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sexta-feira, 9 de julho de 2021

 

ESTÓRIAS 


JUVENAL XAVIER                                                                                  





OLHAR PARA TRÁS

NÃO É CAMINHO  



Não vemos tudo ou vemos nada quando olhamos por olhar à volta de nós. Perdem-se bocados de vida ou de vidas que nos escaparam sem um porquê. Momentos que passaram sem nos tocar e não se repetem a não ser que o destino nos leve ao encontro dos encontros perdidos. Olhar para trás não é caminho; é o refúgio de velhas ilusões que queimam a pele. Assim, talvez os dias de hoje e de ontem não se vivam só uma vez e ganhem formas diferentes. Isso, porventura, briga com a teoria do pré-socrático e pai da dialética, Heráclito de Éfeso, assente no facto de não nos podermos banhar duas vezes na mesma água do mesmo rio. E a propósito da água que enche o mar, Pablo Neruda, Nobel de Literatura em 1971, pergunta: “Se todos os rios são doces, de onde o mar tira o sal?” 

O carteiro, esse, toca sempre duas vezes. E, prontamente, vem-nos à memória o filme do norte-americano Bob Rafelson que, em 1981, adaptou o romance The Postman Always Rings Twice, de James Mallahan Cain, protagonizado por Jack Nicholson – o ator dos sete Globos de Ouro.  

Mas quantas vezes, por segundos apenas, já não chegamos a tempo do carteiro? E quantas a tempo de apanhar o tempo que nos desespera por não esperar, nem nunca regressar. Fica-nos o horizonte, esse lugar da imaginação, que não se pode tocar. E, continuamente, fica mais longe, fugindo, quando nos julgamos tão perto. 

Benjamin Disraeli (1804-1881), primeiro-ministro do Reino Unido, pensava, e bem, que “a vida é demasiado curta para ser pequena.” É o elogio puro! Foi assim? Morreu a 19 de abril, com 76 anos, depois da rainha Vitória lhe ter dado o título de Conde. 

Na vida, descobre-se, por tão tarde que seja, que não há nunca nem sempre, mas fica o forte amargo pelos caminhos das memórias que não tivemos a felicidade de andar. 

Deixo no ar a inquietação do escritor inglês Aldous Huxley, autor do romance Admirável Mundo Novo: “E se este mundo for o inferno de outro planeta?” 

2 comentários:

Luísa disse...

Uma interessante e perturbante reflexão sobre o tempo e a forma como o vivenciamos. Parabéns

Unknown disse...

Olhar para trás nunca! Apenas rápido pelo espelho retrovisor para orientar a marcha em frente...
Mas se tivéssemos o dom de poder voltar atrás, certamente preencher- íamos as nossas veredas e caminhos abandonados com cores alegres, com vozes e com risos de outro matiz! Bom assim! O passado fica no passado!...