O logro das reformas antecipadas
É sabido que,
antes das eleições, os partidos fazem promessas e que, uma vez instalados no
poder, esquecem-se do que prometeram.
Os partidos
do arco do governo prometeram acabar com os cortes nas reformas antecipadas.
Ao longo da
legislatura foram adiando de ano para ano, dando umas migalhas (48 anos de
serviço + 60 anos; 46 anos de serviço + 60 anos e 44 anos de serviço + 60
anos).
Quando se
esperava o que fora prometido – 40 anos de serviço, independentemente da idade -
eis que o mágico retira mais um coelho da cartola, com o intuito de iludir os
menos prevenidos: 40 anos de serviço + 60 anos menos factor de
sustentabilidade.
A isto
chama-se enganar o povo! Deixando cair os princípios que este ministro sempre
defendeu para criar e manter o factor de sustentabilidade.
Explicando
melhor: os sucessivos governos criaram e mantiveram um factor de
sustentabilidade, com base no princípio de que o povo português vive cada vez
mais anos (tem uma maior esperança de vida). Por essa razão, teria de se
reformar mais tarde e levar um corte na reforma que, actualmente, é de 14,5%,
isto é, mesmo que tenha direito a receber a reforma por inteiro, não a recebe –
leva um corte de 14,5%!
Por outro
lado, quem quiser reformar-se antes da idade legal da reforma (66 anos e 7
meses) leva com outro corte de 0,5% por cada mês de antecipação. Significa isto
que, quem quiser reformar-se antecipadamente, leva dois cortes: o da
antecipação e o do factor de sustentabilidade.
O partido que
nos governa (com o beneplácito dos seus correligionários) e que tanto prometeu
acabar com o corte nas reformas antecipadas, não se referia, como é óbvio, ao
corte do factor de sustentabilidade, pois este era justificado pela maior
esperança de vida. O que prometeram foi acabar com a penalização pela
antecipação (os tais 0,5% por cada mês).
Agora, num
truque de ilusionismo, os mesmos que tanto apregoaram o fim dos cortes pela
antecipação de reformas, dão o dito por não dito e trocam as voltas, retirando
a penalização relativa ao factor de sustentabilidade (como se o aumento da
esperança de vida desaparecesse de um momento para outro) e mantendo a
penalização pela antecipação.
Claro que o
truque é sujo e tem apenas um objectivo – oferecer como prémio a penalização
mais pequena (14,5% relativa ao factor de sustentabilidade) e manter a
penalização mais gravosa, pois deste modo, conseguem dizer duas coisas
contraditórias: às claras, dizem que acabam com a penalização das reformas
antecipadas; às escondidas, impedem que os eventuais interessados peçam a
reforma antecipada, pois levariam com um corte de 38,5%! Imaginem alguém com 40
ou mais anos de trabalho e 60 anos de idade, pedir a reforma com um corte de
38,5%! É óbvio que a pessoa esperará mais 6 anos!
Melhor e mais
justo teria sido manter-se o factor de sustentabilidade e eliminar (ou, na pior
das hipóteses, reduzir) a penalização pela antecipação de reforma.
Público versus privado
Os actores
lobistas, neste caso, governo e sindicatos, tratam as reformas do público e do
privado como se fossem idênticas.
Pior, o
próprio Ministro Vieira da Silva não se coibiu de afirmar que as novas regras
da reforma se aplicariam apenas ao sector privado (contribuintes da Segurança
Social), mas que não sabia se os subscritores da Caixa Geral de Aposentações
(CGA) teriam tratamento “tão benéfico”, como se estes subscritores (de um modo
geral, os funcionários públicos) devessem ser tratados de modo inferior.
Como é
sabido, o Estado durante décadas não entregou um cêntimo (na altura, um centavo)
das contribuições da “entidade patronal”, concorrendo deslealmente com o sector
privado. Pior: ficou com os milhões dos fundos de reformas dos CTT, da CGD,
etc, e agora é a CGA que suporta o pagamento dessas pensões. E ainda dizem que
a CGA não tem dinheiro para pagar as pensões…
Voltando à
diferença entre o público e o privado, sublinhamos que, enquanto na função
pública, em caso de doença, o Estado paga o vencimento aos funcionários e estes
fazem os descontos normais para o IRS, CGA e ADSE (ficando com um vencimento
líquido inferior à “baixa” do sector privado), no privado, em caso de doença a
entidade patronal deixa de pagar o salário e, nem a entidade patronal, nem o
trabalhador descontam para a Segurança Social. Mais: o trabalhador,
legitimamente, tem direito ao subsídio de doença (a “baixa”). Ou seja, em caso
de doença do trabalhador do privado, a Segurança Social deixa de receber cerca
de 33% de contribuições e paga cerca de 67% do subsídio por doença – tem
prejuízo de 100! E Este prejuízo pode durar anos… Feitas bem as contas, um
trabalhador do privado, ao longo da carreira contributiva, pode dar prejuízo à
Segurança Social e, depois, tem sempre direito á reforma. Isso não sucede com a
CGA, que nada paga durante o período contributivo – só recebe!
Na função
pública, a CGA tem sempre o desconto todos os meses, haja doença ou não. E em
caso de doença, não é a CGA que suporta o encargo!
Vendo as
coisas deste prisma, colocam-se as seguintes questões:
1.
Como é possível dizer-se que a CGA não tem
dinheiro para pagar as reformas?
2.
Como é possível haver mais dinheiro para as
reformas da Segurança Social do que na CGA?
3.
No caso das reformas na Segurança Social, os 40
anos exigidos são de descontos efectivos ou apenas 40 anos após o início da
actividade laboral?
Há qualquer coisa que não bate certo!
E, claramente, é o discurso político, encoberto pelo sindicalismo subserviente
do sistema, que finge nada ver.
É que na função pública os 40 anos de
descontos são contados dia-a-dia! E, no limite, pode suceder que os 40 anos do
privado correspondam apenas a 20 ou 25 anos de descontos efectivos.
Não era por acaso que até há poucos
anos os funcionários públicos podiam reformar-se após 36 anos de serviço
efectivo. Se a mesma regra se aplicasse ao privado, muitos só se reformariam 40
ou 50 anos depois de iniciarem a actividade contributiva.
Senhor Ministro, a haver discriminação
positiva entre estes dois sectores, ela teria de pender para o lado dos
funcionários públicos.
2 comentários:
Esta classe política, incluindo os sindicalistas, apenas pretende perpetuar-se no poder, espezinhando o Povo.
O Arménio Carlos, presidente da CGTP veio para a televisão falar que o novo sistema não abrangeria os trabalhadores com 40 anos de serviço mas que não tivessem completado 60 anos. Mas não falou na enormidade do corte - 6% ao ano!
Como se alguma vez um trabalhador com 58 ou 59 anos e com 40 anos de serviço, fosse pedir a reforma antecipada com um corte de 44,5% ou 50,5%,que é o que o novo regime ainda consagra!
Mais uma com que o Costa enr..ou os parceiros geringonceiros do PC e BE.
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