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domingo, 11 de setembro de 2016

Opinião


DO PASSADO AO FUTURO


Nos anos 30, imperava a indisciplina cívica em Portugal. No fim da década surgiu a 2ª Guerra. Às dificuldades internas juntou-se o caos Mundial. 

Na Madeira, de 1931 a 1936, interesses locais geraram intrigas junto do Dr. Salazar, que levaram à falência da Casa Bancária Henrique Figueira. A memória colectiva regista o cortejo de desgraças que lhe está associado, perda de depósitos, falências e insolvências. Tentava o Governo reorganizar o importante sector dos lacticínios, concentrando pequenas fábricas e novamente interesses locais geraram uma situação de alta conflitualidade que degenerou na revolta do leite. A PVDE – antecessora da PIDE – prendeu muitos, alguns deportou e expulsou da Madeira o Pe. César Teixeira da Fonte que ousara defender os produtores de leite da zona do Faial e Santana. Sossego só houve em 1945. Dez anos depois as feridas sociais começaram a ser tratadas numa perspectiva global dos interesses da Madeira e do País. 

O Cap. de Mar e Guerra, Inocêncio Camacho de Freitas (mais tarde Governador), a 21/12/1949 enviou ao Dr. Salazar uma carta, da qual transcrevo este excerto*: 
“…o assunto do Porto Funchal transcende os limites dum problema portuário segundo a concepção[…]de uma solução ajustada às necessidades do porto. Cometeu-se um erro grave[…]continuando os navios de grande porte a fundearem ao largo. Os navios da Union Castle[…]têm mais de 200 mts de comprimento e 13 de calado. A área de manobra entre a batimétrica dos 13 mts e o molhe da Pontinha[….]terá cerca de 300 mts de largura, pelo que nenhum dos grandes navios a demandará debaixo de temporal, com mar grosso à popa ou pelo travez . Recordo[….]ouvir V. Exª, referir-se à trindade dos problemas capitais da Madeira – a irrigação[…]a emigração de grande complexidade pelas dificuldades nacionais e alheias[…]e o turismo de grandes possibilidades locais – e manifestar os desejos de intervir por forma que fossem criadas fontes de riqueza na Madeira para melhoria das condições de vida da sua pobre gente. Mas na base de tão complexo problema está o porto do Funchal.[…]o verdadeiro interesse da Madeira e do Estado, indirectamente, está na construção de um porto que permita a atracação  fácil e segura dos grandes navios[…]não seria de aconselhar uma solução para o Porto do Funchal que resolvesse inteiramente o problema…?” 

 Qualquer Português – Madeirense mais ainda - de bom senso, aplaude a afirmação de Salazar relativa aos 3 pilares. Arrancaram as obras no domínio da irrigação e do porto. O terceiro pilar – a emigração – é irresolúvel. O 25 de Abril abriu portas a que a gestão dos interesses regionais passasse para a RAM.      Cavalgando a memória colectiva que atribuía a Salazar as sequelas da Administração Pública, uma retórica contra os “cubanos colonizadores” criou a mística que encobriu a instalação de interesses que se sobrepuseram ao Bem Comum.No pós-Abril a riqueza exibida e assente em dinheiro fácil era insustentável. Os interesses locais alimentados nisso, devolveram-nos aos anos 30. Hoje, Henrique Figueira é BANIF. Viviam as populações em más habitações, agora dormem pela rua. Desemprego e fome pede meças a esse tempo. O porto, também ele afogado em dinheiro, ficou inseguro. Resta o Turismo que, vivendo da paisagem, promove-se em postais dos anos 50/60. As populações foram esquecidas – vejam Porto Santo – nas suas actividades tradicionais. A Madeira segue-lhe o exemplo. A “riqueza”que se procurava para os madeirenses está entregue aos “mercados”.Tivemos inimputabilidade? Salazar usava a polícia contra os “comunas”, mas, por outro lado, procurava retirar-lhes o terreno fértil para a contestação, arranjando trabalho e criando riqueza. Aqui fez-se o contrário daquilo que era ter juízo, mas do bom! Conhecidas as causas, não combate-las, é caminhar para o desastre inevitável. Não assumir os resultados será o quê? 

Gaudêncio Figueira

5 comentários:

Unknown disse...

Excelentes analogias! Ontem, tal como hoje, o Porto do Funchal...

Fernando Vouga disse...

Quem ignora os erros do passado, está condenado a repeti-los no futuro.

Jorge Figueira disse...

Meus Caros Luís Calisto, Luís Oliveira e Fernando Vouga
Agrada-me sentir que três pessoas, com nome e BI, reconhecem mérito naquilo que escrevi. Durante anos poucos se atreveram a apoiar-me

Fernando Vouga disse...

Caro Dr. J. Figueira

É que há por aí muita gente que teme o regresso do papão. Talvez numa manhã de nevoeiro...

Jorge Figueira disse...

Esse, o do nevoeiro, foi o D. Sebastião, combateu, e foi à guerra em África, não se pôs a milhas.