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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Eleições Autárquicas


RICARDO VIEIRA ATACA CABRAL FERNANDES
UM POUCO ESQUECIDO DA COLIGAÇÃO DE 1989


Em Dezembro de 1989 a coligação 'Pelo Nosso Funchal' rebentou com os nervos de Jardim. Ricardo Vieira, hoje adversário da coligação 'Mudança', marchou lado a lado com os socialistas "marxistas".   



O antigo presidente do CDS-PP Ricardo Vieira saiu a terreiro esta terça-feira com uma crítica dirigida ao seu antecessor no cargo, Cabral Fernandes, embora sem explicitar nomes.

Numa carta divulgada publicamente debaixo do título "E o burro sou eu?", o Dr. Ricardo Vieira pretende claramente defender a liderança actual do PP face a uma posição política do Dr. Cabral Fernandes veiculada num mero blogue - este aqui que dá pelo nome de 'Fénix do Atlântico'.
O autor do escrito explica logo ao que vem: "Acusam o CDS-PP de não ter feito parte da coligação..." Para então condenar "essa eventual coligação onde se deitam na mesma cama inimigos viscerais".  
Afirma também que "o aliciamento de derrubar o que resta do partido maioritário não é razão suficiente nem necessária para deitar fora memórias e valores".
Não é necessário? Ricardo Vieira explica-se: "Não é necessário porque há outras formas de lá chegar e as coligações não são operações de somar votos como se o eleitorado fosse apenas a fasquia distribuída e obtida noutros actos eleitorais."
Manifesta-se ainda, referindo-se ao Dr. Cabral Fernandes, contra aqueles que "atiram com a burridade dos outros por não fazerem um novo albergue espanhol", ou seja, a coligação 'Mudança'.


1989: mudam-se os tempos...


Não temos de tomar a defesa do Dr. Cabral Fernandes - o advogado é ele -, mas impõe o sentido jornalístico a evocação de uma época em que o Dr. Ricardo Vieira pensava de forma diferente. Tão diferente que levou o seu beato partido a uma coligação com os demónios do socialismo marxista - e vejam quando, se não em situação idêntica àquela que se vive hoje em dia!
Estávamos em 1989. 
Sem tratar de saber se o 'casamento' com o Partido Socialista seria 'à espanhola' ou se uma coligação conseguiria o somatório dos votos habitualmente alcançados pelos partidos aliados, como faz hoje no papel de outsider, Ricardo Vieira entregou-se de alma e coração ao projecto de conquistar a Câmara da capital madeirense.
Falhou a colocação à cabeça da lista de um independente com prestígio, porque, por isto ou por aquilo, desistiram dessa missão à última hora tanto o saudoso Eng.º Rui Vieira como o Dr. Gaudêncio Figueira. 
Ricardo Vieira esmoreceu? Não, senhores. O então líder dos centristas, como à época explicou ao "Parcial", estava farto de "ser tratado com ordinarices" por Jardim. Não o admitiria mais. 
"Sabe - explanou o político ao periódico funchalense em questão -, acho que durante muito tempo legitimámos o sistema da Madeira, fomos muito brandos. Isso agora acabou-se."

"Espantalho" e "badameco"

Era uma boa altura, a dessas autárquicas de Dezembro de 1989, para dar uma lição a quem desconhecia as regras democráticas e se julgava "o centro do mundo", tornando-se aos poucos "uma criatura repelente". Jardim, pois claro.
A situação dessa altura - já lá vão 24 anos - tinha muito da que se vive hoje. Ricardo Vieira não gostava de ver o chefe das ilhas deslocar-se como um sindicalista a Lisboa, para exigir mais dinheiro, e depois regressar ao Funchal "dizendo mal do patrão". 
À época, muitos heróis que apareceriam no futuro andavam recatados no anonimato, porque o laranjal arrasava quem se mexesse. Ricardo Vieira teve mesmo de espicaçar a jornalista entrevistadora, que parecia não tomar nota das suas expressões mais contundentes. "Pode escrever - incentivou - que o Alberto João é um espantalho, um badameco que até tem de fazer de autarca." Era táctica de campanha para arrasar o candidato social-democrata, João Dantas. "O actual presidente da Câmara do Funchal, e candidato do PSD às próximas eleições (Dezembro de 1989), é um bom contínuo do presidente do governo."


Na altura, as sondagens tinham importância para quem as desvaloriza hoje (quando não interessam).

