INDEFINIÇÃO MUDA-SE
DO PSD-M PARA A OPOSIÇÃO
* Anúncio da candidatura de Victor Freitas, a dois anos das eleições, deve ter deixado em choque os coligados das autárquicas, a não ser que alta e insondável estratégia se prepare na Oposição
* Jardim tenta manter o PSD em cativeiro, mas em vão: a mudança interna chega em 2014, seja no Verão, seja em Dezembro
* O chefe laranja admite sair do PSD, o que não é novo: em tempos falou em fundar outro partido
* A Sérgio só falta libertar-se da comissão política do PSD
* Manuel António: enquanto não se demitir de secretário, não será visto como candidato
Jardim e Victor: estratégias desconcertantes
Jardim vai sábado ao conselho regional do PSD esclarecer que não sai antes de Dezembro do ano que vem e que o mesmo conselho regional deve chumbar qualquer pedido em contrário apresentado com 300 assinaturas. É o veterano chefe a tentar ganhar tempo para engenhar maneira de se prolongar mais uns anos na Rua dos Netos e na cadeira das Angústias.
Delírio de uma 'carta fora do baralho' que recusa perceber onde já vai o comboio.
Líder desde muito cedo, manteve 'amarrados curto' os presumíveis pretendentes à sua sucessão, a quem ainda hoje no JM apelidava de 'Judas'. Dominou-os nesta base: quem ocupa cargo público por nomeação ou indicação do chefe, não pode trair. João Cunha e Silva foi posto em vice do governo e Miguel de Sousa idem, antes de se perpetuar como vice no Parlamento. E por ali andaram, a sonhar com um delfinato que não existia.
Mas Miguel Albuquerque, também apadrinhado pelo chefe, a dado momento, e por capricho da política, começou a ganhar eleições no Funchal, o que lhe valeu o ciúme do chefe. Uma inveja soprada das Angústias para baixo que permitiu a Miguel demarcar-se da linha jardinista, na medida do possível.
E veio Sérgio Marques. Uma vez desconsiderado pelo chefe (europeias), outra vez enganado pelo chefe (vai para o governo, volta à Assembleia...) e novamente desconsiderado pelo chefe (na rocambolesca candidatura à Câmara do Funchal).
Caminho aberto para a libertação.
Se Manuel António Correia e Cunha e Silva continuam controlados, porque membros do governo de Jardim - como em tempos aconteceu com Paulo Fontes; se Miguel de Sousa continua atado ao lugar de vice no Parlamento; já Miguel Albuquerque e Sérgio Marques deram às asas assim que puderam.
Despedida 'amarfanhada'
Imagina-se o balde de água fria sobre Jardim ao saber que Sérgio se candidataria à sucessão! Não era apenas o 'traidor' Albuquerque a desafiá-lo? Também tu, Brutus? E o chefe ficou a pensar. A ruminar memórias. A maldizer os 'ingratos'. Então, puxa da caneta - isto há semana e meia - e sai um artigo de página inteira para o JM. Com a martirização do costume. A ameaça de que se sair do PSD - porque não está disposto a tanta vilania - há-de "continuar a lutar, em que circunstâncias for e na situação política" em que se encontrar.
Escreveu o artigo e pouco depois seguiu para novo percurso pela Europa - disseram-nos que desta vez começou pela Suiça. O seu texto foi enviado para o JM quarta-feira da passada semana, depois de ter recebido a notícia da boca de Sérgio. Mas a publicação foi hoje, segunda-feira. Talvez para marcar a semana e condicionar as mentes em vista ao conselho regional de sábado.
Houve um político inglês dos anos 60, por sinal conservador, que dizia: quando um político não sabe sair na hora certa e estrebucha agarrado ao cargo, acontece-lhe um fim pessoal trágico.
Jardim não vai ter um final político trágico. Já está a ter. E sabe que os seus velhos companheiros não querem outra coisa. São palavras suas no JM: "Os 'Judas' pretendem agora que [a minha saída] seja de uma maneira amarfanhada, esquecendo estes 35 anos".
Tanto esse 'amarfanhanço' já está a acontecer que os candidatos no terreno - e outros que possam aparecer - fazem as suas contas sem lhes passar pela cabeça encontrar o ainda chefe nas urnas em Dezembro de 2014. Miguel Albuquerque foi considerado por ele, Jardim, um "traidor" que lhe "espeta facas nas costas". Sérgio, ainda no JM, não escapa daquelas "personagens até agora sempre fiéis" a quem "também deu para uma certa irrequietude na praça pública, como a se procurarem posicionar para o futuro". Sérgio não é citado expressamente. Mas então a quem se dirige o chefe quando fala dos que estão a dar "uma imagem de implosão do antes poderosamente unido PSD regional, esses tristemente vomitando o fel da deslealdade imperdoável"?
Ou então andam-nos a contar histórias mal contadas e o dia do juízo final vai meter dilúvios e tsunamis naquele Laranjal.
Ou então andam-nos a contar histórias mal contadas e o dia do juízo final vai meter dilúvios e tsunamis naquele Laranjal.
