ALBUQUERQUE, PEREIRA E CAPANGAS
PÕEM SAPATOS DE LISBOA A BRILHAR
Na contemplação fascinante dos arquivos, a que tentei dedicar-me para esquecer um bocado as misérias de uma actualidade que me provoca náuseas, bati de frente com notícias que me devolveram à realidade de que tentava fugir.
O presente é uma chatice. O futuro não se pode viver, porque ainda não existe nem existiu. Já o passado podemos muito bem reviver.
Era presidente da Junta Geral do Distrito do Funchal o Dr. João Figueira de Freitas. E o homem, porque a tal autonomia administrativa não permitia melhor, lá se meteu no vapor a fim de justificar aos senhores de Lisboa as propostas de obras a comparticipar pelo Estado, como determinavam as leis. Só para ilustrar, um dos 'pedidos' dessa diligência era um auxílio estatal para que a Junta pudesse pegar no escabroso e pedregoso campo dos Barreiros, então sem condições dignas para se praticar futebol, e construir ali um estádio em condições. Também só para ilustrar, o processo de construção arrancou mesmo, ainda com Figueira de Freitas na Junta. Sendo concluído meia dúzia de anos depois.
Aqui estávamos em 1948.
Atenção que os assuntos eram discutidos na capital do Império e depois quem mandava no andamento das obras eram as autoridades da Junta Geral. No final, sim, os srs. ministros vinham todos aí, dizer 5 vezes 'pá' em cada frase de 3 palavras, cabendo-lhes a subida honra de inaugurar as 'dádivas' do Estado Novo à ilhota. No entretanto, não vinham dizer que o açougue da Calheta ficava para outra vez ou que o apalavrado acrescento no caminho municipal do Cortado ficava suspenso até nova ordem.
Pouco depois, o Dr. João Abel de Freitas, nomeado governador havia pouco tempo, fez também a tradicional deslocação à capital, para tratar dos assuntos da sua jurisdição. João Abel de Freitas conhecia como ninguém o sistema em vigor naquelas bandas. Não se esquecia das ameaças que Salazar lhe mandou, preto no branco, para aplicar nas ilhotas, caso a Madeira se atrevesse a uma brincadeira como a de 31. A Revolta de 1931, quando o povo andou na rua com os militares democratas portugueses a desafiar os canhões dos navios e as metralhadoras das avionetas de Salazar.
Haviam de ser uns chamborgas pedantes que se insinuam hoje por aí, uns meninos confortavelmente de palanque a ver os touros!...
É. Já não se pode ir nem aos arquivos do passado, por nos fazerem evocar a miséria do presente. Muito bem, mas e se formos mais atrás, ao século XIX, para fugir desta bodega? Nem pensar! Ir à monarquia é reviver tempos eleitorais em que, quando os progressistas estavam no poder, os candidatos regeneradores do Funchal, oposicionistas, prometiam na campanha eleitoral conseguir mundos e fundos para a Madeira se fossem eleitos para deputados em S. Bento. Ganhavam. E depois só se sabia deles porque mandavam de lá para cá discursos inócuos para transcrever na imprensa regional dirigida pelos amigos... a fim de os madeirenses se lembrarem deles nas eleições seguintes. Entretanto, os deputados progressistas que tinham sido postos fora esperavam pela sua vez, acusando a quadrilha rival de não estar a cumprir promessa nenhuma. Era já a chamada rotatividade.
Onde é que estamos a rever isto?
Estamos a rever isto todos os dias. A pleîade de políticos nova vaga não pressente um espirro que não meta Lisboa pelo meio. Se o Albuquerque aparecer numa fotografia na lota, o Carlos do PS anuncia imediatamente que vai marcar reunião com o secretário de Estado das Pescas. Depois, mete na imprensa uma cacha com a data precisa da fotografia com o secretário de Estado em Lisboa (as reuniões são 2 minutos, para entregar um papelucho e bater a foto para o jornal). Depois, outra cacha a dizer que, "depois da reunião com o contínuo em Lisboa, o líder do PS-M está em condições de 'anunciar' que o governo central vai dar um subsídio aos pescadores que deixarem de fumar durante a pesca do gaiado".
