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sábado, 7 de setembro de 2013

POLÍTICA DAS ANGÚSTIAS / SÁBADO





JAIME RAMOS ABANDONOU CONSELHO REGIONAL
QUANDO NUNO TEIXEIRA IA FALAR


* Jardim ameaçou denunciar, diante de todos os conselheiros, os dirigentes "nervosos" que andam a desestabilizar o partido



* Tensão no seio laranja às claras no conselho deste sábado








Jardim faz um curioso conceito de 'unidade impecável' 






Jaime Ramos existe. E, existindo Jaime Ramos, não há impossíveis no PPD-Madeira. Com ele por ali, os próprios absurdos tornam-se normalidade.
Para quem ridicularizou a informação de que havia entre os militantes social-democratas alguém capaz de abandonar o Conselho Regional deste sábado assim que Nuno Teixeira desse início à sua intervenção, aí está a resposta. Chegada que foi a sua vez, o eurodeputado dirigiu-se ao palanque. Foi quando Jaime Ramos, sentado como habitualmente mais atrás na sala do Centro de Conferências da Fundação Social Democrata, em Santa Quitéria - foi então que Jaime se levantou, sem quaisquer preocupações de discrição, e desapareceu para não mais voltar ao lugar.
Vivia-se grande expectativa para saber se havia alguém capaz dessa atitude. Houve. Jaime. Que, porém, não foi seguido por alguns elementos das suas hostes - do secretariado e do grupo parlamentar - que tinham instruções para sair quando "o tipo da Europa" fosse intervir.


Da expectativa à surpresa, da surpresa ao mistério


Da expectativa passou-se à surpresa: afinal, era Jaime Ramos a personalidade a quem o facto de Nuno Teixeira falar no Conselho Regional causava os pruridos de que aqui déramos notícia. 
Da surpresa, passou-se ao mistério: que raio tem Jaime Ramos contra o eurodeputado?
O escândalo do abandono da sala por Jaime Ramos ficou sem explicação.

Agora, calmamente, podemos pensar que na origem do problema esteja uma velha rivalidade entre Nuno Teixeira e o filho de Jaime Ramos - Jaime Filipe Ramos - que, por coincidência ou talvez não, faltou ao encontro de conselheiros deste sábado, que tinha prevista uma intervenção de Nuno Teixeira.  
Desde os tempos da JSD, ambos vivem politicamente cada qual para seu lado. 

Recuando no tempo, recordamos que o secretário-geral do PSD, Jaime Ramos, não escondeu o seu aborrecimento quando soube da escolha de Nuno Teixeira para se candidatar a deputado europeu no lugar de Sérgio Marques - episódio de onde nasceria o hoje popular cognome de 'Único Importante', criado por Jardim para si próprio.
Jaime mostrou azia por essa escolha em plena comissão política.
Mas o mal-estar persiste?
Os conselheiros, pelo menos os menos próximos de Jaime, ficaram sem perceber o procedimento. 
Havia rumores azedos segundo os quais Nuno Teixeira o que queria era aproveitar a oportunidade para se promover internamente. Até se falava de um novo delfim em perspectiva - Nuno -, caso João Cunha e Silva não avançasse. Sabendo destas dúvidas, o orador começou a intervenção pedindo desculpa por desiludir quantos aguardavam da sua parte algum anúncio bombástico. Que não. Pedira para intervir com a única intenção de prestar contas ao partido a respeito dos seus primeiros 4 anos de mandato no Parlamento Europeu. E também para dar novidades sobre a vida da União até 2020, para se perceber em que áreas poderão as ultraperiferias como a Madeira procurar mais apoios. 
Uma intervenção mais técnica do que política, no fundo.

Uma certa provocação ao líder, que morre por continuar a mandar

A atitude ostentada por Jaime Ramos, na situação que o partido atravessa, pode até ser interpretada como uma provocação ao líder do partido, que abrira os trabalhos desbobinando os seus vulgaríssimos lugares comuns de guerrilha política, sem esquecer os espinhos internos. Um dos elementos visados foi exactamente Jaime Ramos, a quem Jardim não perdoa a presunção de que ele, Jaime, se passou para o lado de Miguel Albuquerque. Ora, Miguel Albuquerque é até hoje o delfim que se atreveu a disputar a liderança no PPD, o que equivale à tentativa de correr com Jardim. E, acreditem todos, Jardim morre por ficar eternamente a mandar.