A moral da história do artigo de Jardim parece a mesma de sempre: o PSD/M só sobrevive em unidade e, com tantos pretendentes, a unidade chama-se Jardim.
E se Jardim fizer cair o governo regional agora para ir ele outra vez a eleições, na esperança de vencer? E se ele for a votos nas eleições internas, contra tudo e contra todos?
Então, seria uma despedida ainda mais "amarfanhada", daquelas que não se desejam a ninguém.
Primeiro passo de Manuel António deve ser sair do governo
O conceito de unidade em Jardim consiste em deixá-lo solidamente no mando. Mas essa unidade só a pode pedir a Manuel António Correia, a Cunha e Silva e talvez a Miguel de Sousa.
Manuel António está impedido de avançar à vontade, sem a tutela habitual. Mas, sem se demitir do governo, acabará por desaparecer do lote de delfins, o que aliás já acontece em boa medida, perante as explosões de luz nos fenómenos Albuquerque e Sérgio. O secretário do Ambiente, se não se demitir para fazer o seu caminho autonomamente, continuará com o seu insípido dia-a-dia de entregar certificados a bordadeiras, visitar becos floridos e falar de milhões a que ninguém já liga a mínima.
João Cunha e Silva, a nosso ver, enfrenta uma situação mais difícil ainda, por causa do seu dilema. Se se demitir de vice do governo para tratar da candidatura, será acusado de abandonar um executivo cujo presidente vive alheado da realidade. Se continuar na Vice-Presidência, limita-se a ver avançar os sucessores assumidos, porque, conhecendo o chefe como conhece, sabe que ruiria o mundo se imitasse Sérgio e aparecesse nas Angústias com um projecto pessoal.
Miguel de Sousa, por seu lado, vive com a 'dívida' (na Madeira é assim que se pensa) do lugar no parlamento que provavelmente não teria sem Jardim. Porém percebe-se que resolveu mudar o rumo. Foi ele a propor, em plena comissão política, a antecipação da saída do chefe, apontando o congresso para o Verão de 2014. Com muitos anos na vida pública, incluindo na governação, apresenta pontos a elogiar e pontos a explorar, como é normal. Mas também ninguém nega que ali está um social-democrata dos mais preparados seja lá para que desafio for.
Sérgio na comissão política é situação insustentável
Na prática, o que interessa é que dois fortes candidatos se fizeram à estrada. A Sérgio faltará demitir-se - quer Jardim queira quer não queira - de membro da comissão política. Não faz sentido sentar-se, como candidato contra o jardinismo - Jardim/Manuel António -, no meio de elementos que têm de ser leais à situação que o mesmo Sérgio se propõe mudar. A sua presença na comissão é insustentável, sejamos rigorosos. Se faltassem 2 ou 3 meses para a prova final, vá lá. Mas falta mais de um ano. Como manter aquela convivência?
Sérgio Marques programou, como é próprio do seu estilo organizado, que percurso fazer e como proceder, nesta e nas outras matérias. Tal como Albuquerque, disparou-se na corrida, enquanto outros se prepararão para o fazer. É o que importa. O resto cheira a passado. Holofotes sobre os corredores, 'alea jacta est'.
A questão de o congresso ser no Verão ou em Dezembro já foi importante, porque os social-democratas precisam de evitar que os adversários externos se organizem. Mas deixou de ser importante. A Oposição acaba de ver mudada uma agenda que se encarava como a mais normal.
Victor volta as cartas e condiciona as soluções da Oposição
O mais surpreendente, de facto, acontece agora do lado da Oposição.
Quando se julgava ser unânime a importância de dar força ao fenómeno Cafôfo. Alargar o mais possível, no tempo e no espaço, a euforia 'Mudança', apesar de terminados os acordos em 29 de Setembro. Quando se previa o aproveitar do pânico nas hostes laranja, confessado em todo o lado, perante o perigo de um novo 'Cafôfo' para as regionais de 2015. Quando se vivia a expectativa do que iria fazer a Oposição, eis que Victor Freitas desfaz os tabus todos, anunciando-se candidato pelo Partido Socialista à presidência do governo regional.
Insondáveis, os desígnios do presidente do PS-M. Pelo menos ao nosso entendimento. Já nos sugeriram que Victor Freitas se auto-nomeou para demarcar terreno internamente no PS, tendo em vista o congresso de Dezembro. Não fosse aparecer alguma lista de pretendentes a uma mudança no partido. A equipa de Victor nunca manifestou grande confiança nas sensibilidades edenista e Jacinto Serrão. Daí...
Mas, dizemos nós, para demarcar terreno internamente, o que aliás não revela grande segurança, bastaria anunciar candidatura à liderança do PS.
Para mais, o líder de qualquer partido, uma vez em eleições, é candidato natural à chefia do governo - a menos que outra solução seja anunciada aos eleitores, atempadamente. É uma prática habitual noutras latitudes.
Se o líder é candidato natural, que estratégia levou Victor a reforçar publicamente esse princípio?
