Governo,
Hierarquia e Religião
Baseando-me em Nietzche
vou tentar demonstrar a necessidade de Religião para a sobrevivência do
Governo, e de qualquer forma de hierarquia.
A Religião e Governo
“Religião e governo. -
Enquanto o Estado ou, mais claramente, o governo se sabe constituído tutor em
nome de uma multidão incapaz e, em função dela, pondera a questão: se a
religião deve ser conservada ou eliminada- ele se decidirá, com a máxima
probabilidade, pela conservação da religião. Pois a religião sossega a mente do
indivíduo em tempos de perda, de privação, de pavor, de desconfiança, portanto,
quando o governo se sente sem condições para fazer diretamente algo para
mitigar os sofrimentos de alma do homem privado: e mesmo diante de males
gerais, inevitáveis e, de imediato, inelutáveis (fomes, crises monetárias,
guerras), a religião assegura um comportamento pacato, paciente, confiante da
multidão.
Por toda parte onde as
eficiências necessárias ou contingentes do governo de Estado ou as
consequências perigosas de interesses dinásticos se tornam percetíveis àquele
que é inteligente e o tornam recalcitrante, os não-inteligentes pensam ver o
dedo de Deus e se submetem com paciência às disposições vindas do alto
(conceito este em que de hábito se confundem formas divinas e humanas de governo):
assim é preservada a paz civil interna e a continuidade do desenvolvimento. A
potência que há na unidade do sentimento popular, em opiniões e alvos iguais
para todos, é protegida e chancelada pela religião, exceto naqueles raros casos
em que o clero não consegue chegar a um acordo com o poder estatal quanto ao
preço e entra em combate. De hábito, o Estado saberá ganhar para si os padres,
porque tem necessidade de sua privadíssima, oculta educação das almas e sabe
estimar servidores que aparente e exteriormente representam um interesse
totalmente outro. Sem o auxílio dos padres nenhuma potência pode, ainda hoje,
tornar-se "legítima": como Napoleão compreendeu. - Assim, governo
absoluto tutelar e cuidadosa conservação da religião vão necessariamente lado a
lado. Além disso, é de se pressupor que as pessoas e classes governantes sejam
ilustradas sobre a utilidade que a religião lhes assegura e com isso se sintam
até certo grau superiores a ela, na medida em que a usam como meio; razão pela
qual o livre pensamento tem aqui sua origem. - E se, entretanto, aquela
concepção inteiramente diferente do conceito de governo, assim como é ensinada
em Estados democráticos, começa a se infiltrar? Se não se vê nele nada mais que
o instrumento da vontade popular, não um acima em comparação com um abaixo, mas
exclusivamente uma função do único soberano, o povo? Aqui só pode ser adotada
pelo governo a mesma posição que o povo adota para com a religião; toda difusão
de ilustração terá de repercutir até em seus representantes, uma utilização e
exploração das forças propulsoras e consolações da religião para fins estatais
não serão tão facilmente possíveis (mesmo que poderosos chefes de partido
exerçam temporariamente uma influência que parece semelhante à do despotismo
ilustrado).
