“Factos alternativos”
sobre o desemprego na Madeira
Vitorino Seixas
O Instituto Nacional de Estatística (INE) ¹ divulgou,
no passado dia 8 de fevereiro, que a criação de emprego líquida contribuiu para
a redução de 90,5% do desemprego nacional no 4º trimestre de 2016. Numa análise
dos dados anuais divulgados constata-se que o contributo da criação de emprego
líquida para a redução da população desempregada em Portugal tem vindo a
aumentar, atingindo 54,3% em 2014, 61,9% em 2015 e 76,9% em 2016.
Perante estes indicadores nacionais, que mostram que a
criação de emprego líquida é o fator que, cada vez mais, contribui para a
redução do desemprego, qual é a situação na Madeira?
Numa primeira análise do mapa “Evolução Trimestral do
Desemprego em 2016” ² constata-se que o contributo anual da criação líquida de
emprego para a redução do desemprego foi de 69% em 2014, de 175% em 2015 e de
80% em 2016. Nestes contributos há um resultado, o relativo a 2015, que se
destaca pois há a criação de 700 empregos, mas a redução do número de
desempregados é de 400, um número bastante inferior, o que contraria o pensamento dominante nas políticas de
combate ao desemprego: “para reduzir o desemprego é preciso criar emprego”.
Fazendo a análise trimestral dos dados de 2016,
verificamos que o contributo trimestral da criação líquida de emprego para a
redução do desemprego foi de 531,4% no 1º trimestre e de 107,2% no 2º
trimestre. Mais uma vez, nos 1º e 2º trimestres temos uma criação de emprego
líquida superior à redução da população desempregada. Por exemplo, no 1º
trimestre criaram-se 1.573 empregos, mas a redução de desempregados foi, apenas
de 296, ou seja, cinco vezes menos. No 3º trimestre temos mais uma situação “sui
generis” em que, apesar dos números não serem muito significativos, há criação de emprego, mas o desemprego
aumenta. No entanto, o resultado mais surpreendente é o do 4º trimestre,
onde se regista uma destruição de 1.113 empregos e uma redução de 3.394
desempregados, ou seja, esta redução trimestral corresponde a 66,4% da redução
anual do desemprego regional. Por outras palavras, “reduziu-se o desemprego, destruindo emprego”, um “facto alternativo” ³ gritante.
Mas, as estatísticas regionais revelam outros “factos
alternativos”. Em 2016 a população ativa cresceu suavemente nos 3 primeiros
trimestres, para decrescer acentuadamente 4.507 pessoas no 4º trimestre, um
número que é quase o dobro do decréscimo anual da população ativa (2.468). Em
contrapartida, nos 3 primeiros trimestres registou-se uma queda da população inativa
para se registar um crescimento acentuado de 3.775 pessoas no 4º trimestre.
Pelo exposto, conclui-se que no 4º trimestre de 2016
se registou um “facto alternativo”, caracterizado por um crescimento acentuado
da população inativa, num contexto em que há um decréscimo acentuado da
população desempregada e da população empregada. Para termos uma ideia da
dimensão do fenómeno basta dizer que, no
4º trimestre, o desemprego teve uma redução de 19,4%, o que indicia uma “limpeza
de desempregados” sem precedentes.
Mas, se analisarmos o mapa “Evolução Mensal do
Desemprego em 2016” ⁴ constatamos que no final de 2015 havia 22.777
desempregados e que o número de “desempregados desaparecidos” totalizou 9.101,
ou seja, 40% dos desempregados
desapareceram em 2016, o que espelha a dimensão anual da “limpeza de
desempregados”.
Neste contexto, não se
compreende que o Instituto Nacional de Estatística, que tem como missão produzir e divulgar informação
estatística oficial de qualidade, e o
Eurostat, como autoridade estatística da União Europeia, se tenham demitido
do seu papel de garantir a credibilidade das estatísticas e tenham validado tantos “factos
alternativos” sobre o desemprego regional?
PS: "Factos alternativos não são factos. São
mentiras" ³, Chuck Todd
¹ “A taxa de desemprego situou-se em 10,5% no 4º trimestre e em
11,1% no ano de 2016”, INE
² “Evolução Trimestral do Desemprego em 2016”
³ O termo "factos alternativos" foi
utilizado por Kellyanne
Conway, Conselheira de Donald Trump, numa entrevista de
Chuck Todd, a 22 de janeiro de 2017
⁴ “Evolução Mensal do Desemprego em 2016”
1 comentário:
O Sr. Vitorino sabe que o INE e o IEM utilizam metodologias diferentes ou faz de conta que não sabe? Haja pachorra para a sua "vontade alternativa", Sr. Vitorino. Haja pachorra...
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