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sábado, 1 de julho de 2017

O Santo


Governo, Hierarquia e Religião

Baseando-me em Nietzche vou tentar demonstrar a necessidade de Religião para a sobrevivência do Governo, e de qualquer forma de hierarquia.

A Religião e Governo
“Religião e governo. - Enquanto o Estado ou, mais claramente, o governo se sabe constituído tutor em nome de uma multidão incapaz e, em função dela, pondera a questão: se a religião deve ser conservada ou eliminada- ele se decidirá, com a máxima probabilidade, pela conservação da religião. Pois a religião sossega a mente do indivíduo em tempos de perda, de privação, de pavor, de desconfiança, portanto, quando o governo se sente sem condições para fazer diretamente algo para mitigar os sofrimentos de alma do homem privado: e mesmo diante de males gerais, inevitáveis e, de imediato, inelutáveis (fomes, crises monetárias, guerras), a religião assegura um comportamento pacato, paciente, confiante da multidão.

Por toda parte onde as eficiências necessárias ou contingentes do governo de Estado ou as consequências perigosas de interesses dinásticos se tornam percetíveis àquele que é inteligente e o tornam recalcitrante, os não-inteligentes pensam ver o dedo de Deus e se submetem com paciência às disposições vindas do alto (conceito este em que de hábito se confundem formas divinas e humanas de governo): assim é preservada a paz civil interna e a continuidade do desenvolvimento. A potência que há na unidade do sentimento popular, em opiniões e alvos iguais para todos, é protegida e chancelada pela religião, exceto naqueles raros casos em que o clero não consegue chegar a um acordo com o poder estatal quanto ao preço e entra em combate. De hábito, o Estado saberá ganhar para si os padres, porque tem necessidade de sua privadíssima, oculta educação das almas e sabe estimar servidores que aparente e exteriormente representam um interesse totalmente outro. Sem o auxílio dos padres nenhuma potência pode, ainda hoje, tornar-se "legítima": como Napoleão compreendeu. - Assim, governo absoluto tutelar e cuidadosa conservação da religião vão necessariamente lado a lado. Além disso, é de se pressupor que as pessoas e classes governantes sejam ilustradas sobre a utilidade que a religião lhes assegura e com isso se sintam até certo grau superiores a ela, na medida em que a usam como meio; razão pela qual o livre pensamento tem aqui sua origem. - E se, entretanto, aquela concepção inteiramente diferente do conceito de governo, assim como é ensinada em Estados democráticos, começa a se infiltrar? Se não se vê nele nada mais que o instrumento da vontade popular, não um acima em comparação com um abaixo, mas exclusivamente uma função do único soberano, o povo? Aqui só pode ser adotada pelo governo a mesma posição que o povo adota para com a religião; toda difusão de ilustração terá de repercutir até em seus representantes, uma utilização e exploração das forças propulsoras e consolações da religião para fins estatais não serão tão facilmente possíveis (mesmo que poderosos chefes de partido exerçam temporariamente uma influência que parece semelhante à do despotismo ilustrado).
Mas se o Estado não pode mais ele próprio tirar nenhuma utilidade da religião ou se o povo pensa demasiado multiplamente sobre coisas religiosas para permitir ao governo um procedimento homogêneo, unitário, quanto a medidas religiosas - então necessariamente aparecerá como saída tratar a religião como assunto privado e delegá-Ia à consciência e ao costume de cada um[i]. (…)
Mas em seguida também neles arrefece aquele entusiasmo pelo Estado: revela- se cada vez com maior clareza que, juntamente com aquela adoração religiosa, para a qual este é um mistério, uma instituição supramundana, também a relação de reverência e de piedade para com ele foi abalada. Daí em diante os indivíduos vêem nele somente o lado pelo qual ele lhes pode ser útil ou nocivo e procuram com todos os meios adquirir uma influência sobre ele [Estado]. Mas essa concorrência torna-se logo grande demais, os homens e partidos mudam muito depressa, derrubam-se mutuamente da montanha com demasiada selvageria, mal chegaram ao alto. Falta a todas as medidas que são postas em vigor por um governo a garantia de sua duração; recua-se diante de empreendimentos que teriam de ter um tranquilo crescimento por decênios, por séculos, para amadurecer seus frutos. Ninguém sente mais nenhum outro compromisso diante de uma lei, a não ser o que se curvar momentaneamente diante do poder que introduziu a lei; mas logo tratam de miná-lo com um novo poder, com uma nova maioria a ser formada. Por último - pode-se dizê-lo com segurança -, a desconfiança contra todo governante, a inteligência do caráter inútil e desgastante desses combates de fôlego curto, hão de levar os homens a uma decisão inteiramente nova: à abolição do conceito de Estado, à supressão da oposição entre "privado e público". Passo a passo, as sociedades privadas absorvem os negócios de Estado: mesmo o resíduo mais tenaz que resta do antigo trabalho de governar (aquela atividade, por exemplo, que deve assegurar o homem privado contra o homem privado) acabará um dia por ficar a cargo de empresários privados. O desprezo, o declínio e a morte do Estado, o desencadeamento da pessoa privada (tomo o cuidado de não dizer: do indivíduo), são a consequência do conceito democrático de Estado; nisso consiste sua missão. Se ele cumpriu sua tarefa - que como tudo o que é humano traz muito de razão e de irrazão em seu seio -, se todas as recaídas da antiga doença foram superadas, então será desenrolada uma nova página do livro de fábulas da humanidade, na qual se lerá toda sorte de estórias curiosas e, talvez, também algo de bom. - Para dizer mais uma vez, concisamente, o que foi dito: o interesse do governo tutelar e o interesse da religião vão de mãos dadas um com o outro, de tal modo que, quando esta última começa a morrer, também o fundamento do Estado é abalado. A crença em uma ordenação divina das coisas políticas, em um mistério na existência do Estado, é de origem religiosa: se desaparece a religião, o Estado inevitavelmente perderá seu antigo véu de Ísis e não despertará mais nenhum terror sagrado.”
CAPÍTULO VIII -Um olhar ao Estado, “HUMANO, DEMASIADO HUMANO - UM LIVRO PARA ESPÍRITOS LIVRES”, PRIMEIRO VOLUME, (1878)

