TRAJECTO CURTO E ATRIBULADO
As trapalhadas desta Câmara começaram na cerimónia da tomada de posse, à boa maneira Santana Lopes-Paulo Portas
Paulo Cafôfo: do paraíso ao inferno em 6 meses. |
Pelo andar da carruagem sentia-se, aos primeiros quilómetros, um caminho da 'Mudança' cheio de buracos e armadilhas. E realmente a viagem tem avançado aos solavancos - com birras, mentiras, intrigas, contradições, puerilidades, ingenuidades e maquiavelismo, tudo no mesmo saco.
Hoje, uma ruptura definitiva na coligação municipal não seria propriamente a surpresa das surpresas.
No ponto a que a trapalhada chegou, não vemos saída que não o recurso a eleições intercalares. Parece-nos insustentável a existência de um executivo municipal cujo presidente está refém de 3 vereadores e que, para manter-se no cargo, precisa de ceder sempre que lhes apeteça a eles, vereadores. Os últimos e loucos desenvolvimentos provam que ali na Câmara não executa uma equipa, mas um montão de interesses e caprichos pessoais.
O presidente não tem a quem entregar pelouros, que incrível!
Ainda que, mesmo nesta situação aberrante, a Câmara vá sobrevivendo num agonizante dia-a-dia, não esqueçamos que a correlação de forças é de 4 vereadores executivos perante 7 do lado da oposição, agora que Gil Canha se separa da 'Mudança'. É maneira de uma Câmara subsistir, gerindo o município dentro de alguma normalidade, durante 3 anos e meio?
Pode dar-se um volte-face espectacular: Cafôfo, Filipa, Edgar, Idalina e Canha esforçarem-se por um entendimento e apresentarem-se juntos à população pedindo segunda oportunidade para o resto do mandato. Não seria inédito. Sem essa reviravolta nas próximas horas, a solução é uma: atalhar caminho para a queda da Câmara.
Cafôfo perdeu a oportunidade da 'fuga para a frente'
Quem perdeu tempo nesta caminhada para o Calvário foi sobretudo Paulo Cafôfo, rosto da vitória da 'Mudança'.
Logo no advento da crise, devia ter-se imposto com todos os seus poderes. Não com arrogância, mas nos termos da lei. Não o conseguindo, ala para consulta popular, sem complexos, sem receio de resultados. Podia recandidatar-se. Num movimento de cidadãos, como em São Vicente e em Santa Cruz. Ou mesmo assumindo-se como candidato do PS-M - porque as coligações na Madeira 'já eram', depois deste exemplo.
Agora, a 'Mudança' que mobilizou brilhantemente o eleitorado da capital desfaz-se aos poucos, o caso é esse. Canha leva consigo o PND. O PTP continua com o vereador que indicou, Edgar da Silva, mas o líder dos trabalhistas, José Manuel Coelho, há muito que virou costas ao movimento triunfador em 29 de Setembro de 2013.
Ou seja, o espírito da 'Mudança' restringe-se ao PS e aos frágeis MPT, BE e PAN.
É tarde. Passou o tempo de Cafôfo cavalgar a crise e lançar-se rumo a eleições intercalares que venceria, provavelmente. Agora, se cair, cai não por sua vontade, mas empurrado por vereadores que chegaram 'lá' por via do cafofismo.
A partir de agora, a desistência não nos pareceria em nome da reconquista da câmara numa luta eleitoral, mas pela dignidade da pessoa.
'Para grandes males, grandes remédios' ou, se Paulo Cafôfo preferir, 'antes que o mal cresça, corta-se-lhe a cabeça'. Há mais sabedoria do povo: 'o que não tem remédio remediado está.'
Ou será que Paulo Cafôfo prefere arrastar-se 3 anos e meio seguro pelo fio dos entendimentos pontuais, de mãos atadas pelo PP hoje, pela CDU amanhã?
O dilema é claro: ou a equipa se entende e, não sabemos por que artes, o prestígio é devolvido a todos, a cada um e à equipa, ou chega de deprimência. Adeus e até nunca mais.
É que o que estes cavalheiros da 'Mudança' estão a fazer a 110 munícipes é gravíssimo, lembram-se? Ou só o jardinismo é passível de crítica?
Um trajecto aos solavancos
O mandato desta coligação não começou da melhor maneira, longe disso.
Logo à partida, respirou-se um incidente na tomada de posse. Dentro do estilo Santana Lopes-Paulo Portas, embora não relacionado com competências executivas. Foi o episódio da presença de um líder partidário nacional na cerimónia, o socialista António José Seguro, por convite de Paulo Cafôfo. Um número protocolar contestado pelo PND, e aí com oportunidade.
A 'Mudança' fizera gala de mostrar que, passadas as eleições, os partidos da coligação ficavam nos quartéis e a vereação governava o Município com total independência. A cerimónia da tomada de posse descarrilou, nesse capítulo. E a presença de Seguro ao lado de Victor Freitas no Salão Nobre deixou para o correr do mandato uma suspeita no ar.
Não muito depois, fulgurou a saga Luís Vilhena, que criou a ideia de descoordenação entre Cafôfo e Gil Canha, mas também um quê de hesitação na equipa - afinal era para ser e já não é?!
Pelo meio, a salgalhada de uma derrama insuficientemente explicada.
Ainda mal conhecendo os cantos à casa, a vereação 'Mudança' já recebia críticas por ter cortado verbas às juntas de freguesia.
Pouco depois, a vereação sucumbia à tentação de proibir a circulação do JM na Câmara. Teria sido uma 'mudança' para imitar, afinal, a prática troglodita de Jardim, a quem os coligados sempre condenaram veementemente?
