LARANJAL

NÃO É CONVERSA FIADA:

ESTATUTOS PERMITEM MESMO

EXPULSÃO DE ALBUQUERQUE

Estatutos permitem expulsar quem desestabiliza. E quem decide se há desestabilização é Jardim. Mas, com legitimidade, alguns jardinistas perguntam-se se não será ele, chefe, o grande agitador do Laranjal.

Quem vive por dentro das questões disciplinares do PSD, aos níveis nacional e regional, aconselha vivamente Miguel Albuquerque a evitar o 'braço-de-ferro' com Jardim sobre a polémica da antecipação do congresso electivo.

A síntese das análises que pedimos a propósito das ameaças do actual líder, no passado sábado em pleno conselho regional, contém razões de preocupação para o ex-presidente da Câmara do Funchal.

Apresentar 300 assinaturas para pedir um congresso extraordinário constitui um direito inalienável de qualquer militante - como determinam os estatutos. Porém, no caso em apreço, é público que o conselho regional consolidou agora datas já antes determinadas em congresso. Jardim afirma que insistir na tecla da contestação significa desestabilizar o partido. Atitude - revelou ele - merecedora de pena máxima, a expulsão.

Especialistas em matéria estatutária assumem que se trata de uma situação nova no partido, mesmo ao nível nacional. Mas entendem ser obrigatório aceitar a proposta de antecipar o congresso, com as 300 assinaturas. Uma vez. Se o conselho rejeitar o pedido - e os estatutos, embora dúbios, parecem permitir essa rejeição -, e se acaso o pretendente voltar à carga com a exigência, então outra interpretação não pode ser feita se não a da desestabilização interna deliberada. 

Aqui, a comissão política regional apresentaria comunicação ao conselho de jurisdição e muito provavelmente Miguel Albuquerque seria corrido.

Pôr o ex-autarca do PSD para fora parece, aliás, uma ideia do chefe tendo em vista impedi-lo de ascender à liderança. A questão está em saber se Jardim assumirá o 'escândalo' que seria tal punição extrema a uma figura com vasto espaço político tanto no PSD-M como na Região.

A ter essa coragem, Jardim nem precisa que o seu rival interno teime no congresso antecipado. Basta pegar nas posições desassombradas do candidato, arrasadoras para a liderança do partido, e considerá-las passíveis de desestabilizar a vida interna dos social-democratas. 

Numa palavra, julgamos que, nesta fase, Jardim está sem força interna para se atrever a tal empreitada. Ele tem 'a faca e o queijo na mão' e dispõe de motivo para fazer queixa - as tais posições extremamente críticas de Albuquerque. Se o conselho de jurisdição pode considerar que a insistência num mecanismo estatutário como é a apresentação das 300 assinaturas constitui motivo para expulsão, usaria do mesmo critério se chamado a decidir sobre a sistemática e agressiva postura crítica do candidato.

Irá por aí?

Galileu Galilei é referência de Miguel de Sousa 

O antigo vice do governo quer congresso
antecipado, mas já disse o que tinha a dizer.

Com Jardim, todos os cuidados são poucos. Fraco ao sprint, ainda não desistiu da maratona que liderou muitos anos, embora cambaleie penosamente para a meta, como se vê.

Pois, com ele nunca se sabe. A não ser que nunca diz uma palavra por dizer, sem um determinado alcance. 

Sábado último, ameaçou com expulsões, por causa da data do congresso. 

Ele sabe que a votação do conselho regional que decidirá o vencedor do braço-de-ferro será segundo a sua vontade, por mais que Albuquerque se queixe da representatividade inexistente naquele órgão.

Logo, se Jardim ameaça...

Veja-se Miguel de Sousa, candidato ainda por anunciar formalmente - por achar que é demasiado cedo. O antigo vice do governo defendeu no conselho regional a antecipação do congresso - para o Verão, conforme fizera na comissão política regional tempos atrás. Reassumiu, pois, a sua posição sobre a matéria, que é diferente da proposta por Jardim (eleição directa em 19 de Dezembro de 2014, congresso em 10 de Janeiro de 2015). 

Sem direito a voto, enquanto membro da comissão política, não teve de se confrontar com o chefe quando o conselho foi chamado a corroborar pelo voto as datas propostas. Em suma, mesmo sabendo ir contra o desejo de Jardim, Miguel de Sousa disse o que tinha a dizer. Disse-o e ficou dito.

Digamos que o futuro candidato se encontra numa encruzilhada, sem necessidade de fazer diferente do que fez Galileu Galilei.

Da sua parte, Miguel Albuquerque não dá indícios de ceder. Vai teimar a sério na questão do congresso mais cedo. Sem parecer muito preocupado com as consequências. Tem mostrado inclusivamente que chegar a líder não é um caso de vida ou de morte. Pelo menos é o que se depreende quando ele avisa: se tornarem a fazer batota no processo de eleição interna, pura e simplesmente recusa-se a ir a votos, e então "ele (Jardim) que fique com o partido".   

Se de facto quer evitar a vitória de Albuquerque, Jardim tem à sua frente várias formas de o conseguir. Mas atenção que, internamente, muitos jardinistas criticam, como sempre, as ameaças do chefe. Põem em dúvida quem é que está a desestabilizar o quê.

Será que Miguel Albuquerque consegue virar o bico ao prego, transmitindo a Jardim o rótulo de agitador e desestabilizador? Não é preciso muito. Basta registar as posições públicas diárias do chefe, contextualizá-las num plano de aniquilamento do partido, porque de facto assim é, e depois entregar queixa fundamentada ao conselho de jurisdição.

'Deputado do Alberto João' arrasa os Ramos

Não percebe quem não quiser o papel de ressabiado assumido nos últimos tempos por Jardim, como franco pistoleiro de alvos múltiplos.

O seu apoio a José Pedro Pereira é um bom exemplo. Ainda esta terça-feira, em pleno parlamento, o deputado independente a quem Jardim pediu que não saísse de militante do partido chamou "cangalheiros do PSD" a Jaime Ernesto Ramos e ao filho Jaime Filipe Ramos. 

Ora, Jardim já deixou escorregar que Zé Pedro deixou de ser deputado do PSD para ser... deputado do Alberto João. 

Sérgio Marques continua indisponível para querelas autofágicas.

A guerra a sério no PSD está para começar. No final, o vencedor, é só um palpite, será a Oposição. O que satisfará plenamente os delfins e o mentor do Laranjal. Os que chegarem ao sprint final e os que não chegarem.

Isso a menos que arranjem maneira, nem que seja com ajuda dos capacetes azuis, de esquecer o mais recente argumento bélico, a que Sérgio Marques chama "querela estatutária". Na qual recusa participar. E faz bem, se quiser fugir ao suicídio colectivo.

E se Miguel Albuquerque não quiser seguir os conselhos dos especialistas em estatutos com quem falámos...