Posto de outra maneira, sem medo do sofrimento após a vida, sem medo de uma entidade que aplica a Justiça infalivelmente e sempiternamente, então o homem está livre para executar todo o tipo de patifarias…
 “E não é só por esta esperança, mas ainda e sobretudo pelo medo de serem punidos depois da morte por cruéis suplícios, que eles são levados a viver segundo as prescrições da lei divina, tanto quanto o permitem a ligeireza e inconstância do seu espírito. Se os homens não tivessem esta esperança e este medo, mas se, pelo contrário, acreditassem que as almas morrem com o corpo e que não resta aos infelizes, que foram acabrunhados pelo fardo da piedade, uma nova vida, eles voltariam ao seu natural e quereriam regular tudo segundo as suas paixões, e obedecer ao acaso, de preferência a obedecerem a si mesmos.”
Espinoza, Tratado da Correcção do espírito, parte V

A Sociedade de hoje…
Os portugueses sentem que uns quantos querem deter cargos políticos para se abanquetar com os impostos dos cidadãos. Também estamos vendo lentamente as sociedades privadas absorver os negócios do Estado, e sentimos “desconfiança contra todo o governante”. 

A Hierarquia e a Oligarquia
Tudo o que é dito sobre a necessidade de Religião para o Estado, aplica-se a qualquer forma de Hierarquia e de Oligarquia[ii]: no momento em que a punição é incerta e adiável, então vale a pena usurpar direitos de outros e furtar-se aos deveres e obrigações.
Isto significa que um eventual avanço de uma qualquer Organização com vista à detenção do Poder (i.e., instalar uma Oligarquia) através de Injustiças, enfraquece a própria base dessa Organização, tanto internamente (pois destrói a hierarquia e a confiança entre membros) como externamente (pois os cidadãos deixam de cumprir com as leis, normas e regras pelo que o próprio sistema governativo passa a ser ingovernável).
Exemplo
Imagine-se[iii] a seguinte situação de individualismo e de desrespeito pela Justiça Divina: Cafofo e Albuquerque fizeram um acordo entre si, em que prometem um “tacho” ao outro, em caso de desemprego político, e, facilitam a manutenção de proeminência política do outro[iv].
Os apoiantes das duas partes[v] mais cautelosos ou mais experientes sabem que: 1) faz parte da política negociar com o inimigo[vi], 2) que o que interessa é o ordenado no final do mês, 3) que muitas disputas políticas públicas são meras atividades circenses para entreter a multidão[vii] e sinalizar inimigos escondidos[viii]. Nesta situação em que a fonte de rendimentos dos líderes políticos está assegurada, a imagem pública e os votos dos eleitores deixam de ser importantes para estes políticos, pelo que veríamos:
·         Desinteresse pela população por parte desses líderes, à exceção de ocasionais apoios sociais que muitas vezes não se sabe se se efetivam nem se os beneficiários fazem parte do grupo alvo da medida[ix];
·         Falta de cuidado por parte destes políticos em estar associado a decisões suspeitas que beneficiem os ricos, i.e., para estes políticos não importa que a população possa pensar que as suas decisões são tramadas com os ricos. Também significa que as dúvidas quanto à falta de imparcialidade serão suscitadas por cidadãos anónimos e outros partidos, e não serão apoiadas pelos partidos a que os citados senhores pertencem;
