JARDIM MATA ESPERANÇAS
DE ANTECIPAÇÃO DO CONGRESSO
Mais uma ronda para 'ouvir' as bases concordarem com o chefe. |
O plano é sequela. Quando perder as 'europeias' de 2014, o chefe dirá que eram eleições nacionais da responsabilidade de Passos Coelho. Depois convoca uma comissão política para ouvir os 'críticos' internos ilibarem o chefe de culpas. Então, completa o episódio com uma ronda pelas freguesias a ouvir as bases 'exigirem' a sua continuidade à frente dos destinos do partido. Para já, preparou os militantes para não contarem com congresso antecipado.
Se Jardim se meteu no carro com Jaime Ramos para durante esta semana reunir com militantes de várias freguesias do Funchal e das zonas rurais não foi para desenvolver dramáticas análises a eleições que já estão perdidas. O chefe não é de gastar tempo a chorar 'sobre o leite derramado', como se sabe. Até porque, para ele, nunca há derrotas nem motivos para chorar. É verdade que as eleições autárquicas provocaram o rombo de que o PSD-M não precisava nesta altura de convulsão interna. Mas os objectivos de Jardim não podem ser barrados por meros acidentes de percurso como o de 29 de Setembro.
Quantas vezes, ao longo destas 3 décadas, ele rapou do estratagema de "ouvir as bases" para depois impor o plano que tinha em mente? É que, naquele partido, "ouvir as bases" consiste em cercar os militantes e fazê-los dizer "sim senhor" às propostas do chefe.
Quem não se lembra dos famosos cenários que o chefe levou, com esquemas e tudo, para os militantes escolherem aquele que indicava a continuidade do chefe na liderança do partido e do governo, em 2000?
Ele, nas regionais de 1996, várias vezes puxou das suas conhecidas 'lágrimas de crocodilo' em comícios eleitorais para que a população o reelegesse para mais um derradeiro e irrevogável mandato, a troco de se ir embora em 2000. Chegado a 2000, lembrou-se então de montar os cenários de A a D, fazendo os militantes escolher, diante de si, aquele que o perpetuava nas Angústias.
Qual congresso extraordinário?
E desta vez?
Já desconfiávamos. Na comissão política de há dias, primeiro encontro entre 'barões' depois do descalabro eleitoral, Jardim apresentou-se macio e até reconheceu alguma lógica nas ideias que lá surgiram a defender a antecipação das eleições internas e do congresso. Os comissários admiraram-se com a receptividade do chefe a uma proposta que significava ele ir-se embora em Setembro de 2014 em vez de ficar até Janeiro de 2015.
Já desconfiávamos. Na comissão política de há dias, primeiro encontro entre 'barões' depois do descalabro eleitoral, Jardim apresentou-se macio e até reconheceu alguma lógica nas ideias que lá surgiram a defender a antecipação das eleições internas e do congresso. Os comissários admiraram-se com a receptividade do chefe a uma proposta que significava ele ir-se embora em Setembro de 2014 em vez de ficar até Janeiro de 2015.
Desde então, quase se banalizou a ideia de que o congresso do PSD-M seria puxado para o Verão, conforme desejo do candidato assumido à liderança Miguel Albuquerque e de Miguel de Sousa, outro candidato - aquele que, em comissão política, fez o líder dar o 'sim' à proposta, já que, em seu entender, o futuro presidente deveria ser o autor do Orçamento da Região para 2015. De tal modo que Miguel de Sousa declarou publicamente, ao jornal i, que estava seguro da antecipação do congresso e que Jardim lhe tinha confirmado a decisão.
Ficava uma dúvida no ar. Apesar de, no decurso daquela reunião, Jardim ter feito a cedência, reconhecendo-lhe todo o sentido, minutos depois, debaixo dos holofotes da comunicação social, garantia que a data do congresso - Janeiro de 2015 - não seria alterada.
Não quis abrir o jogo em público, julgaram os seus companheiros de comissão política.
Mas os dias foram passando, Jardim viajou à Europa, e, de regresso, foi despertado por um alarme qualquer que o levou a querer vincular os militantes aos seus desígnios. Com Jaime ao lado, lá foi o chefe por essas freguesias dentro, não com cenários e croquis de A a D, mas com o seu poder de persuasão, a tocar os sinos de aviso ante as bases. Ora, como antecipar o congresso - foi dizendo aos militantes - e deixar o futuro presidente, sem experiência nenhuma, fazer um Orçamento para governar a Madeira no ano seguinte?!