Lisboa pr'aqui, governo central pr'acolá, Costa, pr'além. Albuquerque também não se distrai quando está com fulanos de Lisboa. Mesmo que seja a papar umas lagostas na Doca do Cavacas com o Rui e o Costa, manda chamar o fotógrafo e sopra no fecho de edição que se calhar eles, os dignitários, estão no meio dos búzios, lapas e imperiais a tratar do novo Hospital (a propósito, quando é que o nosso Amigo João põe o bloco operatório do hospital existente a operar; e quando é que manda dar ocupação aos profissionais que andam lá dentro sem saber como matar o tempo?).
Só podia ser, a conversa acabou por descambar para a mesma m... - perdão, Leitoras. Mas é que se o regime anterior, o da caturrice tabanqueira, nos envergonhava perante os nomes que o sua excelência chamava aos cubanos e com a insistência diária de provocar para lá para esconder os problemas de cá, pois o regime actual, o do Blue Establishment, oposição incluída, deixa-me enojado com tanta lambuzadela e tanto salamaleque aos senhores do 'pá'. Que estes pseudo-políticos impenitentes, oportunistas rapinantes do sistema 'democrático', se estendam no chão para que lhes passem por cima, é lá com eles. Mas não digam a ninguém que estão a representar os madeirenses. Ninguém se revê nesse comportamento subserviente e pseudo-queque dos contactos importantes, sejam em Lisboa, sejam onde Judas perdeu as botas.
É certo que eles estão a tentar acomodar os madeirenses. Querem dominar-nos pelo cansaço, deixar-nos outra vez adormecer aos flashes das falsas amizades com Lisboa. Muita cautela, conterrâneos. Um olho no fogão, outro no ladrão. Os antigos diziam: quem dorme dorme-lhe a fazenda.
5 comentários:
É a diferença entre o vilhao e o senhor. Hoje é o vilhao que ocupa os lugares de outrora. Os lugares, públicos antigamente eram só para senhores. E o que é um senhor? Primeiro sabe comer à mesa e não "mama" porque não presisa.E o resto só os senhores entendem.
Por os sapatos a brilhar
O sugestivo título do Luis Calisto fez-me lembrar uma crónica antiga do Miguel Esteves Cardoso em que este autor dissertava sobre as diferenças entre o “lambe botas” o “Engraxador” e o “lambe-cus”.
Com efeito, a essência conceptual a esses três conceitos é, a meu ver, muito semelhante: trata-se de vocábulos que tentam transmitir a ideia de uma óbvia falta de amor próprio em ordem a agradar servilmente ao superior hierárquico e/ou ao detentor do poder em presença. No entanto, os sapatos do “superior” apenas ficam a brilhar no caso do “lambe botas” ou do “engraxador”. No caso do “lambe-cus” a poeira permanece no calçado sendo, neste caso, atacado apenas o fétido aroma a esgoto que o detentor do poder orgulhosamente deixa expelir. Enfim ... Conversa de m...!
No caso em apreço, e dadas as circunstâncias, é para mim evidente que o maximo que se pode atribuir a Albuquerque é o papel de engraxador (apenas a A Costa) sendo que ao Pereira, não restam dúvidas que se enquadra perfeitamente na categoria de lambe-cu do PM é demais Secretários de Estado.
Atenção Juntos pelo Porto Santo
Lembro-lhe qua a responsabilidade e estratégica de afastamento do antigo chefe de divisão foi elaborada pelo brilhante Dr.º Miguel Ribeirinho quando esteve no Porto santo no inicio do mandato do Pinóquio a elaborar o novo organigrama da câmara Municipal.
Veja as datas desta visita e as datas do afastamento do antigo chefe de divisão.
João Mateus Silva
Caro Calisto
No seu interessante artigo , esqueceu uma personagem ainda mais enganadora , o Mayor do Funchal que se mete no avião da Tap e vai ao Porto apoiar a campanha de Rui Moreira contra essa mesma Tap .
Com direito a fotos de Jornal , está visto
Caro Comentador 7.57
Sim, esse é mais um caso. Mas penso que pode ser um capítulo à parte. O Mayor vai mais longe do que a escravidão aviltante que vemos todos os dias nos outros. O Mayor não é só pelo gosto de falar 'à política' com os lisboetas (e portuenses!), ele anda 'manhoso', no sentido político da palavra.
Quanto a outro Leitor que, num excelente comentário, diz que o Miguel só engraxa o Costa, é verdade, mas eu também me referia à política dele: 90% dos dossiers estão pendentes do centralismo da capital. Que é que se resolveu neste ano e tanto pelas mãos do GR?
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