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segunda-feira, 14 de outubro de 2013

ORÇAMENTO


DOMINGOS SEM FUTEBOL

Um perigo! Pelo menos enquanto durar este governo...



Temos mais confiança nos pés de Cardoso do que na cabeça de Portas




Sempre detestámos chegar ao domingo sabendo que a bola não vai saltitar, como aconteceu neste último. Ontem jogaram os aguerridos Marítimo B, União e Camacha, é verdade, mas referimo-nos principalmente à mais alta competição, aquela que nos enche as lacunas do cérebro com relatos e rondas para tempos e resultados, gritos de golo, penaltis forçados, foras-de-jogo inexistentes, enfim, os 'roubos de igreja' próprios do sistema.
Mesmo quando o campeonato, já perto do Verão, dá os últimos suspiros, com os jogadores a se arrastarem em campo à espera de férias e os jornais denunciam nos títulos aquele maçador futebol de fim de estação, mesmo aí tememos o vácuo das semanas seguintes.
Podemos estar saturados de jogos sem músculo nem criatividade. Mas, no primeiro domingo de defeso, apesar de na praia ouvirmos falar em transferências milionárias, é fatal aquela nostalgia teimosa das primeiras horas da tarde sem os cachecóis e as camisolas garridas do Glorioso polvilhando ruas da cidade e arredores do Estádio.
Mesmo que não possamos comparecer nos Barreiros ou sequer assistir pela TV ao Real e ao Barça, mais à noite, é importante sabermos que há festa desportiva no relvado à nossa disposição e que, a um simples clique, temos livre de Ronaldo e drible de Messi.

Pois muito mais valor demos ao futebol domingueiro ontem à tarde, sempre que víamos na TV um repórter a 'encher chouriço' à entrada do edifício onde corria o conselho de ministros extraordinário. Os 'roubos de igreja' que não se estariam a planear naquele salão para esvaziar o resto do bolso aos portugueses! 
Se era! Boa razão para preferimos ver o Olegário Benquerença anular um golo limpo, a tomar conhecimento de nova patifaria da ministra das Finanças no Orçamento do Estado - aliás feito à carreira no conselho extra. Naquele caso, Olegário arrisca-se a ficar uns tempos sem pegar no apito. Neste, a ministra ainda recebe elogios da Troika, porque ninguém avança com moções de censura estando o erário como está. 

Nos domingos de futebol, a malta chateia-se de ouvir as desculpas esfarrapadas do Jesus na zona mista, para justificar outra tarde negra das Águias. Mas, dois dias depois, a péssima exibição e a lengalenga estão esquecidas e debruçamo-nos sobre as opções do treinador para o jogo seguinte. 
Já nos domingos de conselho de ministros, esperamos pelo 'flash interview' a cargo do endiabrado Paulo Portas, ladeado pelos adjuntos Mota Soares e Maria Luís Albuquerque, e o que vamos ouvir é o anúncio de novos cortes nas reformas de sobrevivência, grave antecedente para cortar a direito nos beneficiários do sistema contributivo, aquele para o qual a vítima se fartou de descontar a p... da vida toda. Dois dias depois, o inchaço não passou, pelo contrário, vai é perpetuar-se para desgraçar o resto da vida dos velhotes.

Nos domingos de futebol, Pinto da Costa baralha os adeptos e consegue transformar um árbitro decente num Al Capone, porém sem consequências para o diâmetro da Terra. 
Nos domingos de orçamento de Estado, Portas mistura subtilmente essas pensões contributivas com pensões assistenciais, e o resultado é Zé Povo habituar-se à ideia de que ou há democracia ou comem todos. E não pia.

No caso em apreço, lembremos que o pior não está no corte das pensões de sobrevivência, mas aquilo que o governo esconde enquanto nos distrai com esses cortes "que afinal não são tão graves como a fuga de informação dizia".

Ainda bem que a temporada mal começou e teremos muitos domingos de futebol para distrair - enquanto Passos e Portas ora cortam nas pensões gerais e vencimentos da Função Pública, ora aumentam impostos - quando não ambas as medidas em simultâneo. 
Assim, até nós governamos aquela faixa ocidental de Espanha e respectivas adjacências insulares.
Por outro lado, é muito mais inofensivo assistir àqueles debates televisivos sobre a jornada, em que gastam meia hora de TV em torno das imagens de um fora-de-jogo que passou em claro, do que apanhar com as interpretações nuas e cruas de Marcelo e Sócrates sobre o que a malandragem executiva faz à remuneração do nosso trabalho.

O Leitor corrige-nos: homem, se o governo abusar no Orçamento, se Portas nos tramar com mais cortes fora-da-lei, podemos 'protestar o jogo', recorrendo ao Tribunal Constitucional.
E tem razão. 
Assim como é certo que o TC já chumbou ideias baixas daqueles cavalheiros. 
Mas, como se sabe, o governo tem sempre um plano B para chegar ao défice que a Troika exige. 
...E não são Passos, Portas e Maria Luís Albuquerque a pagar.
Que tal obrigar os ministros a irem à missa - ou ao futebol - nos domingos de Outono?

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