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sexta-feira, 4 de outubro de 2013



"O mundo não acaba com esta histórica derrota do PSD, a vida continua e a oposição, que tem hoje, no seu conjunto, mais votos do que o PSD, mostrou, em especial o PS, que consegue ganhar eleições."


OS VENTOS DA MUDANÇA







Emanuel Bento
- Assessor de imprensa do PS-Madeira

Isto não há como começar curto e grosso: os resultados de 29 de Setembro foram uma hecatombe para o PSD, com Alberto João Jardim, porque de 11 passou para quatro, e José Manuel Rodrigues, pelos 14% que teve no Funchal, tendo ficado em “empate técnico” com a CDU, um vereador, o que nada é para quem se arma em candidato ao Governo Regional,  os grandes derrotados,  enquanto os grandes vencedores destas eleições foram o PS e o seu presidente, Victor Freitas, que soube, como ninguém, ler os ventos da História e sempre acreditou que estes resultados iriam acontecer e não só lançou o repto para a coligação Mudança como foi também o primeiro a dar apoio político e público a Santa Cruz e São Vicente, e Paulo Cafôfo, o candidato, que se revelou perfeito para uma conjuntura nunca antes tida, e que será um bom presidente da Câmara Municipal do Funchal, desde que o deixem trabalhar,  que disso não haja dúvidas.
Se é verdade que a mais surpreendente das derrotas eleitorais foi a perda de Santana, que, honestamente, ninguém esperava, excepto talvez Teófilo Cunha, que tem feito um excelente trabalho naquele concelho, tendo tudo começado, publicamente, com a pequena junta que ganhou há quatro anos, a derrota do PSD, no Funchal, que também pouca gente esperava, ainda que muitos a desejassem, foi, sem qualquer sombra de dúvida, a mais importante. É a capital da Região. No Funchal vive e trabalha meia ilha da Madeira. E sempre disse e reafirmo que, depois de Presidente do Governo Regional, o cargo mais importante, mais visível e que mais chega às pessoas, é do Presidente da Câmara Municipal do Funchal, isto para não falar do poder efectivo que esta autarquia tem, porque mexe mesmo muito com muita coisa e muita gente.
Também não são de somenos as derrotas em Santa Cruz, Machico e Porto Santo. Nos dois primeiros casos pela importância que têm enquanto municípios com muitos eleitores/habitantes; no terceiro por ser a perda de uma ilha, por mais pequena que seja.
Com estas derrotas esperava-se uma revolução no PSD mas tal não aconteceu. Tudo continua igual ou até pior ficou. Alberto João Jardim não assume que esta hecatombe é resultado da sua eterna permanência na presidência do partido e do Governo Regional, dos exageros cometidos durante anos, dos insultos, da arrogância e prepotência, da dívida oculta e da austeridade, de tudo isto e de muito mais que não é democrático. A democracia é sobretudo o respeito pelas opiniões dos outros e a transparência, a boa gestão, o humanismo, não é encher o bandulho.
Depois das eleições ouvi muita gente comum dizer que para a próxima seria ainda muito pior se ele insistisse em ficar à frente do partido. Creio bem que se Miguel Albuquerque tivesse ganho as eleições internas, em 2012, o cenário teria sido bem diferente e a oposição, nisto incluindo os independentes, que seriam apenas os de Santa Cruz, não teria ganho mais do que uma ou duas câmaras. Mas ainda bem que assim aconteceu. E melhor ainda que a estratégia de Miguel Albuquerque – a quem nunca elevei à santidade e também foi, mais do que muitas vezes, conivente com tudo o que de muito mau foi acontecendo todos estes anos  -  para chegar à presidência do Governo Regional levou um rombo, porque o mapa político da ilha mudou radicalmente.
 A oposição tem hoje possibilidades como nunca antes teve de ancorar eleitorado por ter poder efectivo. É que não falamos de uma ou outra junta, como antes sempre lá ia aparecendo, falamos de sete autarquias, com poder real e concreto, que deixam de estar na mão do PSD, agora, por mais que diga o contrário, reduzido a pouco mais de meia “Rodoeste” (Câmara de Lobos/Ribeira Brava/Ponta de Sol/Calheta), que a outra parte pertence agora ao PS (Porto Moniz) e aos “Independentes” (São Vicente). Há até quem, ironicamente, diga que ficaram com o “Afaquistão” (Avelino Faria e Agrela).
Mas agora, embora ainda em ressaca eleitoral, ganhadora para uns e perdedora para outros, uma das questões pertinentes que se coloca e que pode ser sintetizada pelas palavras do grande poeta da língua portuguesa Carlos Drummond e Andrade é esta: E agora José?! Pois bem. Antes de mais primeiro que tudo tem toda a oposição que perceber que o poder traz uma grande responsabilidade e que obriga a uma liturgia e discurso próprio. Estar na oposição e estar no poder não é a mesma coisa. Ademais, esta vitória história não pode ser circunscrita a apenas um voto de protesto. É também um voto de mudança e esperança e as pessoas têm muitas expectativas e não podem ser defraudadas. É preciso (re)humanizar e reeducar a práxis política na Região, que tem de ser elevada,  e os políticos estão para servir as pessoas e não os seus interesses nem os interesses de certos lobies. Não podem de modo algum ser iguais aos que sempre criticaram. Que isto fique bem claro ou toda esta mudança que sempre se sonhou e está a começar cedo morrerá.

Também no ar está, por mais prematuro possa parecer atendendo que a poeira ainda não assentou,  a possibilidade de  eventuais coligações para umas Regionais, já que o projecto no Funchal funcionou bem mesmo sem ter o CDS e o PCP. O que é certo é que o mundo não acaba com esta histórica derrota do PSD, a vida continua e a oposição, que tem hoje, no seu conjunto, mais votos do que o PSD, mostrou, em especial o PS, que consegue ganhar eleições, tem quadros competentes e capazes, acabando tudo isto numa melhor respiração para todos nós, ainda que, como tudo na vida, a incerteza e o fracasso sejam uma realidade constante e sempre possíveis de acontecer. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Eis, mais uma prova de que o ex Presidente do governo Regional da Madeira tinha razão, sobre alguns jornalistas engajados que trabalharam no Diário de Notícias da Madeira... Jornalismo independente, pois. O tempo lhe deu razão. No fundo todos querem o mesmo, um bom tacho.