Mas se o Estado não
pode mais ele próprio tirar nenhuma utilidade da religião ou se o povo pensa
demasiado multiplamente sobre coisas religiosas para permitir ao governo um
procedimento homogêneo, unitário, quanto a medidas religiosas - então
necessariamente aparecerá como saída tratar a religião como assunto privado e
delegá-Ia à consciência e ao costume de cada um[i]. (…)
Mas em seguida também
neles arrefece aquele entusiasmo pelo Estado: revela- se cada vez com maior
clareza que, juntamente com aquela adoração religiosa, para a qual este é um
mistério, uma instituição supramundana, também a relação de reverência e de
piedade para com ele foi abalada. Daí em diante os indivíduos vêem nele somente
o lado pelo qual ele lhes pode ser útil ou nocivo e procuram com todos os meios
adquirir uma influência sobre ele [Estado]. Mas essa concorrência torna-se logo
grande demais, os homens e partidos mudam muito depressa, derrubam-se
mutuamente da montanha com demasiada selvageria, mal chegaram ao alto. Falta a
todas as medidas que são postas em vigor por um governo a garantia de sua
duração; recua-se diante de empreendimentos que teriam de ter um tranquilo
crescimento por decênios, por séculos, para amadurecer seus frutos. Ninguém
sente mais nenhum outro compromisso diante de uma lei, a não ser o que se
curvar momentaneamente diante do poder que introduziu a lei; mas logo tratam de
miná-lo com um novo poder, com uma nova maioria a ser formada. Por último -
pode-se dizê-lo com segurança -, a desconfiança contra todo governante, a
inteligência do caráter inútil e desgastante desses combates de fôlego curto,
hão de levar os homens a uma decisão inteiramente nova: à abolição do conceito
de Estado, à supressão da oposição entre "privado e público". Passo a
passo, as sociedades privadas absorvem os negócios de Estado: mesmo o resíduo
mais tenaz que resta do antigo trabalho de governar (aquela atividade, por exemplo,
que deve assegurar o homem privado contra o homem privado) acabará um dia por
ficar a cargo de empresários privados. O desprezo, o declínio e a morte do
Estado, o desencadeamento da pessoa privada (tomo o cuidado de não dizer: do
indivíduo), são a consequência do conceito democrático de Estado; nisso
consiste sua missão. Se ele cumpriu sua tarefa - que como tudo o que é humano
traz muito de razão e de irrazão em seu seio -, se todas as recaídas da antiga
doença foram superadas, então será desenrolada uma nova página do livro de
fábulas da humanidade, na qual se lerá toda sorte de estórias curiosas e,
talvez, também algo de bom. - Para dizer mais uma vez, concisamente, o que foi
dito: o interesse do governo tutelar e o interesse da religião vão de mãos
dadas um com o outro, de tal modo que, quando esta última começa a morrer,
também o fundamento do Estado é abalado. A crença em uma ordenação divina das
coisas políticas, em um mistério na existência do Estado, é de origem
religiosa: se desaparece a religião, o Estado inevitavelmente perderá seu
antigo véu de Ísis e não despertará mais nenhum terror sagrado.”
CAPÍTULO VIII -Um olhar
ao Estado, “HUMANO, DEMASIADO HUMANO - UM LIVRO PARA ESPÍRITOS LIVRES”,
PRIMEIRO VOLUME, (1878)
Posto de outra maneira,
sem medo do sofrimento após a vida, sem medo de uma entidade que aplica a
Justiça infalivelmente e sempiternamente, então o homem está livre para
executar todo o tipo de patifarias…
“E não é só por
esta esperança, mas ainda e sobretudo pelo medo de serem punidos depois da
morte por cruéis suplícios, que eles são levados a viver segundo as prescrições
da lei divina, tanto quanto o permitem a ligeireza e inconstância do seu
espírito. Se os homens não tivessem esta esperança e este medo, mas se, pelo
contrário, acreditassem que as almas morrem com o corpo e que não resta aos
infelizes, que foram acabrunhados pelo fardo da piedade, uma nova vida, eles
voltariam ao seu natural e quereriam regular tudo segundo as suas paixões, e
obedecer ao acaso, de preferência a obedecerem a si mesmos.”
Espinoza,
Tratado da Correcção do espírito, parte V
A Sociedade de hoje…
Os portugueses sentem
que uns quantos querem deter cargos políticos para se abanquetar com os
impostos dos cidadãos. Também estamos vendo lentamente as sociedades privadas
absorver os negócios do Estado, e sentimos “desconfiança contra todo o
governante”.
A Hierarquia e a
Oligarquia
Tudo o que é dito sobre
a necessidade de Religião para o Estado, aplica-se a qualquer forma de
Hierarquia e de Oligarquia[ii]: no momento em que a punição é incerta e
adiável, então vale a pena usurpar direitos de outros e furtar-se aos deveres e
obrigações.