Pronto. La dentro do partido, pelo menos entre os militantes de base, está tudo consciente de que Jardim já não vai permitir a sucessão no Verão de 2014. Será em Dezembro-Janeiro seguintes.
Há outro aspecto a considerar: Jardim vai recandidatar-se? Ou, como já prometeu, mandará Manuel António Correia enfrentar Miguel Albuquerque, com Miguel de Sousa e Cunha e Silva no meio da refrega?
Barões acham que o "ditador" quer rebentar o partido para continuar ao leme na tormenta
Há desespero entre as cabeças pensantes do PSD-Madeira. Mesmo quem apostava no abandono voluntário do chefe confessa perceber que ele nunca sairá de livre vontade. O seu comportamento nos últimos tempos, com agravamento pós-eleitoral, é de quem tudo faz para tornar o partido num inferno total cuja salvação apenas esteja ao alcance do eterno líder.
"Esta de o governo regional não aparecer à tomada de posse das câmaras não social-democratas só tem um objectivo, que é aumentar o ódio que a população já tem ao PSD", diz-nos um barão importante da Rua dos Netos. "É uma atitude própria de um ditador que não tem qualquer consideração pela vontade das pessoas."
Jardim sempre criticou Mota Amaral em termos de sucessão, acusando-o de não saber preparar convenientemente o futuro do PSD-Açores. Arrematava essas críticas anunciando que, na Madeira, seria diferente.
Pois chegada que é a hora comummente considerada como do adeus a Jardim - menos por ele -, o partido está num caos e sem transição normal à vista.
"Se ele está a preparar a sucessão é para passar o poder aos outros partidos, não aos sucessores do PSD", ataca o mesmo barão, profundamente desiludido com a teimosia do chefe em se perpetuar no comando. "Quando chegar a hora dos candidatos do PSD, o partido não se aguenta de pé", teme.
Como outros social-democratas que se afastam gradualmente do chefe, o nosso interlocutor receia o pior. Jardim - considera - procura claramente o caos. Para que um dia possa dizer que só ele pode "unir" o partido. Mas se realmente quer voltar a candidatar-se à liderança - insurge-se o barão que nos fala - "ele será corrido pelas bases do partido".
E se, por acaso, Jardim se candidatar mesmo e, por um milagre qualquer, vencer os adversários internos?
"Então, será muito pior", calcula o dirigente social-democrata - "Num caso desses, ele seria corrido pelo povo, porque nunca mais ganha eleições, nem regionais nem outras. Seria pior porque, com ele, desapareceria o próprio PSD."
"Ele matou a esperança de o PSD continuar a ser poder na Madeira"
O panorama na desavinda família laranja está muito feio. São os próprios dirigentes do PSD, antigos indefectíveis de Jardim, com atitudes por vezes fanáticas em defesa do chefe e do regime, a desesperar. "Ele está a destruir tudo por dentro para tornar a sucessão impossível, não vejo outra explicação", dizem-nos. Com esta nota de desencanto: "Nesta altura, penso que ele já matou a esperança de o PSD continuar a ser poder na Madeira. O partido já agoniza e não dura muito mais tempo, o pouco que resta vai implodir."
Jardim argumenta junto dos militantes que o "novo presidente", se fosse eleito no Verão do próximo ano, não seria capaz de fazer um Orçamento em condições para 2015. Mas também devia achar estranho que esse "novo presidente", a ser eleito em Dezembro-Janeiro, governe 9 meses com um orçamento feito pela equipa anterior, a de Jardim.
Uma charada particularmente complexa. Cuja solução - não nos cansamos de dizer - mostrará nova candidatura de Jardim à sua própria sucessão.
A seu ver, ninguém no partido lhe atribui a menor responsabilidade na derrota eleitoral de 29. Ele mesmo, na reportagem que fez para o JM sobre a reunião da comissão política (estamos a falar a sério), pôs em evidência que os membros presentes esclareceram que os resultados eleitorais não colocavam o líder em causa.
Apesar da idade e da exigência de cuidados médicos redobrados, como é natural, Jardim não abdica do poder. Inclusivamente, já guarda um trunfo para encostar à parede o seu anunciado 'delfim' Manuel António, se for preciso muito para o afastar do caminho. Aquele jantar de lapas em São Vicente, com a presença dos 'Unidos', dissidentes do PSD, foi um presente importante para o chefe. O chefe não perdoa, quando cheira a traição. E, se há traições que dão jeito, essa é uma delas.
Jardim entre 3 fogos
A vida futura do eterno líder não se afigura fácil, em todo o caso. Ele está entre 3 fogos: Miguel Albuquerque (Miguel de Sousa e Cunha e Silva só avançam se Jardim não avançar); a oposição, que acaba de ganhar simpatias na população em geral; e o cansaço de quase 40 anos de guerras.
