LARANJAL

A NÊSPERA DE ALBUQUERQUE

Ler deitado poemas sobre nêsperas preguiçosas é uma ideia dos irresistíveis malucos do surrealismo. No Laranjal, tudo é possível. Até um conselho regional como o de hoje, com 'meia dúzia de gatos pingados' a pescar bodiões enquanto o chefe atacava Delfins.

João Cunha e Silva jantou há 4 ou 5 dias em Santana com a equipa local de apoiantes que ensaiam tácticas a empregar na cruzada rumo à liderança do PPD-Madeira. Segundo nos informam, estiveram no local do repasto cerca de 70 pessoas. Uma concentração razoável, tratando-se apenas dos elementos da máquina com a qual o Vice conta para a batalha prestes a chegar. Então, sim, os encontros deixarão de ser restritos, abrindo-se aos militantes todos. 

Entre os presentes, pontuaram figuras locais conhecidas na Região, como Rui Moisés, ex-presidente da Câmara de Santana, e outras com influência no concelho - presidentes de clubes e de associações. Os cunhistas ganham ânimo e fazem questão de o dizer.

Estas jornadas de João Cunha e Silva, presume-se, resultam muito melhor do que a ideia de se pôr a dar aulas por essas freguesias, como fez agora na Ribeira Brava. Umas dicas à pequenada sobre autonomia, promessas de consertar instalações da escola, retrato nos jornais e, tudo espremido, zero de interesse.

Na mesma onda surfa Miguel Albuquerque. Se, por um lado, Miguel faz o trabalho de campo mantendo agitada a chama da candidatura junto dos apoiantes em toda a Região, por outro perde-se em artigos e reportagens forçadas que fazem lembrar aquela do 'mais vale desejado do que aborrecido'. 

O ex-presidente do Funchal, para encher, vai escrevendo sobre as vantagens do mergulho, das semilhas e cavalos durante o ano em terrenos da Feira do Gado, como já dissemos... e a última é, hoje mesmo, a colecção de lugares comuns sobre veredas e levadas. 

É certo que Albuquerque não pensa empregar-se como levadeiro ou guia turístico, assim como o lugar de director de Florestas e a presidência da IGA estão ocupados. Apenas quer mostrar que sabe pensar. Mas de um Delfim espera-se muito mais do que debater percursos turísticos e segurança nas levadas com frases estafadas, quando está em jogo a recuperação do partido deles, Delfins, e o futuro da Madeira. Projectos de envergadura precisam-se.

Sérgio Marques faz o seu trajecto um pouco no registo que acabamos de abordar relativamente a Miguel Albuquerque.

Miguel de Sousa, apostamos, está no Brasil nestas semanas, para não precisar de que alguém lhe conte as peripécias do Mundial de futebol. Quanto a Manuel António Correia, persiste o problema do apoio 'envenenado' que o chefe lhe ofereceu um dia - e que, curiosamente, hoje praticamente nega. Na verdade, as coisas complicaram-se para o homem do Ambiente desde que Cunha e Silva entrou na corrida. A propósito do que narrámos acima sobre o jantar do Vice em Santana, garantiram-nos que os cabeças das casas do povo naquele concelho estiveram presentes e com apoio manifesto ao mesmo Vice. O que significa uma deserção da tropa que Manuel António estava a reunir.

Não vimos, contaram-nos.

Quanto a Jaime Ramos, ninguém pode adivinhar o que vai naquela cabeça. A não ser que andou a recolher assinaturas para a sua própria candidatura e que ostentou propositadamente essa hipotética candidatura em conversas com alguns candidatos assumidos.

Mas as coisas não lhe correm de feição. Ainda hoje, queixou-se, ao falar durante a insípida reunião do conselho regional do PPD-Madeira, da deslealdade interna que permitiu, por exemplo, deixar fugir a informação sobre o meio milhão de euros que Passos Coelho mandou há tempos para a Rua dos Netos.

Em todo o caso, não fosse por isso, as contas dos milhões PPD voltaram a ser aprovadas... por unanimidade.

Reunião sonolenta em Santa Quitéria, a desta manhã. Jardim levou outra vez as conclusões previamente escritas (o JM já não embarcou na aventura de as divulgar precocemente...) e andou ali numa arenga que não chegou para animar, nem pouco mais ou menos, aquela meia dúzia de 'gatos pingados' armados em conselheiros. Repetiu e repetiu a azia que Sérgio Marques lhe provoca. O beneficiado foi Nuno Teixeira, que apanhou com elogios pelo seu apoio a Cláudia Monteiro nas europeias, para comparar com a ausência de Sérgio quando há anos, ao não candidatar-se ao PE, faltou à campanha eleitoral do sucessor na lista Nuno Teixeira, precisamente.

Depois, as velhas críticas àqueles que, para terem palco na comunicação social, "dizem mal do partido e do governo de que já fizerem parte". Farpa destinada a Miguel de Sousa, obviamente. Enfim, um conselho que mais parecia um grupo de idosos a ver televisão depois de terem tomado valium, e a que, dos Delfins, apenas compareceram Manuel António, Cunha e Silva (que é presidente daquele órgão) e Jaime Ramos.

Belos tempos em que era uma 'cagança' comparecer ao sábado de manhã para ouvir o sr. presidente!...

Um pouco contraditoriamente, digamos que o homem - Meio Chefe - não dorme. Ele continua a sonhar com uma vaga de fundo na Herdade das Carreiras, no próximo mês, que lhe legitime a recandidatura.    

Percebe-se.

Ele anda escrevendo no pasquim sobre o que quer do PPD-Madeira para o futuro. Como girarão os novos quadros do partido. Qual o perfil dos elementos para a renovação (renovação não implica com a idade de cada um, faz ele rir). Vai expectorando ordens para os tempos que aí vêm. E a gente pergunta: mas em que qualidade estará o fulano a destinar aquilo tudo? Se diz que vai embora, por que cargas de água projecta o que compete aos sucessores fazer?

São considerações que competem aos Delfins, obviamente. Só nos lembrámos destes pormenores quando lemos, transcrita no artigo de Albuquerque hoje no DN, a história da nêspera que decidiu ficar na cama, deitada e calada, até que chegou a Velha e a comeu. Porque é isso que acontece às nêsperas que ficam a dormir, em vez de agir, segundo o autor dos versos. 

Miguel Albuquerque não milita na corrente surrealista em que se embrenhou Mário-Henrique Leiria, esse maluco do combate intelectual contra as políticas salazarentas do tempo dele - e do nosso. Mas Albuquerque e Leiria apresentam-se com um ponto comum: cada um teve um avô que no seu tempo lutou valentemente pela democracia. O avô do poeta, por dentro da Carbonária, contra a monarquia em 1910. O avô de Albuquerque, o célebre coronel Machado, no teatro da Revolta da Madeira contra o salazarismo emergente em 1931. 

Mas uma pergunta final: Albuquerque não leu deitado a história de Mário-Henrique Leiria mais a sua nêspera, leu?