LARANJAL

O MURO DAS LAMENTAÇÕES

O antigo todo-poderoso do PPD-Madeira, actualmente barricado na Rua dos Netos com alguns correligionários sob sequestro, prossegue na sua campanha de auto-martirização a ver se, por condolência especial, a 'pata rapada'  ainda lhe deita a mão piedosa.

Ontem, quarta-feira, a lamentação que se tornou habitual na última página do JM derramava uma torrente de lágrimas sobre o leitor desprevenido, à conta de 5 ou 6 subordinados - de confiança, julgava o chefe - que resolveram escrever-lhe uma carta recomendando serenidade na mania de expulsar Miguel Albuquerque do partido. 

Mas para quê andar com missivas do género quando todos dispõem de antena para dizerem o que quiserem nas reuniões da comissão política?! - soluçava ele no artigalho. E os social-democratas que fizessem justiça ao homem, vítima dos 5 ou 6 autores da "cartinha". Os social-democratas verdadeiros que registassem bem registado que "a epístola só teria utilidade para publicação na folha do 'juntos pelo Blandy'". 

"Estou a escrever isto porque o prometi se a folha 'bufasse'", fungava sua excelência, naquele heteróclito latim lá dele. Com mais a seguinte recomendação de amigo traído, sempre numa escrita de fazer desmaiar os mais frios assassinos da Gramática: "É bom que a população da Madeira e do Porto Santo não caia numa triste figura de não perceber o que se anda a urdir contra si própria."

Em matéria de conteúdo, é isso: o chefe sente que os tubarões se revoltam contra quem lhes deu visibilidade, prosperidade e poder. Hoje um, amanhã dois, para a semana 10, ei-los que partem. Ele é Miguel Albuquerque, ele é Costa Neves... Humberto Vasconcelos, José António Garcês, Menezes do Porto Santo, Rubina, agora estes da carta, mais José Prada e Ventura Garcês que não correm do partido quem o chefe aponta, e ainda certos comentadores da praça imunes à partidarite. Todos a passar-se para o lado onde não está o chefe.

Daí Jardim preocupar-se com o caminho que aquela gentalha começou a trilhar. Jardim é como aquele pai que se orgulhava no juramento de bandeira: "Neste batalhão, só o meu filho vai com o passo certo!"

Hoje, quinta-feira, o muro das lamentações na derradeira página é outro 'vale de lágrimas'. Quem folhear o JM pela ordem certa, porém, obriga-se a gramar primeiramente um fartote de jardinices por todo o lado, num considerável espaço do matutino que nos leva 4 milhões de euros por ano. 

Aquilo é boneco do homem em ponto grande na 1.ª página, com as baboseiras do costume a fazer de chamadas oficiais. É a notícia 'bombástica' do convite para ele ir falar do 25 de Abril à Califórnia (os organizadores dos states não devem perceber porra nenhuma da História recente de Portugal). Aquilo depois é uma segunda página toda ocupada pelas diatribes do homem, desde um fantasioso "plano diabólico de centralização de poderes nos Estados" denunciado numa simples cerimónia de bombeiros, com o inevitável retrato da postura presidencial, até à suja vomição diária no 'boca pequena', passando pelo programa de sua excelência para o dia, com direito a plenário do governo e entrega de uma casa da CVP presidida por... - ora, por quem havia de ser!

Sem interrupções inúteis, o comissário editor pespega logo na página 3 com mais um 'estenderete' sobre teorias fiscais e outras chatices que chefe costuma abordar para dizer que percebe alguma coisa daquilo.

A edição do JM prossegue pelas páginas adiante com animoso despique entre alternados artigos sobre o legítimo Rei da Tabanca, sobre membros do desgoverno e sobre quadros partidários do Laranjal, futuros dissidentes.

Uma pessoa passa os olhos pelo Desporto, pela necrologia, pelas fotografias de cabeleireiro e depara-se com um berreiro na última página, outra vez da boca do chefe p'ra fora. Então não é que ninguém se preocupa com a incoerência que grassa nesta terra, apesar de ser assim que "uma sociedade caminha para o abismo"?!

Não poucos dos 10 mil militantes do PPD - chora o chefe na 'opinião' - se filiaram, não por fervor autonomista e social-democrata (como ele, passe a ironia), mas "pela ambição pessoal". 

"Daí, depois" - claro está -, "a dificuldade de quem dirige o partido para lidar com filiados não correspondidos nas suas ambições pessoais."

Veja-se este despautério: "...A ponto de [o líder] se sentir mais à vontade com o povo cá fora, não filiado"!

Isso, o sua excelência das Angústias que se fie nessa e venha daí.

Perante as 'infiltrações', eis os soluços finais da lamentação escrevinhada sempre com os pés: "E depois, para bem da Madeira 'limpar' o PSD e libertá-lo de todos os que fazem o jogo da sua destruição, isso é 'pecado'..."

[Está escrito assim, não podemos emendar para Português, nem aquilo teria conserto]

Não sabemos se o sua excelência continua sem dar ouvidos a quem o rodeia. Em todo o caso, atrevemo-nos a mandar um conselho sincero, não armadilhado, para que o obstinado mandão se livre dos traidores e possa continuar sossegado no comando do partido, mesmo depois de 2015: diga que o seu ódio a Miguel Albuquerque foi invenção do 'juntos pelo Blandy' e manifeste apoio ao mesmo Miguel. É remédio santo para 'queimar' eleitoralmente esse 'traidor' em dois tempos. Depois, é só aplicar a mesma receita com Sérgio Marques e então a recondução está garantida.

Está provado que os berros e as atrocidades psíquicas não resultam.

Experimente, a ver se acaba com essa lamúria na última página do sacrossanto JM.

De nada, ora essa.