O ideal seria fugir a Miguel Albuquerque, já que, em eleições directas, e por mais militantes que Manuel António tenha angariado para votar, o chefe não terá hipóteses de triunfar. Resta-lhe ir a eleições regionais, na esperança, achamos que inútil, de que um último fôlego ainda lhe valha a confiança popular. Mas como ir às regionais de 2015, quando há Albuquerque e um congresso no caminho? Talvez fazendo cair o seu actual governo, como já equacionámos aqui. Quando o PSD fosse convidado a escolher outro presidente de governo, era forçar a barra e a convocação de eleições antecipadas. Como não haveria tempo para fazer congressos, concorria o actual líder.
Esta, porém, é a ilusão mais alucinada que alguma vez o chefe poderia alimentar. Se não o sabe, pior para ele.
Nem sequer internamente consegue apoios. Está incompatibilizado com a Madeira inteira. O partido cada vez mais 'encarquilhado', com expulsões atrás de expulsões. Atitudes do chefe que o isolam crescentemente - a última delas a não comparência do governo regional nas tomadas de posse das câmaras de outras cores.
O seu governo já nada governa. Os secretários não têm trabalho para fazer, porque as decisões vêm de Lisboa. O que significa perda total da Autonomia. Ninguém fia um prego a este governo.
Vem um ano com menos 69 milhões a circular na depauperada economia madeirense, dados os cortes produzidos pelo OE.
O Funchal continua feito num estaleiro feio, irritando a população, por exclusiva culpa do próprio Jardim.
No próximo ano, o chefe será alvo de uma adversa e intensa campanha no partido, às mãos de Miguel Albuquerque.
Nesse contexto, deparar-se-á com umas eleições europeias em que somará nova derrota na Madeira - e mais clara ainda do que nas autárquicas. Essas europeias poderiam constituir uma boa saída para o chefe, uma vez que, se convencesse Passos Coelho a metê-lo em lugar elegível, poderia sentar-se no Parlamento Europeu a seguir de longe as peripécias políticas na Madeira. Mas, com ele na lista, os resultados na Região seriam à volta do humilhante, para o PSD.
Jardim chegará todo torcido ao fim de 2014, altura das eleições internas, faça como fizer. É que, para mais ajudas, lidará com uma oposição moralizada, finalmente nas graças do eleitorado. E que, se o não hostilizar como faria em circunstâncias normais, é porque, nesta altura da novela, a oposição prefere enfrentar nas urnas o chefe social-democrata Jardim. Miguel Albuquerque é mais perigoso eleitoralmente.
Emaranhado de interesses e ambições
Um emaranhado de interesses, ambições e projectos, rivalidades e ódios - a condicionar indivíduos, partidos e movimentos independentes numa fase crucial da vida madeirenses. Tudo isso com Jardim no papel do cliente indesejável que recusa sair do estabelecimento sem tomar mais um copo para a estrada, e mais um e mais outro, alegando que fez despesa, que não deve nada à casa e que não está embriagado, nem ofendeu ninguém.
Recapitulando, e em suma:
Como se estivesse nesse estabelecimento a divertir-se, ele recusa deixar o poder porque não sabe o que encontrará lá fora, e perdeu o sentido do caminho para casa.
Se não se impuserem razões alheias à sua vontade, ele defenderá o lugar de líder com todas as forças e através de todos os processos a que puder deitar mão.
O delfim Miguel de Sousa sempre disse que nunca se candidataria se o chefe o fizesse também. Desta vez, acaba de confessar publicamente que gostaria de ser presidente da Madeira e que Jardim lhe garantiu estar disponível para promover a antecipação do congresso para fins do Verão 2014, a fim de permitir ao sucessor tratar já do Orçamento seguinte. Como vimos, Jardim tornou a mudar de opinião e anda pelas freguesias a mentalizar os militantes que ainda o ouvem para as inconveniências que vê na mudança de data do congresso.
Portanto, dissipa-se o sonho de Miguel de Sousa de avançar para o combate interno após as europeias do ano que vem.
O mesmo acontece com João Cunha e Silva, o vice do governo que também não avançará com a sua candidatura se for para encontrar Jardim no caminho. Terá de prolongar os recatados almoços mobilizadores das suas hostes guerreiras por tempo indeterminado.