...Não que os comissários do referido jornal não merecessem essa e mais duras medidas retaliativas, mas porque a Câmara foi eleita para governar o município, não para tratar das guerras no mercado da imprensa. Não compete a um presidente que se preze aparecer como autor da proibição de um jornal, por mais hostil que lhe seja o dito papel.
Mas eis que pouco depois a AMRAM, presidida também por Cafôfo, procedia de igual modo!
Entre algumas coisa boas que ia fazendo na governação, Cafôfo descaía-se em pormenores que não eram os mais felizes, como o dizer que nem lixívia branqueia o PPD. Disse-o no congresso do PS-M, em Janeiro, e falou verdade. Só que a expressão soaria melhor se Cafôfo, em vez de presidente de um município independente, andasse no activo partidário.
Na impetuosidade destes 6 meses, a Câmara também não escapou às acusações de conquistar a simpatia da imprensa pelo método da publicidade paga.
Uma conversa prévia Cafôfo-Canha teria certamente evitado este lamentável haraquiri
Veio então a ideia de Paulo Cafôfo de fazer um balanço ao trabalho municipal nos primeiros 6 meses. O presidente pretendia, claramente, chegar a Gil Canha.
Um ponto de ordem: não é mentira nenhuma que corre pela cidade a fama da dureza de Gil Canha ao exigir o cumprimento de regulamentos, posturas e planos municipais.
Cafôfo queria outra forma de actuação, para suavizar as reacções de gente mais habituada ao jeitinho dos senhores da Câmara do que ao cumprimento integral das leis. Ora, em nosso entender, o delicado tema deveria ter sido pré-abordado a dois, analisado antes de subir à reunião dos vereadores avaliados.
Não custava nada Cafôfo colocar Gil ao corrente do que lhe chegava aos ouvidos a fim de ambos estudarem o que poderia ser feito para obviar a questão - caso fosse mesmo de modificar alguma filosofia comportamental. Alguma coisa havia de sair dali. Da forma como as coisas foram feitas, só poderia resultar o que resultou.
Beco com saída para o abismo
Reformular a equipa e evitar eleições intercalares? Pode ser que os protagonistas se entendam e consigam fazê-lo. Mas não se esqueçam de que há oposição - e bem feroz - na casa municipal. Lembrem-se das reuniões destravadas da Assembleia Municipal.
Como é que uma vereação recauchutada vai explicar as suspeitas entretanto levantadas dentro dela própria a respeito da subserviência do presidente ao Partido Socialista e aos tubarões da economia regional?
Que filete para Bruno Pereira e seus rapazes!
Nuvens negras carregam e ameaçam no horizonte do Funchal. Era uma vez um projecto puro, desinteressado, livre, destinado a derrubar a ditadura jardineira e abrir portas à fundação de uma Região verdadeiramente democrática e autónoma.
Pronto, deixem passar as europeias.
Pronto, deixem passar as europeias.
7 comentários:
Mas esperavam outra coisa de uma manta de retalhos com radicais pelo meio?
Sr. Calisto, de facto e apesar do estado de graça e muito boa vontade que se concedeu a esta gentinha e em particular ao Cafofo, a questão é que ele e a sua turma se meteram num bom funil. Politicamente desgraçaram um capital e desgraçaram-se a si próprios. No meio disto tudo o único que mantém coerência é Gil Canha que quer se goste ou não goste está igual ao que sempre foi. Nunca mostrou sorrisos falsos e sempre disse ao que vinha. Já Cafofo, armado em independente tentou enganar toda a gente até ao dia da eleição. Logo depois como aqui é dito, desde a tomada de posse tem sido um sucessivo desfile de arrogância, prepotência, quero mando e posso dele, e dos seus machuchos do aparelho do PS sob comando de Victor Freitas. E assim se liquida um movimento que se pensava poder chegar reforçado às regionais. Na Rua da Alfândega uma linha de pensamento contrário diz que o Freitas não quer sequer chegar a ter chance de ganhar as regionais pois ganha mais (literalmente) se se mantiver na oposição. Sempre com a avença ao Iglésias.
E nesta análise como se enquadra a primeira tentativa do presidente Cafofo para afastar o vereador Canha, aquando da manifestacao dos trabalhadores da Quinta do Lorde? Gostaria de conhecer a sua interpretacao...
Sr. Calisto pensa que, por exemplo, se se realizassem eleições intercalares na CMF, que o Bruno Pereira e a rapaziada que foi derrotada em setembro e 2013 seriam candidatos? Esqueça. Suspeito que o PSD jogaria com uma equipa renovada e forte. Quanto à "mudança", a um ano das regionais os partidos mais curtos - PND, Bloco, PASN e MPT - corriam o risco de ser "engolidos" pela estratégia totalitária do Vitor Freitas e sua rapaziada
Suponho que Cafôfo hoje mesmo pede a demissão e deixa cair o primeiro grande abanão ao partido único do regime. Porém, não tenho a certeza que não volte ainda mais forte.
Ao sr. Anónimo das 14.04
Acho que foi um absurdo. A Quinta do Lorde nem sequer tinha a ver com a CMF. E que tivesse!
Já agora, respondendo a uma pergunta que não me fez, não, não acredito em santos. Nenhuns!
Movimento de cidadãos? Quando começarem a ver no que se transformou a JPP (num partido), ninguém mais vai querer dar votos a essa gente. Isso de Movimento de Cidadãos, foi uma forma de chegar ao poder, mais nada.
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