Obviamente, o chefe do PS-M sabe o que faz. Pode ser até que estabelecesse com parceiros de oposição um procedimento eleitoral acima da nossa imaginação. Porque, vista de fora, a sua iniciativa chega a parecer precipitada. Se pretendeu surpreender e fazer pensar, conseguiu aquilo que queria: ficámos todos a saber menos da sua estratégia.
Victor diz que se candidata, mas que fica aberto a coligações. Pergunta-se: a que propósito um pequeno partido integrará uma coligação já com um candidato a líder consumado, de outra cor?
Victor Freitas não terá feito aquilo que condenou em José Manuel Rodrigues, que se atirou 'a solo' nas autárquicas?
Sabemos que o líder socialista ansiava por uma aliança nas regionais que pudesse contar com o PP. Sabemos mesmo? Como se entende que Victor se proponha a si próprio como candidato ficando à espera que os outros lhe dêem sustentação? Logo José Manuel Rodrigues, que por enquanto é líder do maior partido da oposição, em termos parlamentares - lembram-se?
Pois, o PS intitula-se vencedor das autárquicas, e pode-se aceitar que sim, com um pouco de boa vontade e sem esmiuçar as circunstâncias de cada concelho onde as coisas correram bem.
Qual o peso eleitoral do PS-M, nesta altura? Calculávamos ver Victor Freitas ganhar o congresso de Dezembro e esperar pelas 'europeias' do ano que vem para uma 'sondagem real' às potencialidades do partido. Nessa altura, o PS-M beneficiará da onda que entretanto deve formar-se a favor dos socialistas nacionais - ou contra Passos/Portas, se preferirem - e então teria fundamentos e um ano e meio para trabalhar.
Afinal, apresentou-se já candidato. Se é estratagema para depois recuar e apoiar o tal novo 'Cafôfo', pois o 'andar para a frente e para trás' nunca resultou bem no plano da credibilidade.
Um pequeno partido pode apresentar-se com uma fortíssima equipa de candidatos
Estará tudo combinado com os futuros parceiros de uma hipotética coligação? Genial, talvez. Não na nossa interpretação do problema. Os adversários perfilados para irem à luta regional com a camisola do PSD não são as 'primas donnas' de que fala Jardim. São nomes sonantes ao nosso nível.
A nova situação na Oposição, decorrente do assomo de Victor, devia levar em conta um fenómeno muito em moda que já chegou à Madeira - com estrondo! O dos independentes. Mesmo os maiores partidos oposicionistas, PS e PP, deviam ter presente que uma coligação de partidos mais pequenos - ou mesmo um deles apenas - pode formar uma equipa de 'Cafôfos' capaz de fazer estragos numas regionais.
Não seria mal pensado tentarem perceber o processo que levou à extinção dos dois tubarões da política venezuelana dos anos 70 e 80, AD e Copei. Lembram-se da coligação de 15 ou 16 partidos que levaram Rafael Caldera à Presidência da República?
Primeira forma: os mistérios voltaram para o lado da Oposição
No momento actual, o interessante é que os dados são praticamente conhecidos dentro do PSD, apesar das tentativas do 'empata' Jardim. Com congresso mais mês, menos mês, em Junho, em Outubro ou em Dezembro, o jardinismo, pelo menos o jardinismo com Jardim, é uma letra vencida. Do lado da Oposição é que vemos a situação mais nebulosa, depois de Victor Freitas ter decidido condicionar todos, dentro e fora do seu partido.
Mas política sem sal e pimenta é uma tristeza.
5 comentários:
Gostaria que o Calisto perguntasse ao Albuquerque se o Jaime Ramos o apoia, todos sabemos quem são apoiantes de Sergio Marques que é uma candidatura que surgiu no Facebook e que conta com tada a sociedade civil e o militantesbase do partido quanto ao Miguel este tarda em desmentir se o Jaime o apoia ou nao! Esta duvida tem que ser desvendada porque se nao o Sergio vai capitalizar os votos TODOS!
As candidaturas internas do PSD-M dizem respeito apenas ao PSD-M, designadamente aos seus militantes. V. Exª diz (...todos sabemos quem são apoiantes de Sergio Marques...) Sabe mais do que eu que efetivamente não sei ( e sou militante de base do PSD-M).
Interesa o programa dos candidatos e não as figuras que os apoiam. Quero lá saber se o Jaime apoia o Miguel ou se apoia o Sérgio ( bem ... o Miguel de Sousa não apoia certamente)
Há movimentações nos partidos da oposipão. Atenção a dois partidos extra-parlamentares (um com história, onde a luta pela liderança está ao rubro, curiosamente sem que a distraída comunicação social pesque peva) que podem surpreender...
Se não sabe quem sao os apoiantes do Sergio vá ao Facebook agora os do Albuquerque ja não é de agora que se ouve falar, Jaime Ramos, Cunha e Silva, Henriques, Sousa os empresarios do regime! Se nao se desmarcar Sergio Ganha!
Já os apoiantes do Victor Freitas, é mais fácil de saber quem são: a namorada e dois irmãos. Nem o líder parlamentar do PS-M apoia-o.
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