Manuel António Correia deve ter percebido que é usado pelo chefe para empatar e condicionar os outros pretendentes. Aliás, o chefe já terá confidenciado que depois, na altura de se definirem candidaturas, saberá 'tratar' dele, isto é, de o convencer a esperar o tempo necessário para o chefe reunificar o partido - a conversa do costume. Em último caso, rebusca o jantar de lapas com os inimigos nortenhos e passa-o para o lote dos ressabiados.
Para que Manuel António comece a ler melhor a situação, os crânios que trabalham com Jardim já raramente metem a fotografia do secretário do Ambiente no 'quadro de honra' do partido, isto é, na 1.ª página do JM.
Quanto a Miguel Albuquerque, joga de cartas à vista. Exige antecipação do congresso por todas as razões e mais uma, como declarou na conferência de imprensa depois das negras autárquicas. Mas a sua pretensão, como também se sabe, está presa de uma artifício estatutário. As regras do PSD-M dão toda a liberdade para o militante exigir um congresso extraordinário electivo, desde que reúna 300 assinaturas. Mais democrático, não existe. Só que há um pormenor a levar em conta: Jardim é que decide se há razões legítimas para, usando o manietado conselho regional, permitir ou negar o congresso extra.
Da democracia à ditadura é um pequeno passo.
Nas europeias, vira o disco e toca o mesmo
Muitas coisas mudarão dentro do PSD-M nos próximos meses - nas próximas semanas. Mas, vendo-se que os dirigentes do PSD (que nada dirigem) comparecem numa reunião da comissão política regional, depois de uma histórica derrocada eleitoral autárquica, para ilibarem o chefe de culpas, quando aquilo que deveriam fazer era censurar o líder por não se ter demitido na noite eleitoral e daí proporem a sua imediata saída - vendo-se que a subserviência interna persiste, é legítimo admitir-se repetição do episódio após o fatal desaire nas europeias de 2014.
Isto é, que a situação entre os social-democratas se arrastará por mais algum tempo, ao ritmo de Jardim.
Miguel Albuquerque e os outros potenciais candidatos estrebucham perante a inevitabilidade imposta pelas armadilhas estatutárias. Quando o cenário político regional acaba de sofrer uma reviravolta decisiva, com a primeira grande derrota do PSD, que pela primeira vez caiu na própria capital, aos delfins interessa pegarem no partido antes que as oposições atinjam a velocidade de cruzeiro rumo à vitória nas regionais. Os delfins têm pressa no processo em curso, para porem termo ao definhar do partido e não deixarem crescer os adversários, em resumo.
Curiosamente, a oposição também tem pressa. Supostamente, interessa-lhe apanhar 'este' PSD nas eleições para o governo. Mais à vontade se sentirão a defrontar nas urnas o desgastadíssimo e cada vez menos popular Jardim do que um delfim pintado de fresco.
Está tudo nas mãos de Jardim. E na sua cabeça. Já falhou a preparação do futuro, do futuro do PSD sem o líder carismático. E agora vai falhar a própria saída que sonhou acontecer um dia em ombros, triunfal. Falhará se provocar a queda do governo, já que sairia enxovalhado concorrendo mais uma vez diante de uma oposição renovada e agora ganhadora. Falhará se deixar as coisas correrem até à data prefixada para as eleições internas (Dezembro 2014) e para o congresso (Janeiro 2015). Apresente um delfim em seu nome ou concorra ele mesmo, será corrido impiedosamente pelos militantes que o idolatraram durante quase 4 décadas.
E quem montou este cerco a Jardim, senão ele próprio?
5 comentários:
Ok. O AJJ que vá a eleições. O Cafofo vai no lugar do Vitor e ganha de novo. O UI ainda não percebeu que querem pô-lo a andar...Mesmo dentro do partido já não votam nele...
Caro Luís Calisto
Este seu texto está excelente. Porém, a salgalhada jardinista, nem por isso...
Chamar 24 "chefe" a quem é apenas "meio chefe" é atribuir-lhe 47 vezes mais a importância que ele realmente tem.
Tem toda a razão. Mas já não conseguimos inventar maneira de o chamar!
Isto esta de um jeito que nao ha mae de santo que se atreva a dar palpite, nem buzios ou cartas que ajudem a esclarecer esta situacao. O permanentemente desconfiado chefe, sempre apto a ouvir uma historieta de crise virtual desta vez tem de gerir uma crise real. A minha solidariedade, porem, vai, toda, para os madeirenses a quem, quanto mais tempo demorar a indefinicao, mais dificil sera a saida do inferno em que se transformou a vida na Madeira. Bem Haja Calisto pelas suas esclarecidas palavras neste blog. Jorge Figueira
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