A verdade é uma. Quem já percebeu que Jardim se prepara para defender até ao último pingo de sangue a cadeira que ocupa nas Angústias não estranha este clima político. Nem acha esquisitas certas originalidades do relacionamento interno laranja que frequentemente abanam a opinião pública. 
O chefe não profere uma palavra nem dá um passo noutro sentido que não o de garantir a continuidade no poder. Não seria diferente na reunião deste sábado


Ao abrir os trabalhos em Santa Quitéria, começou pelo previsível e gasto discurso pseudo-xenófobo, apontando pela enésima vez a família Blandy como a causadora de todas as calamidades da História da Madeira. Assim, fez saber ao Conselho Regional, durante os 50 minutos de intervenção, ser errado desperdiçar tempo com partidos rivais que não passam de instrumentos utilizados pelo Blandy... para fazer ressurgir os tempos da Madeira ocupada pelo general Beresford e comerciantes colonialistas ingleses.

Jardim não trata de xenofobia. O seu interesse único é conservar vivos os 'inimigos' que lhe permitem agitar fantasmas diante do dormente eleitorado.


Ir embora... ficando eternamente

Quando se encontra a sós com um companheiro de partido, Jardim costuma começar por repetir o seu 'desejo' de ir embora. Mas, se não recebe do interlocutor um incentivo para continuar, é ele a rectificar a ideia: o 'desejo' é ir embora; mas aqueles insanáveis desentendimentos entre os potenciais sucessores! Que fazer, senão ficar no poder até que eles se entendam?!
Estratégia podre mas que até ao dia de hoje tem funcionado.
Toda a gente tem percebido a postura do chefe nas últimas semanas: ora elogia a governação "inteligentíssima" de Manuel António Correia, ora gaba João Cunha e Silva por isto ou por aquilo, como por exemplo o apoio às empresas. Táctica para manter os dois delfins empenhados na luta da sucessão, por forma a combaterem-se um ao outro, oferecendo ao chefe a missão de salvador da pátria. Porque, quanto a Miguel Albuquerque, nem pensar. Seria entregar a Madeira aos papões da maçonaria.
O curioso é que alguns delfins, de quem se esperava uma postura lúcida, valorizam os elogios do patrão. Não perceberam ainda que essa mais-valia já era?


Ganhar na vitória e na derrota... porque o projecto é pessoal


Chefe caminha, pois, a dizer para um lado que não se recandidata em 2014 e a suspirar para o outro lado que as brigas de delfins o obrigam a recandidatar-se.
Para conseguir o que pretende, precisa de sair por cima das eleições autárquicas de 29. Se ganhar, o povo que veja quem é que ainda sabe governar a Madeira. Se perder, foi obra da teia montada por Jaime Ramos - quem diria! - contra o líder do PSD-M.
Ele, Jardim, já espalhou a ideia: a campanha que organizaram desta vez não está a seu gosto. Portanto, não lhe venham pedir contas, em caso de insucesso.
E como queria ele a campanha? Queria-na com jantaradas em todas as freguesias, para conseguir um banho de multidão em cada local.
Claro que Jaime Ramos, nesta altura de miséria franciscana em que não pode canalizar obras para os empreiteiros benfeitores, não arranja retorno para fazer grandes patuscadas. Nem sabemos como conseguem pagar ao Tony Carreira. Optou Jaime então por uns encontros mais singelos nas freguesias, com um sumo, um dentinho... E Jardim aproveitou a circunstância para implicar com o secretário-geral, castigando-o assim pelo suposto apoio ao grande rival Miguel Albuquerque e reservando um bode expiatório em caso de desaire eleitoral nas autárquicas.


Ameaças do chefe: nomes dos 'nervosos' denunciados em público

Nesta reunião do Conselho Regional, além das estafadas teorias da conspiração, envolvendo Blandy, maçonaria, jornais, RTP e RDP, Trilateral, Bilderberg, Bush, moinhos de vento e formiga branca, chefe Jardim quis deixar um aviso: uma vez que está a ver alguns elementos com responsabilidades na estrutura do PPD "muito nervosos", e aparentemente capazes de estragar o partido, irá denunciá-los pelos nomes próprios, perante aqueles mesmos conselheiros, caso sinta que tal nervosismo continua.
E porquê tal nervosismo? Porque - explicou aos conselheiros - anunciou demasiado cedo a sua retirada.
Lá está. Falou cedo, deixou muita gente nervosa... e agora terá de 'aguentar' mais uns tempos.
Refere-se a Miguel Albuquerque, ao falar dos nervosos a denunciar? Bom, Albuquerque há muito que está "denunciado". Aliás, denunciou-se propositadamente a si próprio, enfrentando o chefe nas urnas. Tanto se preocupa Miguel com as posições do ainda chefe do partido que nem compareceu à reunião deste conselho regional - onde tem assento por inerência de autarca. Simplesmente continua a não aceitar um conselho regional feito de inerências, porque acaba por ser uma "caixa de ressonância do chefe".  
Jardim refere-se então a Jaime? 
Claro.
Que se saiba, na estrutura do partido há dois titulares com responsabilidades: o próprio Jardim, que é presidente da comissão política, órgão executivo. E Jaime Ramos, secretário-geral. Os presidentes do conselho jurisdicional e do conselho regional não são para aqui chamados, dadas as suas funções. E já nem sequer há vices da comissão política nem comissários para os concelhos.
Portanto, na perspectiva de Jardim, quem está nervoso é Jaime Ramos. 
Apesar das ameaças, Jaime não se preocupou em mostrar este sábado menos 'nervosismo'. Quando entendeu abandonar os trabalhos, ou seja, ao começar a intervenção de Nuno Teixeira, levantou-se e saiu da sala no seu passo decidido, sem se ralar com a presença do grande chefe.
Contaram-nos que Ana Mafalda, deputada e secretária da Mesa da Assembleia, e mulher de Jaime Ramos, também abandonou a reunião, mas não o conseguimos confirmar.