·         Desinteresse desses líderes por ter uma estratégia e plano de desenvolvimento da região[x];
·         Desinteresse desses líderes em corrigir injustiças, punir ilegalidades e promover o mérito, mesmo que as situações sejam públicas e repetitivas. Também significa que as ilegalidades serão detetadas e difundidas por cidadãos anónimos e outros partidos, e não serão apoiadas pelos partidos a que os citados senhores pertencem… pior, para manter os “status quo” algumas vezes os cidadãos que publicam ilegalidades seriam assediados por ambos os partidos.  Exemplo. Cafofo não “descobriria” nenhuma ilegalidade na governação de Albuquerque da CMF nem do GR, nem Albuquerque na de Cafofo.;
·         Desinteresse desses líderes em recompensar antigos apoiantes, em tentar obter outros apoios de indivíduos, e em tentar conquistar mais militantes;
·         Por outro lado, grande interesse desses líderes em manter os esquemas de funcionamento das entidades que lideram, nem que seja à custa da manutenção em cargos dirigente de apoiantes de “inimigos políticos”. Também significa que os partidos a que estes senhores pertencem serão coniventes em beneficiar legalmente e injustamente indivíduos ligados ao “inimigo”. Exemplo. Cafofo manteria laranjas em cargos de dirigente na CMF, e Albuquerque manteria em cargos de dirigente apoiantes de AJJ, Manuel António e Cunha e Silva. Nenhum dos líderes beneficiaria quem os apoiou ou quem provoca danos no “inimigo”;
·         Grande interesse desses líderes em dominar as respetivas “máquinas partidárias”. Isto significa que ambos os lideres e suas máquinas partidárias não farão acusações de atribuição de “tachos”  para “comprar” apoios partidários… pior, serão coniventes com essas situações do “inimigo;
·         Todos os actos eleitorais da candidata do PSD-M à CMF seriam tiros no pé, do género prometer um “Museu de História Natural” ao lado de uma placa de um museu com o nome “Museu de História Natural”, ou prometer executar tarefas cuja competência pertence ao GR ou prometer um “Ovniporto”[xi].
·         Toda a espécie de refugo do PSD-M seria candidato à CMF para os “queimar”, e se possível convencê-los a se demitir do cargo público que detêm para terem tempo para a campanha e se preparar para a realidade municipal;
·         A argumentação do PSD-M contra Cafofo seria baseada em notícias de jornal, e em “ataques” da juventude laranja[xii];
·         Proteger-se-iam um ao outro, por exemplo, não cedendo dados ao Tribunal de Contas sobre a gestão adversária;
·         As raras quezílias públicas Albuquerque-Cafofo seriam fúteis, estéreis e infrutíferas: no final não se perceberia quem tinha razão ou não, nem o fulcro da troca de acusações, e estas acusações seriam apresentadas por “soldados graduados”. Estas quezílias públicas fariam muitos indivíduos não exercer o seu direito de cidadania através da imbecibilidade de argumentos e das agressões verbais a que seriam sujeitos, e outros desistiriam de votar pois a escolha nas eleições seria entre “o mau e o ainda pior”.
Para mim é óbvio que numa situação deste tipo os apoiantes experientes ou cautelosos das duas partes se recusassem a entrar no jogo “político”; simplesmente fariam o máximo para acumular riqueza para os “dias frios de inverno”, e o suficiente para se manter nos cargos detidos; i.e., seriam corruptos ao máximo!

