Delícias da Madeira Nova

POLITICANDO PARA O BONECO

Miguel de Sousa escreveu hoje, e bem, mas não disse tudo

No artigo que divulga hoje enquanto candidato à liderança do PPD-Madeira, Miguel de Sousa vê a coisa política regional em 'banho maria'. Porque, explica o Delfim, "nada acontece, tudo está parado, hoje é igual a ontem". Daí a sua pergunta: "Alguém sabe o que essas criaturas andam fazendo? Ou o que se preparam para realizar?"

Nada. Essas criaturas não estão fazendo nada e o que se preparam para realizar é igual a zero. Isto se acaso estamos a perceber correctamente a quem se refere o articulista no seu tempo de antena gráfico. 

Se, de facto, pergunta pelo trabalho dos políticos, designadamente os que deviam governar, é como dizemos. Não realizam nem se preparam para realizar rigorosamente nada.

Miguel de Sousa foge ao conflito com os seus confrades de partido. Porque ele, Miguel de Sousa, sabe das actividades dos governantes.

Com que então, "o que andam essas criaturas fazendo"! Por exemplo, o articulista sabe melhor do que nós, ora se sabe!, o que o seu antigo patrão político anda fazendo em Bruxelas. Como nós, conhece o dia-a-dia do Grande Meio Chefe quando episodicamente vem à Região. Sabe como é que ele preenche o tempo. Meio Chefe passa o tempo a mentir para desmentir a comunicação social, com as suas mentiras - dele, Meio Chefe, que antes faziam rir e hoje preocupam quem tem um mínimo de humanismo. Amiúde, conta no JM histórias sobre a fundação do PPD-Madeira, metendo cada vez mais os pés pelas mãos, sem conseguir convencer ninguém de que esteve entre os verdadeiros fundadores. Escreve baboseiras e aldrabices para expectorar diariamente no JM pago por nós. Faz plenários para justificar a existência de um governo e, para encher o tempo de reunião, louva este desportista e aquele bombeiro, dá um voto de pesar para aqui, elabora um protesto para acolá. Governação, puto. Lá vai maçando as audiências com a revisão constitucional impossível. Finge bom relacionamento com Lisboa prometendo que a Fortaleza do Pico é quase nossa (quando for o Palácio de São Lourenço temos um mês de feriados).

Ao fim do dia, Meio Chefe convoca os comissários do JM para uma conferência de redacção nas Angústias e faz mais uma perninha para decidir quem vai na primeira página e quem vai na página das participações.

E que andam fazendo as outras criaturas do governo, perguntará Miguel de Sousa, como se não visse todos os dias pelo menos a primeira página do JM. 

Ora, as outras criaturas continuam naquela obsessão de governar para o boneco. Sim, eles falam para o boneco no sentido de que ninguém liga a ponta de um chavelho àquilo que eles dizem. Mas o que eles querem é outro boneco, isto é, o retrato no jornal. Pensando ingenuamente que esse boneco também não é um boneco para o boneco.

Tão bem quanto nós, Miguel de Sousa já percebeu como é que o vice-presidente consegue boneco na primeira página. Cunha e Silva diz num lugar público que releva o apoio à inovação ou que o empreendedorismo é a grande aposta deste mundo e do outro e os comissários da Quinta Vigia, pimba, manchete para tão empolgante declaração. E se for um apelo para que a juventude seja pró-activa? Bom, aí já vai com foto e tudo.

Ainda assim, João Cunha e Silva não bate o secretário do Ambiente em destaques no pasquim. Manuel António Correia não tem de pensar muito para lhe colocarem boneco na página da frente, com várias peças no interior, umas ao lado das outras, cada qual com a sua ilustração. A ele, para conseguir espaço, basta prometer incentivar limpeza aos terrenos das Lombadas, aparecer nas festas do limão e da castanha, manifestar regozijo pelas condecorações a figuras do regime em dia assinalado, assinar protocolos para melhorar tubérculos ou simplesmente garantir que contempla a Natureza todas as manhãs. O homem às vezes até exagera no esforço, embora não lhe falte a recompensa no JM. Ainda no passado sábado, aquilo foi assinar um protocolo no Clube Naval, depois marcar presença (como noticiava o pasquim) na XII feira das sopas do campo, em território nortenho! Uma canseira. 

Os outros governantes estão-se nas tintas para o boneco. Não é propriamente para brilhar que Conceição Estudante, antes do próximo passeio às Américas com familiares e amigos, tem andado em conferências sobre o lixo e transportes. Isso não passa de meia seca. Tal como quando Ventura Garcês precisa de dar um salto ao parlamento para dizer que o buraco financeiro é sim senhor, porque não, e talvez enfim.

Não nos estamos a lembrar da existência de outros membros do governo. Mas Manuel António e Cunha e Silva chegam bem para se fazerem ao boneco quando trabalham para os bonecos - o que fazem hoje ainda com mais assiduidade, por causa da disputa partidária interna. 

Mas deixe ficar, caro Dr. Miguel de Sousa, que os seus companheiros Delfins que não o vice e o nosso Amigo do Ambiente também fazem das tripas coração para se insinuar nos escaparates. Não só com artigos como o seu de hoje mas também em declarações estudadas para fazer efeito. 

Miguel Albuquerque, por exemplo, acordou um dia destes a sonhar com o mergulho e botou logo ideia de projecto para inaugurar debaixo de água. Depois, lembrou-se da Feira do Gado e pensou em meter nos terrenos da Santa umas batatas e uns cavalos para ocupar aquilo durante o ano. 

Mais ou menos nesse estilo, todos os delfins se agitam em bicos-de-pés. Mas deixe ficar que nas bandas da oposição as coisas não são mais animadoras. Os partidos mais pequenos são obrigados a trabalhar, para não desaparecerem do mapa. Mas os maiorzinhos também é tudo p'rao boneco. Tal como os desgovernantes, os da oposição falam de tudo menos de soluções para acalmar a crise. Nenhuma ideia para o triste presente, muito menos para o futuro sombrio. Tudo zeros, mas zeros à esquerda, que não contam para o totobola. Na oposição, andam todos à espera de ver o que os outros vão fazer. Uma inércia de deixar o povo anestesiado.

Ideias práticas devia tê-las o governo antes dos outros, mas isso! Meio Chefe e os sequazes mais vivaços aparecem quando o Ronaldo marca um golo, mas fogem quando há um casal de alemães a cair de uma ravina de 100 metros, ou quando mais 3 ou 4 casais de turistas foram assaltados na levada dos Socorridos. 

A propósito, vimos o ministro Miguel Macedo falar dos dispositivos de prevenção para mais um Verão que chega prometendo muita floresta ardida. Que é feito dos incendiários terroristas que Meio Chefe prometeu denunciar e 'meter dentro' depois das últimas tragédias ambientais nas nossas serras? Não se lembram? O inspector da Judite à época, para ficar bem visto com o velhote da Tabanca, até dizia que já dispunha de um isqueiro apreendido no mato que certamente encheria o Estabelecimento da Cancela de piromaníacos. Meio Chefe aproveitou as labaredas para se atirar aos incendiários mandados pela oposição. E agora, quem paga essas suspeitas?

Esta terra dá para tudo. Até para nos acomodarmos à ideia de que "hoje é igual a ontem" e que "amanhã também". Sim, Miguel de Sousa tem razão quando escreve que "ser responsável por este estado de 'empatas', sem nada ser resolvido ou mudado, e ainda se julgar solução para o futuro, é infâmia política". Mas os bonecos aguentam, aguentam. 

Que tédio!