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quinta-feira, 22 de julho de 2021

 


ESTÓRIAS 


JUVENAL XAVIER                                                                                  





GOLO DO FUTEBOL

NAS REDES DA POLÍTICA



 

Se a política é o que fazem em coro os políticos. Se o que parece é (por mais que não seja), nem sempre o futebol é o que falam, nos mass media, as elites dirigentes. Elites ou, tão-somente, vulgares e esqueléticas sombras delas que, meramente, com a ostentação da autoridade do dinheiro, rubricam à pressa, num fino traço ilegível, falsas promessas, contratos com linhas em branco e influências comprometedoras. 


“Futebol e política”, para o jornalista António Ribeiro Ferreira, “são duas actividades que os anos e as vicissitudes aproximaram nas mentiras e nas verdades.” Já António da Silva Costa, primeiro Professor Catedrático da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, deduz: “Se a política e o desporto são fenómenos idênticos, os actores desempenham também papéis semelhantes. Os objectivos também são os mesmos: conquistar a vitória para a equipa e conseguir a melhor classificação na hierarquia política ou desportiva e aí se manter o mais tempo possível.” Mas não se fica por aqui o autor de À Volta do Estádio: “Se o futebol e a política têm tais afinidades, os futebolistas e os políticos são actores em jogos idênticos, artistas em espectáculos semelhantes e a lógica da sua estratégia rege-se pelos mesmos princípios, sendo também idênticos os objectivos que perseguem.” A propósito de outra velha cantiga, a da trilogia futebol, dinheiro e votos, José Queirós escreveu há muito, no jornal Público, que “os clubes de futebol, especialmente os de maior dimensão, têm poder e influência a mais.” No seu conjunto, absorvem recursos públicos totalmente desproporcionados à utilidade da sua função social.” 

Rahul Kumar, professor universitário, com uma tese de doutoramento sobre A pureza perdida do desportofutebol no Estado Novo, nota que "os clubes desportivos tornaram-se num dos patamares de acesso a determinado tipo de cargos políticos e um espaço de lutas políticas.” No livro Futebol Português – Política, Género e Movimento (coordenação de Nina Clara Tiesler e Nuno Domingos), Kumar, investigador na área da sociologia, é de opinião que “O discurso de determinadas elites do campo cultural e político não parecia, mesmo neste contexto, encontrar correspondência nas opções político-ideológicas de alguns partidos.”  

Nas legislativas de 1982, João Rocha, presidente do Sporting, tentou impedir que Jordão apoiasse a Aliança Democrática (AD). Manuel Fernandes e Chalana apoiaram a Aliança Povo Unido (APU) e Toni o PS. O madeirense Olavo, ex-jogador do Marítimo, depois de arrumar as botas, foi deputado na Assembleia da República, pelo PSD, na IV Legislatura, em 1985. Em Abril de 1999, quando terminou a negociação da “Agenda 2000”: por uma Europa mais forte e alargada, o primeiro-ministro, António Guterres, encontrou no futebol a forma de explicar ao país o que considerou um êxito. Disse que Portugal marcara um golo. 

É certo que a visão mundial do futebol deslumbra o adepto dos dias a fio, mas é fundamental, no mínimo, orientar um diálogo analítico em contraponto ao sintético que apele à compreensão, mas à margem de um egocentrismo que se confunde entre o subjetivo e o objetivo; entre o real e o imaginário; entre a vitória e a derrota; entre a baliza e a urna de voto. 

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