Isto significa que um
eventual avanço de uma qualquer Organização com vista à detenção do Poder (i.e.,
instalar uma Oligarquia) através de Injustiças, enfraquece a própria base dessa
Organização, tanto internamente (pois destrói a hierarquia e a confiança entre
membros) como externamente (pois os cidadãos deixam de cumprir com as leis,
normas e regras pelo que o próprio sistema governativo passa a ser
ingovernável).
Exemplo
Imagine-se[iii] a seguinte
situação de individualismo e de desrespeito pela Justiça Divina: Cafofo e
Albuquerque fizeram um acordo entre si, em que prometem um “tacho” ao outro, em
caso de desemprego político, e, facilitam a manutenção de proeminência política
do outro[iv].
Os apoiantes das duas
partes[v] mais cautelosos
ou mais experientes sabem que: 1) faz parte da política negociar com o inimigo[vi], 2) que o que interessa é o ordenado no
final do mês, 3) que muitas disputas políticas públicas são meras atividades
circenses para entreter a multidão[vii] e
sinalizar inimigos escondidos[viii]. Nesta situação em que a fonte de
rendimentos dos líderes políticos está assegurada, a imagem pública e os votos
dos eleitores deixam de ser importantes para estes políticos, pelo que
veríamos:
· Desinteresse pela população por parte desses
líderes, à exceção de ocasionais apoios sociais que muitas vezes não se sabe se
se efetivam nem se os beneficiários fazem parte do grupo alvo da medida[ix];
· Falta de cuidado por parte destes políticos em estar
associado a decisões suspeitas que beneficiem os ricos, i.e., para estes
políticos não importa que a população possa pensar que as suas decisões são
tramadas com os ricos. Também significa que as dúvidas quanto à falta de
imparcialidade serão suscitadas por cidadãos anónimos e outros partidos, e não
serão apoiadas pelos partidos a que os citados senhores pertencem;
· Desinteresse desses líderes por ter uma estratégia e
plano de desenvolvimento da região[x];
· Desinteresse desses líderes em corrigir injustiças,
punir ilegalidades e promover o mérito, mesmo que as situações sejam públicas e
repetitivas. Também significa que as ilegalidades serão detetadas e difundidas
por cidadãos anónimos e outros partidos, e não serão apoiadas pelos partidos a
que os citados senhores pertencem… pior, para manter os “status quo” algumas
vezes os cidadãos que publicam ilegalidades seriam assediados por ambos os
partidos. Exemplo. Cafofo
não “descobriria” nenhuma ilegalidade na governação de Albuquerque da CMF nem
do GR, nem Albuquerque na de Cafofo.;
· Desinteresse desses líderes em recompensar antigos
apoiantes, em tentar obter outros apoios de indivíduos, e em tentar conquistar
mais militantes;
· Por outro lado, grande interesse desses líderes em
manter os esquemas de funcionamento das entidades que lideram, nem que seja à
custa da manutenção em cargos dirigente de apoiantes de “inimigos políticos”.
Também significa que os partidos a que estes senhores pertencem serão
coniventes em beneficiar legalmente e injustamente indivíduos ligados ao
“inimigo”. Exemplo. Cafofo manteria laranjas em cargos de dirigente na CMF, e
Albuquerque manteria em cargos de dirigente apoiantes de AJJ, Manuel António e
Cunha e Silva. Nenhum dos líderes beneficiaria quem os apoiou ou quem provoca
danos no “inimigo”;
· Grande interesse desses líderes em dominar as
respetivas “máquinas partidárias”. Isto significa que ambos os lideres e suas
máquinas partidárias não farão acusações de atribuição de “tachos” para “comprar” apoios partidários… pior, serão
coniventes com essas situações do “inimigo;
· Todos os actos eleitorais da candidata do PSD-M à
CMF seriam tiros no pé, do género prometer um “Museu de História Natural” ao
lado de uma placa de um museu com o nome “Museu de História Natural”, ou
prometer executar tarefas cuja competência pertence ao GR ou prometer um
“Ovniporto”[xi].