Intervenção à moda do chefe

Jaime já não chegou a ouvir a intervenção de deputada Ana Serralha, a última da sessão. Tal como Sidónio Fernandes, que falou depois de Jardim e antes de Nuno Teixeira, Ana Serralha fez um discurso para dentro do PSD. Com apelos à unidade e recados aos que andam em bicos-de-pés a fraccionar o partido. Reconheceu a importância das divergências internas, mas sempre levando em conta a importância de seguir o rumo certo. Grosso modo.
O discurso de Ana Serralha agradou a grande parte da assistência. Disseram-nos, já esta tarde, que a mensagem fora encomendada por Jardim em encontro na Quinta das Angústias, aonde a deputada nortenha deu uma fugida segunda-feira para supostamente receber instruções. Pelo teor do discurso, não custa acreditar nessa versão.

Estranho conceito de 'unidade impecável'

São apelos à unidade a 3 semanas do teste autárquico. 
Unidade pedida para um partido que se dividiu numa candidatura social-democrata e em várias feitas de social-democratas concorrendo em listas de independentes. 
Um partido cujo líder se queixa de uma teia contra si urdida pelo seu braço direito de 40 anos.
Partido cujo líder ameaça denunciar companheiros "nervosos".
Líder que se queixa de fazer uma campanha eleitoral que não é do seu gosto.
Partido patrono de um governo composto por titulares que não se falam, como João Cunha e Silva e Manuel António Correia.
Manuel António que vai a São Vicente jantar ao lado de dissidentes e actuais candidatos adversários, obrigando-se a divulgar depois um comunicado patético.
Manuel António que aparece em Santa Cruz a fazer campanha, passando por cima de Miguel de Sousa, para todos os efeitos o dirigente laranja para aquele concelho.
Partido que elegeu presidentes de câmara agora em litígio com o governo - veja-se a Ponta do Sol e a Vice-Presidência.
Partido regional que está em guerra com o partido nacional, para efeitos eleitoralistas.
Uma Fundação Social Democrata com calotes e em litígio com a Câmara e a EEM, dirigidas por gente do sistema.

Um presidente da Fundação, Jardim, que para salvaguardar a imagem pessoal manda a EEM cortar a luz à Fundação a que preside.
Líder que proíbe companheiros de falar na Herdade e no Dia da Região, mudando o comício para outro concelho.
Líder que se farta de escrever artigos apócrifos para humilhar colegas de partido.
Líder que elogia antigos presidentes de câmara para enxovalhar o actual, caso do Funchal.
Líder que aproveita tragédias, como os incêndios, para denegrir a imagem de companheiros.
Líder que atiça rivalidades entre subordinados, num permanente 'dividir para reinar'.
Líder que, em vez de tentar evitar mais desmandos, permite e até alimenta guerras entre colegas seus na praça pública, como no caso Miguel de Sousa-Jaime Ramos. 
Líder que continua, como se percebe na caminhada para estas eleições, a fugir às responsabilidades do negativo e a reivindicar méritos do que corre bem.
Líder que diz ter um "núcleo duro" no partido que vai ignorar os colegas "notáveis".
Líder que continua a tratar por ressabiados os colegas que pensam pela sua cabeça, e não pela dele.

Sintetizando com uma expressão recente de Jardim, "o PSD está com uma unidade impecável".

4 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro Luís Calisto

Enfim, um descalabro transformado em ópera bufa. Mister Bean não faria melhor.
É de gargalhada.

Luís Calisto disse...

Deixe estar, caro Coronel, que relativizo muito as capacidades de certos cómicos de nomeada sempre que vejo algum dos sketches profusamente criados cá na tabanca.

Anónimo disse...

isso ta a ficar lindo,....tá!!!
e ainda nem começou a "guerra" no ppd....

Anónimo disse...

quem vai lançar a "nova" candidatura é Brazão de Castro...o DN erra ao dizer que não tem apoios....