Entraria na luta, dado ter falhado a candidatura de um independente, uma lista conjunta de conservadores católicos do CSD e socialistas marxistas ateus do PS, com o próprio Ricardo Vieira em número um na corrida à Assembleia Municipal e Emanuel Jardim Fernandes como cabeça-de-lista à Câmara. 
Um "albergue espanhol"?, Dr. Ricardo. Uma coligação de meros inimigos viscerais ligados pela obsessão única de derrubar o PSD e sem a certeza de somar os votos de ambos? 
Sim e não. 
Mas quem tinha de se explicar era o Dr. Ricardo Vieira. Que o fez nestes moldes ao 'Parcial': "Acho que esta coligação corresponde a um salto de mestre!" Nem mais.
Salto de mestre? Sim, porque era um encontro de duas forças políticas e democráticas (os marxistas aqui eram democratas...) a "dar aos madeirenses alternativas numéricas e psicológicas muito importantes". Ao mesmo tempo, considerava, ficava tudo a postos para repor "a liberdade dos madeirenses".
É certo que, na altura, Ricardo Vieira dizia rejeitar liminarmente a entrada de uma UDP na coligação, por não ter um "eleitorado ideológico". Mas lembramo-nos de ser o próprio PS a não considerar a entrada daquela formação, então liderada por Paulo Martins.
"Ou nós ou eles", disse Ricardo Vieira, referindo-se à UDP. Mas porquê uma posição assim drástica? "Porque a UDP não é útil", foi como o chefe centrista explicou a discriminação ao 'Parcial'. "Não é útil" - ao menos houve sinceridade.


Dr. Ricardo muito preocupado com os grandes projectos

Avivou-nos a curiosidade a parte da carta de Ricardo Vieira divulgada hoje em que o autor toca os sinos a rebate. Muito preocupado com os projectos turísticos do Grupo Blandy e do Grupo Pestana, cá no Funchal. 
Que fará desses projectos na Câmara uma coligação "onde se juntam o Sr. Coelho com o Sr. Roberto Almada e Sr. João Isidoro, lado a lado com o Dr. Gil Canha e a Dr.ª Jardim Fernandes?" - pergunta-se na carta.
Bom, calculamos que uma autarquia, mesmo que dirigida pelos 'perigosos' elementos que o Dr. Ricardo Vieira hoje aponta, não teria remédio senão resolver o que fosse aparecendo em cima da mesa. O próprio Dr. Ricardo Vieira, nos seus tempos de câmara, relativamente recentes, deparou-se com casos bicudos para o seu papel de vereador. Caíram na mesa de plenários projectos de grande envergadura cujos empresários tinham contratado precisamente o Dr. Ricardo Vieira como advogado, deixando-o numa delicada dupla posição. Defender e autarquia e os empresários ao mesmo tempo dá sempre faísca perante a vereação.
Isso aconteceu, todos se lembram. E não estamos todos aqui hoje, vivos e bem dispostos? O mundo não pára de girar.



O Doutor, na sua estimada missiva desta terça-feira, atribui aos coligados da 'Mudança' um acto de confissão de que, por si sós, não têm "capacidade para lá chegar".

Vai desculpar-nos, mas discordamos. Em 1989, com o Dr. Ricardo na luta, o PS e o CDS tiveram "capacidade para lá chegar". Só não chegaram porque na "operação de somar votos" faltou incluir os boletins que apareceram inutilizados misteriosamente - como o Doutor se recordará.
Para quem não sabe, naquele tempo costumavam desaparecer urnas durante a noite, de domingo para segunda, reaparecendo mais tarde devidamente 'mafiadas'. Foi o que se deu com as eleições daquele 17 de Dezembro de 1989. Como aliás se pode perceber pela queixa entregue ao Tribunal Constitucional, que deu em nada por um erro processual da própria queixa.
Houvesse caído o PSD no Funchal dessa vez e o Dr. Ricardo Vieira não teria de se dar à maçada e ao embaraço de aparecer agora com uma determinação diametralmente oposta à que abraçou naquele tempo.
E nem sequer seria caso para aplicar a piada do Dr. Aníbal Faria sobre os que vão para o céu às costas de outros.


Símbolos e dirigentes do PS e do CDS, como Jardim Fernandes e Ricardo Vieira, juntos numa acção de pré-campanha, em 1989.

5 comentários:

Anónimo disse...

Calisto, vai desculpar-me mas você é sujinho sujinho. Será que o Dr Ricardo Vieira ouviu um "lembras-te daquela vez que me f@§€? Agora levas o troco na fenix". Enfim pseudo jornalismo escrito por uma pessoa que também fez das suas na RTP, mas isso é outra história ;)

Luís Calisto disse...

Bem, como começar a responder a um Sr. Comentador Anónimo desta estirpe?
Talvez pedindo que se identifique, para trocarmos argumentos aqui à vista, em igualdade de circunstâncias.
Você pode pensar tudo o que quiser de mim, porém ficará sempre com a revolta interior de, em consciência, não me poder chamar covarde, o que já não acontece quando se vê ao espelho.
Dê a cara e está desafiado a escarrapachar aqui, em público, essas 'minhas' que fiz na RTP.
E fim de conversa com fantasmas cobardolas.

Anónimo disse...

Muito bem.

Anónimo disse...

Sr. Calisto...está excelente! Isto é verdade....a aliança entre "interesses" bem patente na mudança de atitude...a inexistência de ideologia e "coluna"...isso tudo é verdade neste caso concreto....Continue....só tenho pena que seja parcial quando escreve sobre futebol madeirense que não é só o marítimo...

Anónimo disse...

Com esta é que você enterrou o, Ricardo Vieira, ehehehe
Estes gajos beatos que têm a mania que são sérios, merecem que lhes lembrem o seu passado. Muito bom o artigo que você escreveu.