Conclusão
Sem Religião, os homens destruirão o Estado que é o garante de Justiça, e fonte: de todo o comércio, do trabalho, da ciência, dos direitos, dos deveres, da equidade, da beleza, do pensamento, da ciência, da técnica, das obras, dos aparelhos e maquinismos, da humanidade[xiii],… o homem corrupto destruirá todas as leis que permitem a Sociedade para adiar o seu sofrimento. Basicamente, segundo Nietzche, as Democracias estão a criar condições para a instalação da Anarquia.
A corrupção é um sintoma da falta de religiosidade.
Dizem que a melhor forma de liderar é com o exemplo. Eu contra-argumento é que a única forma de liderar, pois só os inexperientes, os incautos, os desvairados e os imbecis é que se deixam dirigir pelos que alegam “faz o que eu digo, não faças o que eu faço.”


Eu, O Santo


[i] Isto faz-me lembrar a queda do Império Romano…
[ii] Exemplo. Imagine-se que a Maçonaria quer controlar o Estado.
[iii] Não sou intimo nem de Cafofo nem de Albuquerque nem de seus homens de confiança…
[iv] Sem esta vitória, o futuro político de Cafofo é uma mera miragem…
[v] Sinceramente não acredito que existam apoiantes de Cafofo não-renumerados.
[vi] Exemplo. Ser ofendido publicamente e perseguido por um inimigo, e depois dar tacho fulcrais a filhos deste.
[vii] Especialmente aquelas em que nenhuma das partes tem razão, aquelas em que é o “roto a criticar o esfarrapado”, aquelas cujas palavras não se coadunam com atos, nomeadamente denúncias criminais, e impugnações judiciais….
[viii] Poucos são os que tendo uma oportunidade de prejudicar quem odeiam, não o tente.
[ix] O dinheiro não é deles…
[x] Para quê ter um plano de desenvolvimento? Os rendimentos estão garantidos e não se fazendo nada tem-se menos chatices…
[xi] Temos que admitir que é um mercado potencial não explorado.
[xii] Eles têm que ganhar experiência de alguma forma.
[xiii] Só existe humanidade em Sociedade. Só existem virtudes e defeitos enquanto há Sociedade… e que eu saiba esta existe enquanto houver normas, atos honrosos e desonrosos (escritos ou não) com algum garante que serão benéficos ou pelo menos não prejudiciais para os indivíduos que compõem essa Sociedade. A desenfreada corrupção está a fazer com que o cumprimento das normas éticas seja prejudicial a quem as cumpre.

4 comentários:

amsf disse...

Como vê o pessoal quer é politiquice travestida de cidadania! Assuntos deste calibre parecem não interessar a "ninguém".

Anónimo disse...

Exato, não interessam a ninguém, à excepção do Santo e de você.

amsf disse...

Sim, muitos dos que por aqui andam julgam-se acima destas realidades e pensam estar a manipular quando estão é a ser manipulados.

Anónimo disse...

Pois, o camarada Spínola é que as sabe.