· Toda a espécie de refugo do PSD-M seria candidato à
CMF para os “queimar”, e se possível convencê-los a se demitir do cargo público
que detêm para terem tempo para a campanha e se preparar para a realidade
municipal;
· A argumentação do PSD-M contra Cafofo seria baseada
em notícias de jornal, e em “ataques” da juventude laranja[xii];
· Proteger-se-iam um ao outro, por exemplo, não
cedendo dados ao Tribunal de Contas sobre a gestão adversária;
· As raras quezílias públicas Albuquerque-Cafofo
seriam fúteis, estéreis e infrutíferas: no final não se perceberia quem tinha
razão ou não, nem o fulcro da troca de acusações, e estas acusações seriam
apresentadas por “soldados graduados”. Estas quezílias públicas fariam muitos
indivíduos não exercer o seu direito de cidadania através da imbecibilidade de
argumentos e das agressões verbais a que seriam sujeitos, e outros desistiriam
de votar pois a escolha nas eleições seria entre “o mau e o ainda pior”.
Para mim é óbvio que
numa situação deste tipo os apoiantes experientes ou cautelosos das duas partes
se recusassem a entrar no jogo “político”; simplesmente fariam o máximo para
acumular riqueza para os “dias frios de inverno”, e o suficiente para se manter
nos cargos detidos; i.e., seriam corruptos ao máximo!
Conclusão
Sem Religião, os homens
destruirão o Estado que é o garante de Justiça, e fonte: de todo o comércio, do
trabalho, da ciência, dos direitos, dos deveres, da equidade, da beleza, do
pensamento, da ciência, da técnica, das obras, dos aparelhos e maquinismos, da
humanidade[xiii],… o homem corrupto destruirá todas as
leis que permitem a Sociedade para adiar o seu sofrimento. Basicamente, segundo
Nietzche, as Democracias estão a criar condições para a instalação da Anarquia.
A corrupção é um
sintoma da falta de religiosidade.
Dizem que a melhor
forma de liderar é com o exemplo. Eu contra-argumento é que a única forma de
liderar, pois só os inexperientes, os incautos, os desvairados e os imbecis é
que se deixam dirigir pelos que alegam “faz o que eu digo, não faças o que eu
faço.”
Eu, O Santo
[i] Isto faz-me lembrar a queda do
Império Romano…
[ii] Exemplo. Imagine-se que a Maçonaria
quer controlar o Estado.
[iii] Não sou intimo nem de Cafofo nem de
Albuquerque nem de seus homens de confiança…
[iv] Sem esta vitória, o futuro político
de Cafofo é uma mera miragem…
[v] Sinceramente não acredito que
existam apoiantes de Cafofo não-renumerados.
[vi] Exemplo. Ser ofendido publicamente
e perseguido por um inimigo, e depois dar tacho fulcrais a filhos deste.
[vii] Especialmente
aquelas em que nenhuma das partes tem razão, aquelas em que é o “roto a
criticar o esfarrapado”, aquelas cujas palavras não se coadunam com atos,
nomeadamente denúncias criminais, e impugnações judiciais….
[viii] Poucos são os que tendo uma
oportunidade de prejudicar quem odeiam, não o tente.
[ix] O dinheiro não é deles…
[x] Para quê ter um plano de
desenvolvimento? Os rendimentos estão garantidos e não se fazendo nada tem-se
menos chatices…
[xi] Temos que admitir que é um mercado
potencial não explorado.
[xii] Eles têm que ganhar experiência de
alguma forma.
[xiii] Só existe humanidade em Sociedade.
Só existem virtudes e defeitos enquanto há Sociedade… e que eu saiba esta
existe enquanto houver normas, atos honrosos e desonrosos (escritos ou não) com
algum garante que serão benéficos ou pelo menos não prejudiciais para os
indivíduos que compõem essa Sociedade. A desenfreada corrupção está a fazer com
que o cumprimento das normas éticas seja prejudicial a quem as cumpre.
4 comentários:
Como vê o pessoal quer é politiquice travestida de cidadania! Assuntos deste calibre parecem não interessar a "ninguém".
Exato, não interessam a ninguém, à excepção do Santo e de você.
Sim, muitos dos que por aqui andam julgam-se acima destas realidades e pensam estar a manipular quando estão é a ser manipulados.
Pois, o camarada Spínola é que as sabe.
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