etc…), conclui-se que ambas concepções tendem a utilizar as mesmas técnicas: 

1- “políticas de terra queimada” (exemplo: impedir o sucesso de adversários e correligionários, não atribuição do mérito a quem o tem). 
2- “dividir para reinar” (exemplo: desigualdade de direitos e deveres entre funcionários públicos e trabalhadores privados, promoção da imigração, …). O cúmulo deste “dividir” está na técnica de inserir membros desordeiros (como por exemplo, polícias) em manifestações para as desmobilizar. Estes membros desordeiros terão atitudes incompatíveis com os valores morais dos demais manifestantes e consequentemente retirarão o apoio da população a esse protesto e legitimarão as decisões do poder instituído; promoverão a incompatibilização entre manifestantes (utilizando, por exemplo, o racismo); provocarão cargas policiais para desmobilizar parte dos manifestantes (e impedir que muitos voltem a se manifestar). 
Vi a aplicação destes métodos na preparação da manifestação dos coletes amarelos em Portugal: acusações que estaria a ser preparada pela extrema-direita, nas conversas no facebook havia sempre alguém a dizer que a manifestação era contra os direitos abusivos dos funcionários públicos, outros a dizer que era contra os imigrantes, outros manifestaram-se contra os direitos dos desempregados e beneficiados pelo RSI,… Aqui na Madeira tudo foi perdido quando um dos testas começou a dizer que a manifestação era contra o Estado Central utilizando argumentos do PSD-M. Quantos revoltados há na Madeira que queiram manifestar-se a favor dos laranjas? Ou que queiram dar voz a um laranja podre?
3- “a Inevitabilidade da decisão”, que é basicamente fazer crer que a decisão é a única possível, e impedir que se discuta sobre as suas causas, consequências e alternativas. Para isso simplesmente apresenta-se a decisão e não se dá qualquer informação para além dessa decisão que não seja já do conhecimento público. Apresento dois exemplos actuais: o fecho da Frente Mar, e a greve de hoje. 
A greve de hoje é sobre o parco aumento de 0.3% dos funcionários públicos. O leitor viu algum sindicalista apresentar a alternativa de aumentar os trabalhadores num valor fixo em euros (ex: 5€) ou diferenciadamente consoante a remuneração (exemplo: os que recebem até 1000€/mês têm um aumento de 25€ e os restantes 2€) mantendo a despesa para o Estado devido ao aumento salarial? Viu algum sindicalista apresentar uma solução de aumento salarial baseada na diminuição de apoios do Estado à banca? Se o Estado deixasse de pagar calotes e corrupção da banca, talvez o aumento de salário fosse de 100€/mês para quase todos os funcionários públicos, e de diminuição de contribuições (IRS, IVA, SS,…) dos demais contribuintes seria de 150€/mês.

Assim sendo, a única diferença prática nas duas concepções sobre a política é o coração do político que as aplica: um corrupto aplicará as técnicas para dominar, amedrontar e enriquecer; um virtuoso aplicará as técnicas para promover a população (formar, educar, aumentar a autoconfiança da generalidade dos indivíduos, dar mais bens e serviços, melhorar o bem-estar da maioria, unir a generalidade da população em torno de um objectivo). 
A generalidade dos políticos portugueses têm as seguintes grandes falhas: 
1) falta de ambição (está contente com o que tem, pelo que passa o tempo mantendo a sua própria posição). 
2) Corta-caminho. Sabendo que os amigos de hoje serão os inimigos de amanhã, não faz amigos; não cria um grupo de indivíduos de notória capacidade para alcançar o Poder.
3) Por uma pequena eventual vantagem viola os princípios morais que publicamente defende (o que leva a que poucos nele confiem, e consequentemente não consegue liderar).
Os políticos portugueses só aplicam duas soluções aos seus filiados: ou compram-nos ou desprezam-nos. A opção de os inspirar nunca é equacionada. Para os inspirar é necessário apresentar um objectivo grandioso compatível com os valores dos membros de sua organização, mostrar capacidade para o conseguir, valorizar o mérito e mostrar integridade moral.
Eu, O Santo

P.S. - Estou convencido que a esmagadora maioria dos funcionários públicos que recebem mais de 1000€/mês não protestariam se os aumentos efectivos de remuneração fossem para os ordenados mais baixos ao invés de serem concentrados nos salários mais altos. Obviamente pediriam a inclusão de um terceiro escalão: os ordenados superiores a 2500€/mês nada aumentariam.

2 comentários:

Anónimo disse...

Pois bem, eu ganho cerca de 1.100€ ao mês e sinceramente importo-me em ter um reles aumento de 2€ para depois as contínuas que passam a vida a costurar receberem 25€ de aumento para gastarem a comprar sabonetes e champôs da Avon e da Oriflame às amigas que os vendem na hora de expediente. Para aquilo que fazem e para as (poucas) responsabilidades que têm, já ganham muito mais que eu.

Por isso Santo, se o dinheiro não te faz falta, a mim faz. Os aumentos ou são para todos ou não é para nenhum.

Anónimo disse...

Câncio,
Segundo a tua conversa gravada com o tu chefe, e por ti tornada pública sem consentimento do mesmo, se te derem lugar de chefe com mais de 3.100€, tu deixas de chatear. No fundo és uma p...!