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quinta-feira, 12 de abril de 2012

Politicando



VAGA SANGRENTA DE 'FACADAS NAS COSTAS' FAZ DESMORONAR O LARANJAL




Para prolongar o regime do vinho com espetada, Jardim pleneou uma arrasadora noite das facas longas que, porém, parece um feitiço contra o feiticeiro.




Uma sucessão vertiginosa de traições vem dar razão aos profetas da política insular que previam fatal implosão no PSD-Madeira, mais tarde ou mais cedo



* Jardim lançou Sérgio Marques para erradicar a linha Miguel Albuquerque da Câmara do Funchal, traindo Bruno Pereira



* Os 'saneados' que integram a vereação actual perfilam-se numa frente de independentes contra Jardim



* ... E Miguel Albuquerque trai o poderio do chefe anunciando a sua candidatura à liderança do PSD-M


* Jardim manda em perseguição de Albuquerque um segundo candidato, Manuel António Correia, traindo Cunha e Silva 


* João Cunha e Silva acusa o desprezo e, sem autorizações especiais, declara-se também na corrida



* Ontem, quarta-feira, João Cunha e Silva e Bruno Pereira, representantes de duas linhas antagónicas no PSD, estiveram lado a lado numa iniciativa do 'Diário de Notícias', com Michael Blandy, que o seu chefe considera um arqui-inimigo



* Esta manhã de quinta, no 'boca pequena', que publica diariamente no JM, Jardim queixa-se de "tanta facada nas costas"





Não se tratou de encenação combinada com Jardim: João Cunha e Silva foi realmente apanhado de surpresa quando soube do anúncio da candidatura de Manuel António à liderança do PSD, promovida pelo chefe máximo. Tratava-se de uma resposta da cúpula - Jardim - ao avanço deliberado de Miguel Albuquerque, mas Cunha e Silva obviamente pretendia ser consultado, ou pelo menos informado, previamente.

Desde sempre considerado potencial sucessor de Jardim, Cunha e Silva conseguiu deferimento para o pedido feito para substituir o 'Fiat 600' que pilotava na corrida com o 'Ferrari' de Miguel Albuquerque, este ao volante da Câmara Municipal e a brilhar com vitórias eleitorais. Jardim deu-lhe, para correr, a vice-presidência do governo regional, em Novembro 2000.

O futuro do PSD-Madeira, partido então nas mãos do advogado Alberto João Jardim, como ainda hoje está, parecia encomendado para um de outros dois advogados, Cunha e Silva ou Miguel Albuquerque. À época, poucos repararam no despontar da carreira de um quarto advogado que entrava em cena pela porta do governo: Manuel António Correia.

Com avanços e recuos, os chamados delfins geriram a corrida tentando não ferir a susceptibilidade jardinista: o chefe ora mandava os pretendentes assumirem-se, ora mandava-os calar, ao perceber interesses confirmados. Assim que lhe cheirava ao seu próprio fim de linha, a febre do ciúme invadia-o irresistivelmente, a ponto de ostracizar por largas temporadas quem se pusesse 'em bicos de pés', isto é, quem se achasse no direito de avançar ou sequer de manifestar uma ideia própria.

Nos últimos anos, Cunha e Silva foi apontado comummente como candidato mais perto do objectivo. O preferido do chefe. O que lhe valeu campanhas hostis dentro e fora do seu partido. Até que numa entrevista ao DN fez questão de anunciar a sua não-candidatura.

Jardim sugeriu Albuquerque... para o PS

A conjuntura dos últimos tempos, com os anos de poder a mais e a doença de Jardim, o processo de substituição no PSD acelerou-se e o chefe perdeu as rédeas da carruagem. Todos menos Miguel Albuquerque, dava a entender o chefe, que em privado costumava ironizar: "O Miguel dava um excelente candidato para o Partido Socialista." Inveja descaradamente manifestada em todas as oportunidades.

Mais recentemente, o líder social-democrata indispôs-se com as mudanças de humor de Cunha e Silva, muito atreito ao ressentimento. O vice ora parecia disposto a tentar a liderança, ora nem pensar. Até que a corrente sucessão de acontecimentos no PSD, envolvendo os nomes de Albuquerque, Sérgio Marques, Bruno Pereira, Cunha e Silva e Manuel António Correia, veio dificultar ainda mais o atribulado andamento da carroça.

Jardim considerou-se vítima de uma facada nas costas quando Albuquerque, em plena pré-campanha eleitoral das legislativas 2011, participou numas jornadas parlamentares do PP. Então, intensificou as habituais arremetidas contra a equipa municipal. O que acabou num grito do Ipiranga até há pouco impensável no laranjal madeirense: Miguel Albuquerque anunciou-se candidato para disputar seja contra quem for, mesmo Jardim, a chefia do PSD-M.
Jardim considerou-se traído.

João Cunha e Silva foi o apunhalado seguinte: irregular em termos comportamentais, sempre primou, porém, por uma fidelidade ao chefe cujo exagero chegou a merecer fortes e legítimas críticas dentro e fora do governo e do partido. E eis que o seu idolatrado chefe consuma realmente uma ideia já latente, catapultando Manuel António sem um telefonema para Canárias, onde o vice-presidente se encontrava ao serviço do governo. Não menos grave: Manuel António dispensou-se de dar uma satisfação a Cunha e Silva, de quem é subordinado no governo, antes de visitar a sua terra, os Canhas, para no meio da cana-de-açúcar em festa proclamar a sua candidatura.

Enquanto estes desconchavos de baixíssima qualidade abalavam o já periclitante corpo governativo, Miguel Albquerque consolidava o seu projecto de candidatura, desafiando, numa extensa entrevista ao 'Público', Domingo de Páscoa, as retaliações do chefe Jardim e as iras da temível 'máquina partidária' da Rua dos Netos. O que levaria o popularmente conhecido 'Único Importante' a desenfrear um discurso pretensamente intimidativo em São Vicente, desafiando o actual presidente da Câmara a enfrentá-lo pessoalmente a ele, Jardim.
Com o clima no laranjal ao rubro, novos procedimentos até à data impensáveis seriam notados ontem, quarta-feira, no Funchal.

Cunha e Silva com Bruno... e o 'Diário'


A presença de João Cunha e Silva na sessão de lançamento da campanha "Todos pelo Centro (Internacional de Negócios), Todos pela Madeira" representou, com efeito, um sinal de que não esqueceu a traição. Ainda que tenha dado conhecimento prévio ao chefe - se é que deu - a sua presença num acontecimento da iniciativa do 'Diário de Notícias', jornal que Jardim considera o seu arqui-inimigo, sugere muitos significados. Tanto mais que lá estava, obviamente, outra figura diariamente massacrada pelo patrão das Angústias, Michael Blandy, anfitrião da cerimónia.
Cunha e Silva, para mais, sentou-se na fila onde também se encontrava Bruno Pereira, vice de Albuquerque na Câmara e candidato, sem desmentido formal, numa lista de independentes a constituir para defrontar aquela que Jardim apresentar à Câmara, supostamente encabeçada por Ségio Marques.
Esta manhã de quinta-feira, na 'charge' que usa no JM pago pelo erário para achincalhar diariamente companheiros de partido e adversários, Alberto João Jardim prostra-se desalentado no solo estilhaçado da Madeira Nova. "Jardim deve ter as costas a doer...", diz ele de si próprio. "É tanta facada nas costas!..."
O 'rei das Angústias' não sente dores pelas facadas que dá nas costas dos outros.
Parece que a 'noite das facas longas' que planeou se volta contra ele.



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